Perto do final do ano de 2002 o balanço geral é francamente negativo. A difícil situação económica, embora ainda não em recessão técnica, abalou fortemente o sector das Tecnologias da Informação e da Comunicação prolongando por 2002 resultados negativos que se esperava estarem confinados a 2001.




Os movimentos de concentração e fusão, além da procura de um modelo de negócio mais sustentável acabaram por aplicar ao mercado de tecnologias regras de economia pura e dura depois de anos de crescimento contínuo. Neste cenário os desenvolvimentos tecnológicos foram tímidos, assim como a aceitação de inovações por parte das empresas e individuais.



Como é já tradicional, o TeK faz o balanço dos principais acontecimentos do ano de 2002, apontando histórias e marcos importantes para o desenvolvimento das TICs, sem qualquer ordem especial. Relembre connosco alguns dos destaques noticiosos do ano …



Novo Governo muda estrutura para Sociedade da Informação
A demissão do XIV Governo ainda em finais de 2001 e a mudança de ciclo que se seguiu com a tomada de posse do Governo de coligação entre o PSD e o PP em Abril gerou um "marasmo" de decisões na área da sociedade da Informação que se prolongou quase até ao final do ano.

Embora o Governo socialista se tivesse emprenhado em aprovar uma série de diplomas e realizar acordos nas semanas antes do final do mandado, muitas destas iniciativas acabaram por ficar sem efeito com a nova dinâmica pensada para esta área.

Extinguindo o Ministério da Ciência e Tecnologia e criando o Ministério da Ciência e Ensino Superior, o Governo de Durão Barroso privilegiou a separação das competências relacionadas com a Sociedade da Informação e a sua colocação na dependência directa do primeiro-ministro. Porém, a unidade de gestão operacional desta área - UMIC - só viria a ser criada em Outubro e a primeira reunião da Comissão Interministerial aconteceria apenas em meados de Dezembro de 2002.

Alinhadas ficaram muitas iniciativas para a Sociedade da Informação, mas a sua concretização foi adiada para 2003.

Anacom substitui ICP e actualiza funções de regulação
Logo no primeiro mês do ano, o regulador do mercado nacional das telecomunicações e correios mudou de designação de actualizou funções. Com o novo nome de Anacom - Autoridade Nacional de Comunicações, foi também afectado pela mudança governamental em termos de mudança de administração, com a tomada de posse da nova equipa a acontecer apenas em Julho, prolongando quase por um ano um mandato de Luís Nazaré.

As dificuldades que atravessam as empresas desta área e os movimentos de fusão dificultaram bastante o trabalho do regulador cujo presidente confessou mais para o final do ano não possuir instrumentos suficientes para impor as normas e as suas posições. Uma situação que era já clara para o mercado que acompanha a lenta abertura do lacete local e a "novela" da interligação da operadora de comunicações móveis OniWay às redes das suas concorrentes.

Para os próximos anos, e com a Portugal Telecom a deter a propriedade da rede pública, não se adivinham melhores condições de regulação.



OniWay, a operadora que não chegou a ser
O difícil processo de interligação da sua rede com a Vodafone e Optimus pode ter ditado a "morte" da OniWay. Impossibilitada de prestar serviços GPRS, um recurso ao qual a empresa se agarrou depois do adiamento do UMTS por um ano, a compra dos activos da empresa que recebeu a quarta licença de terceira geração por parte das suas concorrentes no mercado móvel foi uma solução menos penalizadora para os maiores accionistas mas talvez menos feliz para o mercado, como avisam muitos analistas.

Porém, mesmo este processo de encerramento não é pacífico e depois dos accionistas internacionais terem mostrado a sua oposição ao negócio surge no final do ano uma ordem de tribunal que pode impedir a venda dos activos da OniWay enquanto os interesses dos lojistas que tinham acordos com a operadora não forem satisfeitos.

UMTS e TvDT - Tecnologias adiadas
Um ano de adiamento do UMTS não parece ser suficiente para enfrentar o atraso da estabilização da tecnologia e da falta de terminais. Um pouco por todo o mundo os operadores protelam investimentos e atrasam o lançamento comercial de serviços de terceira geração.

