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A próxima CeBIT vai reunir cerca de 6.350 expositores de mais de 70 países, num espaço que totalizará 312.500 metros quadrados, valores ligeiramente acima dos registados na edição deste ano, que marcou o regresso da feira internacional aos crescimentos efectivos, depois de algumas edições em que foi menos fácil manter a amplitude que estava habituada a oferecer, reflectindo a conjuntura económica internacional.



Reinhold Umminger, director da CeBIT, falou ao TeK das dificuldades sentidas nos últimos anos e dos planos de futuro para aquela que é na actualidade a maior feira mundial na área das tecnologias da informação. O responsável, que respondeu a algumas questões por email, mostra-se optimista e parece considerar que o pior já passou.



TeK: Foi difícil organizar a feira nestes últimos anos face à conjuntura económica mundial? Que dificuldades encontraram?

Reinhold Umminger:
A tendência negativa do sector das TIC devia-se, por um lado, à desaceleração da economia mundial e, por outro lado, também ao temor ao terrorismo e à SARS e à consequente diminuição do tráfego aéreo. Os distúrbios ocorridos no Médio Oriente também tiveram repercussões desvantajosas sobre esta evolução. Em 2001, a taxa de crescimento caiu do valor máximo em 2000, de quase 13%, para apenas 2,8%; em 2002, até desceu a 0,7% e, em 2003, tornou apenas a subir a 1,4%. Assim, a situação conjuntural também se repercutiu de forma negativa na CeBIT, revestindo a forma de números decrescentes de expositores e visitantes.


Porém, o facto de a CeBIT ter superado, praticamente sem prejuízos, a recessão económica dos últimos anos, é uma prova tanto da força interior e da dinâmica desta Feira, como da confiança nela depositada pelas empresas que lideram o sector das TIC.


Entretanto, começa a desenhar-se uma tendência positiva e vimos sinais nítidos apontando para taxas de crescimento positivas no mercado das TIC. Este facto tornou-se particularmente relevante na CeBIT de 2005. Nesse ano, esta feira mobilizou meio milhão de visitantes, bem como mais de 10.000 representantes dos meios de comunicação acreditados. Mais de 128 mil visitantes provinham do estrangeiro. E como a COMDEX já deixou de ter lugar nos Estados Unidos, tal como a Feira ITU "Telecom World" em Genebra, ou inclusivamente na Europa, o número dos nossos visitantes recomeçou a aumentar. Neste momento a CeBIT é a única feira internacional da indústria das telecomunicações na Europa.


Em comparação com as 14 maiores feiras do sector das TIC, a CeBIT situa-se, de longe, na liderança do grupo, com uma área líquida de exposição de 308 mil metros quadrados. O número dois neste mercado é a Consumer Electronics Show (CES), a qual tem lugar todos os anos em Janeiro, em Las Vegas, que de qualquer modo não representa um verdadeiro desafio, uma vez que não chega nem a metade da CeBIT no que respeita a expositores, visitantes e área de exposição contratada, e concentra o seu programa de exposição apenas no domínio da electrónica de lazer.




TeK:Considerando que a CeBIT pode servir como um factor de avaliação do "estado de saúde" do mercado das TIC, a partir de que momento podemos falar de uma recuperação do sector? A CeBIT 2005 reflectiu alguma retoma ou isso só acontecerá em 2006?

R.U.:
Se olharmos para o mercado internacional das TIC, a Europa irá provavelmente registar uma taxa de crescimento de três por cento em 2005 e 2006. Nos Estados Unidos, o crescimento será ainda maior, com uma taxa de quatro e 4,2 por cento no mesmo período de tempo, ao passo que se prevêem taxas de 2,1 por cento e 1,8 por cento para o Japão. Em contrapartida, os restantes mercados registam, em média, uma taxa de crescimento de 7,2 por cento, o que se deve sobretudo à forte expansão do mercado das tecnologias na China.


