A preocupação com os jovens que navegam sozinhos na Internet levou as Nações Unidas a divulgar hoje uma lista de recomendações para protecção das crianças online. Paralelamente foi revelado um estudo de um grupo de investigadores em Taiwan que diz que os mais pequenos têm mais probabilidade de ficarem viciados na Internet.

As recomendações, destinadas aos políticos e indústrias do sector, pais e educadores e às próprias crianças, foram apresentadas pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), um organismo das Nações Unidas, no âmbito da feira de telecomunicações que decorre em Genebra, na Suíça.

A lista vai poder ser consultada na Internet e será actualizada anualmente, para acompanhar as alterações verificadas no sector.

A UIT pede aos jovens que tenham cuidado nos seus encontros virtuais e que filtrem bem os convites que recebem. Segundo um relatório de Setembro das Nações Unidas, haverá mais de 750 mil predadores sexuais permanentemente online.

"É preciso fazer com que as crianças compreendam que aquilo que elas vêem não é aquilo que parece", explicou a propósito Dieter Carstensen, um responsável da organização Save The Children, citado pela Lusa.

No mesmo sentido vão as declarações da directora da organização Child Helpline International, que presta ajuda telefónica a jovens de 160 países: "para muitos jovens há uma linha ténue, ou não há linha nenhuma, entre o mundo real e o mundo virtual", afirma Nenita Larose.

A UIT estima que o número de pessoas que acede à Internet tenha passado dos 200 milhões em 1998 para 1,5 mil milhões em 2009. A democratização do acesso à Internet leva a que cada vez mais crianças, e cada vez mais novas, naveguem na Internet.

Os especialistas pedem acompanhamento e supervisão para evitar dissabores, mas pode não ser suficiente quando - como mostra a análise realizada no Hospital Médico Universitário Kaohsiung, em Taiwan - as crianças já tiverem propensão para desenvolver determinado tipo de comportamentos compulsivos mais frequentes em pessoas mais novas.

O grupo de investigadores liderado pelo psicólogo Chih-Hung Ko monitorizou, durante dois anos, a utilização da Internet por 2.300 crianças de 11 anos. De seis em seis meses era pedido aos participantes que preenchessem um formulário, onde indicavam o número de horas que passavam online.

Segundo a pesquisa, publicada na revista Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, os jovens que apresentem sintomas como défice de atenção e hiperactividade correm um risco 72 por cento superior à média de desenvolver uma obsessão pela Internet. Aqueles que apresentam sentimentos de hostilidade apresentam um aumento na ordem dos 62 por cento do risco de desenvolverem comportamentos aditivos.

A depressão e a fobia social também são características comuns nos jovens que potenciam o risco de ficarem "viciados" na rede, sendo estes traços mais comuns entre as raparigas.