O mesmo poderá acontecer em Portugal, avançando a data de lançamento comercial definida para os operadores até 31 de Dezembro de 2003 por recomendação da Anacom. A entidade reguladora responde assim a pedidos dos operadores e de auscultar o mercado.

A verdade é que, depois de a tecnologia de terceira geração móvel ter sido apresentada como maior fonte de rendimento para os operadores móveis, estudos mais recentes têm vindo a desmistificar este facto, adiantando a Forrester Research que só em 2014 a maioria poderá obter lucro nestas operações.

Também o início da Televisão Digital Terrestre previsto para 31 de Agosto deste ano foi anulado depois de um parecer da Anacom ter recomendado o adiamento por seis meses, determinando como nova data o mês de Fevereiro de 2003. Autorizado pelo Ministro da Económica, este protelamento da TVDT obedece igualmente a lógicas de estabilização da tecnologia, mas também de investimentos.


Operadoras reforçam aposta em GPRS e MMS

Com o inevitável adiamento do UMTS e a perda de brilho das promessas de rentabilidade, os operadores móveis viraram os seus esforços para o GPRS, a chamada tecnologia de segunda geração e meia. A funcionar sobre GSM mas garantindo ligações de dados a maior velocidade e always on, o GPRS poderá começar a garantir aos utilizadores alguns dos serviços chamados de terceira geração - como partilha de imagens, vídeo e acesso a dados enquanto revitaliza as receitas médias por utilizador, ainda muito dependentes das chamadas de voz.

O MMS, ou Multimédia Messaging Service, é um desses serviços, oferecendo mensagens ricas com imagem animada e som. Em Portugal os serviços foram lançados em Maio com a Vodafone a conseguir antecipar-se às suas rivais TMN e Optimus mas por uma vantagem curta.

Entretanto a Japonesa NTT DoCoMo estabeleceu uma série de parcerias na Europa para o lançamento da tecnologia i-mode que já está a mostrar-se bem sucedida na Bélgica e Holanda. Já em Novembro a Vodafone internacional lançou um serviço concorrente, o Vodafone live!, apresentado em Portugal em simultâneo com mais sete países europeus.

Banda larga transforma-se em prioridade principal

Também com maior exigência de velocidade e conteúdos mais ricos, o acesso à Internet tem vindo a crescer em Portugal, embora de forma mais lenta e liderado pelo aumento das ligações em banda larga. Com a chamada Internet gratuita ainda a liderar as conexões por dial-up, o crescimento de acessos pagos por cabo ou tecnologia DSL está a acentuar-se.


A prioridade para a banda larga foi definida em termos Europeus e também como estratégia do novo governo para a Sociedade da Informação. Denominado Iniciativa Nacional para a Banda Larga, este plano pretende levar estas ligações a todos em boas condições e com "preços razoáveis".

A par com iniciativas governamentais, que devem concretizar-se apenas em 2003, os operadores de telecomunicações têm vindo a reforçar a sua aposta na tecnologia DSL, embora as ligações através de cabo liderem ainda em número de clientes. Desde Julho deste ano, quando a Portugal Telecom e a OniTelecom relançaram as suas ofertas ADSL com pacotes especialmente dirigidos aos utilizadores individuais a 512 Kbps com pacotes de auto-instalação e mensalidades que rondam os 35 euros.

Em Setembro outros operadores entraram na corrida o que gerou uma guerra de preços nos kits de instalação, que teve o seu culminar já em Dezembro com pacotes a preço zero do Clix e da PT nas aquisições online.

Conteúdos cada vez mais fechados

A par com a oferta de banda larga, mas também em acessos dial-up, a tendência para fechar conteúdos continuou a acentuar-se em 2002, com os operadores e produtores de conteúdos a tentarem rentabilizar os seus investimentos. Apesar de algumas tentativas para cobrar por acesso a informação e lazer, a tendência que imperou em Portugal foi a limitação de acesso e a sua restrição aos clientes de ligações Internet.