O mercado europeu seguirá a tendência para o resto do mundo. Na União Europeia, os produtos da área das TIC alcançarão um volume de negócios no valor de 614 mil milhões de euros durante este ano. Este sector será responsável por 44 por cento deste valor (o que equivale a menos três por cento do que a respectiva quota do mercado mundial). Temos portanto uma quota de 56 por cento (mais 3% do que a quota do mercado mundial) na área das telecomunicações.


Tendo em vista as expectativas positivas para 2006, podemos ser muito optimistas em relação à CeBIT. É certo que a nova fase de recuperação do sector das TIC não voltará a registar taxas de crescimento superiores a 10 por cento, como aconteceu durante o boom da segunda metade dos anos noventa. Mas, com base numa multiplicidade de novas tecnologias e aplicações, surgirão numerosas oportunidades que impulsionarão o crescimento neste e no próximo ano, como a passagem do GSM para 3G, o aumento do número de ligações de banda larga e sem fios, com um simultâneo aproveitamento das novas possibilidades oferecidas pelas vias de transmissão por TV digital interactiva (TVDI), cabo, satélite ou transmissão terrestre, a VoIP e a TV via protocolo Internet (TVPI), o Wi-Fi e o WIMAX.




TeK: Que expectativas tem para a próxima CeBIT?

R.U.:
A avaliar pela presente situação, para o próximo ano contamos com a presença de 6.350 expositores (2005: 6.246) de 71 países (2005: 69). Entre estes expositores, 3.330 serão de origem estrangeira. A área líquida da exposição será de 312 mil metros quadrados (2005: 308.000), dos quais mais de 88 mil metros quadrados (2005: 87.000) serão directamente reservados a partir do estrangeiro.


Esta evolução positiva não surpreende, porque a CeBIT oferece todas as vertentes do mundo digital: desde software, sistemas empresariais, soluções de comunicação, até ao digital lifestyle. O mundo da nossa vida privada e o do trabalho vão confluindo, junto e dentro do computador. E é exactamente isto que nos mostra a CeBIT. Assim, esta feira leva em conta a crescente convergência dos mercados, porque as técnicas da informação e da comunicação irão confundir-se tanto com a electrónica do lazer como também com a telemática do tráfego e a logística.
Há muito que os smartphones deixaram de ser um mero entretém - passaram a ser aproveitados profissionalmente e já invadiram os escritórios dos quadros superiores das empresas. Também há muito que a telemática e os sistemas de navegação deixaram de ser exclusivamente utilizados nos meios de transporte - agora ajudam-nos a encontrar o nosso restaurante preferido. Quem se interessa pela tecnologia do futuro, não pode deixar de visitar a CeBIT.



TeK: Quais serão as áreas de destaque e porquê as escolhas?

R.U.:
Soluções adaptadas à necessidades dos clientes - é este o lema que poderá resumir o desenvolvimento da CeBIT nos próximos anos. A tónica colocar-se-á nos novos produtos de software, os quais passarão a unir sectores do mercado, antigamente separados. Em 2006, a CeBIT apresentará um programa abrangente de soluções digitais para os mais diferentes mercados verticais.



TeK: O custo de participação impede muitas empresas de marcar presença na CeBIT para mostrar os seus produtos. Este ano a organização criou o pacote Newcomer Special. Como está a ser recebida esta oferta? Já têm muitas inscrições ao abrigo da mesma? O valor da mesma não continua a ser elevado para a maior parte das organizações de menor dimensão?

R.U.:
Em comparação com os preços internacionais, os preços para os expositores na CeBIT não se situam no segmento mais elevado, mas para incentivar, em especial, as pequenas e médias empresas a expor pela primeira vez na CeBIT, a Deutsche Messe AG organizou este interessante pacote de oferta para a CebIT 2006.


