Apesar de ser muito referido, o protocolo IPv6 ainda não alcançou na prática a tarefa de que foi encarregado na sua criação, isto é, substituir a actual versão 4 do protocolo IP que está na base da Internet, tal como a conhecemos.



Para despertar a atenção para as vantagens e o panorama actual, a Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN) e a Cisco Systems, uma das maiores fabricantes mundiais de routers, organizaram hoje de manhã (21 de Maio), uma conferência sobre o IPv6. Tendo como âmbito "A Situação Actual e Perspectivas de Evolução", a conferência teve lugar no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).



Justificando o atraso na criação de endereços baseados no novo protocolo, Pedro Veiga, director da FCCN, começou por afirmar que "há cinco anos esperava-se que o IPv6 já se tivesse generalizado à maioria das máquinas", o que não veio a acontecer, dado que "o IPv4 revelou uma capacidade de regeneração que nos surpreendeu". Mas, este responsável acredita que este ano será um momento de viragem para a generalização do protocolo.



Na verdade, para a maior parte da comunidade académica e tecnológica, "não se trata já de uma questão de 'se', mas 'quando'". É o caso de Simon Pollard, gestor de marketing de produtos que não tem dúvidas de que os endereços de IPv4 se vão esgotar. Solucionar estes problemas de crescimento da Rede das redes é o principal objectivo do grupo de trabalho para o IPv6 criado pela Internet Engineering Task Force.



Para Pollard, este aumento explosivo dos endereços IP deve-se à massificação dos dispositivos electrónicos ligados à Internet. A demonstrar a exiguidade do espaço disponível para endereços estão estes dados: a quarta versão do protocolo IP foi desenvolvida em 1981; em 1990 estava já ocupado um oitavo dos endereços totais; em 2000, calcula-se que o número de endereços livres fosse apenas de metade.



Mas, além dos aparelhos com ligação à Internet - como os PDAs, telemóveis, consolas de jogos, frigoríficos - Patrick Grossetete, gestor de produtos de IPv6 da Cisco, aponta também como razões para a escassez de endereços o crescimento da utilização da Internet, incluindo países como a China e a Índia, com grande densidade populacional; o surgimento em massa de aplicações que exigem uma ligação permanente ou que dependem mais da Internet, como os jogos online e os serviços Peer to Peer de partilha de ficheiros como o Morpheus e o Gnutella.



Neste momento, como explicou Pedro Lorga Marques, também da FCCN, grande parte dos serviços e aplicações em IPv4 também já funciona em IPv6, "mesmo ao nível dos sistemas operativos". Segundo os seus dados, existem em todo o mundo 313 prefixos na rede IPv6 e mais de 100 mil prefixos IPv4.



Há cerca de dois meses, referiu ainda Pedro Veiga, a FCCN assinou um protocolo com a Rede de Pesquisa Nacional (RNP) do Brasil, que contou com a participação da Portugal Telecom e da operadora brasileira Embratel no sentido de implementar um circuito de 2 Megabits.



Neste momento, a ligação "Cantino", entre a Rede Ciência, Tecnologia e Sociedade (RCTS) e a RNP, só funciona em IPv4, mas segundo Pedro Lorga Marques, vai começar a funcionar no próximo mês em protocolo IPv6. Quanto ao DNS, sistema de resolução e atribuição de endereços, Lorga Marques afirma: "Esperamos ter um serviço completo deste tipo em IPv6 dentro de pouco tempo. Neste momento, já há um root server de DNS em IPv6".



No ano passado, segundo Pedro Veiga, a FCCN "desafiou os fornecedores nacionais de acesso à Internet a utilizarem o IPv6 através da Gigapix", uma plataforma para troca de tráfego IP entre redes que utilizem este protocolo. A nível europeu, estas tecnologia tem vindo também a ser foco de alguma atenção, nomeadamente no plano de acção eEurope 2000, aprovado em Santa Maria da Feira, acrescentou.



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Nota da redacção (23-05-2002): Foram corrigidos neste artigo dados incorrectos, nomeadamente a referência a um "route server" e não a um "root server" e ao número de prefixos existentes em IPv6 e IPv4.

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