Quem deu o primeiro passo foi o IOL da Media Capital que fechou os conteúdos a todos os utilizadores de outros ISP entre as 20 horas da noite e as 8 da manhã. Um pouco por arrasto, outras experiências se seguiram, sendo que as ligações em banda larga têm favorecido estas iniciativas e mesmo o Clix - que mantém todo o portal aberto - acabou por optar por limitar acessos aos conteúdos de banda larga.

Já no mês de Dezembro a PTM.com anunciou também um acordo com os três principais clubes de Futebol para venda de kits de ligação ADSL aos quais se somam conteúdos exclusivos publicados nos sites do Futebol Clube do Porto, Sporting e Benfica.


Mobilidade domina como tendência principal

Em 2002 foi ainda mais evidente a crescente evolução para tecnologias de mobilidade, com as vendas dos computadores portáteis e PDAs a ocuparem maior peso na comercialização de dispositivos de computação e as redes Wi-Fi a assumirem maior dinâmica. A aposta que os maiores fabricantes de informática e comunicações estão a fazer nesta tecnologia de redes wireless permite adivinhar-lhe um futuro risonho como substituto das redes cabladas mas também como complemento das redes móveis GPRS e 3G.

Da parte dos dispositivos móveis as duas principais novidades foram apresentadas pela mão da Microsoft, os Smartphones e os Tablet PCs. Os primeiros poderão ainda trazer algumas dores de cabeça à gigante de software, sobretudo depois da britânica Sendo ter rompido a parceria que mantinham e processado a empresa de Bill Gates, mas existe potencial para transformar os telemóveis em complementos dos computadores de secretária ou portáteis.

Os Tablet PC acabaram por ser apresentados na Comdex depois de terem sido prometidos por Bill Gates na edição do ano anterior. Estes bloco de notas digitais pretendem mudar a forma como trabalhamos e acedemos à informação ao permitir o reconhecimento de escrita, dispensando o teclado, e privilegiando ligações de rede sem fios.

De resto, em termos de hardware não se assistiu a grandes novidades, com os processadores a continuarem a prevista evolução em termos de velocidade e a Intel a ultrapassar aos 3 GHz com o Pentium 4 em Novembro.

Linux ganha força mas Wintel continua a liderar

Cada vez mais fácil de utilizar, o Linux tem vindo a ganhar adeptos entre utilizadores empresariais e individuais, mas ainda está longe de ultrapassar o poderio da plataforma Wintel. Relatórios governamentais de vários países apelam à utilização de software livre como forma de reduzir custos com aplicações e sistemas operativos, mas um recente estudo da IDC concluiu que afinal o Linux tem um custo de propriedade (TCO - Total Cost of Ownership) mais elevado.

Sem grandes novidades em 2002, a área de software foi novamente atingida com vários problemas de segurança que provocaram vulnerabilidades nas aplicações e vírus, que mais uma vez se contaram entre as principais ameaças aos utilizadores.


Grandes negócios apesar da situação económica
Finalmente, o ano de 2002 assistiu à concretização de alguns grandes negócios. Depois de um namoro atribulado, a HP conseguiu finalmente comprar a Compaq, iniciando as actividades juntas em Maio. Também em termos internacionais a IBM adquiriu a PWC Consulting a preço de "saldo", reforçando as suas competências na área de serviços de tecnologias. Também a Microsoft foi "às compras" e juntou à sua divisão de Business Software a Navision, especializada em aplicações de gestão de negócio para PMEs.

Em Portugal o grande negócio de 2002 foi certamente a venda pelo Governo da rede pública de telecomunicações à Portugal Telecom, que detinha a concessão. Esta decisão respondeu aos desejos da PT e ao mesmo tempo permitiu a Durão Barroso enfrentar mais facilmente o deficit das contas públicas.



Depois desta "revista do ano" ficamos à espera da retoma para 2003, com o anúncio de novas possibilidades de desenvolvimento de áreas como a banda larga e o eGovernment e também de tecnologias mais inteligentes, que possam melhorar a qualidade de vida e produtividade para todos. Além de trazer grandes notícias, claro.



Desejamos um Bom Ano de 2003 a todos os leitores do TeK!