A oferta Newcomer Special é um pacote completo constituído por um standde 15m2 - que inclui mobiliário -, bem como por serviços incluindo, por exemplo, a limpeza diária, a remoção do lixo, as ligações eléctricas e amplos serviços de marketing. Este pacote inclui ainda diversos meios publicitários gratuitos para enviar a visitantes, inscrições no catálogo da feira e nos meios electrónicos, com informações sobre a firma e ainda sobre três grupos de produtos. Além disso, o pacote completo compreende 4 cartões de identificação de expositor, bem como 300 cartões de visita de um dia para convidados. E tudo isto ao preço de 4.490 euros.


Os novos clientes efectuam a sua encomenda, simples e comodamente, através de um formulário disponível através da Internet e a Deutsche Messe AG organiza a participação da empresa na feira. Assim, não só se simplifica o trabalho de organização, mas também se minimizam os encargos financeiros destas empresas.


Embora tenha sido lançada há pouco tempo, temos alguns interessados em processo de decisão sobre a Newcomer Special. Segundo a nossa experiência, uma oferta exige sempre um certo período de arranque até se conseguir implantar. No entanto, partimos do princípio de que esta oferta atractiva convencerá, em particular, as pequenas e médias empresas a expor, pela primeira vez, no maior ponto de encontro do Networking TIC do mundo.




TeK: Apesar deste novo pacote implicar um esforço de investimento menor, muitas empresas, e nomeadamente as portuguesas, parecem continuar pouco interessadas em participar na feira com stand próprio, preferindo fazê-lo com os seus parceiros. Acha que é uma boa opção para a relação custo-benefício ou aconselharia à participação individual?

R.U.:
Não podemos emitir uma recomendação geral quanto à participação individual ou num stand colectivo. Consoante a sua gama de produtos, os grupos de clientes visados ou a sua posição competitiva, cada empresa deverá tomar a sua própria decisão, quanto à melhor maneira da sua empresa estar presente nesta feira.




TeK: Em todos estes anos de organização da feira que balanço faz? Há alguma edição que queira destacar?

R.U.:
Há 20 anos que todos aqueles que oferecem e aplicam os produtos do sector da informação e telecomunicações se encontram, durante a Primavera, em Hanover, na CeBIT. No entanto, a imagem da CeBIT mudou muito estes últimos dois anos. Já não são apenas os produtos da tecnologia da informação e comunicação que se encontram em primeiro plano, mas também as soluções, a sua implementação e aproveitamento e, também, a rede internacional de transmissão dos conhecimentos, porque a CeBIT é mais do que uma simples mostra de produtos: informa sobre o status quo do seu ramo, aponta para novas perspectivas, oferece formação contínua e contactos com clientes potenciais. Nos respectivos stands da feira, cerca de 60.000 peritos, algumas centenas de conferencistas em fóruns e reuniões sobre temas específicos, bem como numerosas delegações de todos os continentes convertem a CeBIT na maior bolsa de contactos do mundo, na área das TIC.
Os primeiros indícios desta evolução puderam ser detectados, pela primeira vez, na CeBIT 2004. A feira passou a indicar-nos o caminho para o mundo digital e forneceu-nos uma perspectiva mais completa de quase todas as tecnologias e soluções possíveis, hoje e no futuro.


Toda a nossa vida pessoal e profissional está a transformar-se com a conjugação em diferentes tecnologias. A ligação à Internet, os telemóveis, os PDAs e as câmaras digitais, por exemplo, são utilizados tanto a nível profissional como privado. Tudo isto modificou também a gama de produtos da CeBIT. As consolas de jogos e o software para o download de música, há poucos anos ainda considerados como "brincadeiras", pertencem, hoje em dia, ao programa de ofertas de uma grande feira de tecnologias. Entretanto, estes produtos representam um enorme potencial de mercado, sendo, ao mesmo tempo, precursores tecnológicos para numerosos desenvolvimentos posteriores no sector dos negócios.


A CeBIT foi e continua a ser a plataforma para a apresentação da totalidade das soluções do mundo do trabalho e da vida privada, cada vez mais confluentes. Alcançou esta sua posição única pelo facto de ter permanentemente reagido de forma flexível à mudança dos mercados, tendo portanto sempre sido um factor de impulsão.



Patricia Calé