A Microsoft apresentou esta semana ao Governo português a iniciativa Open Government Data, lançada em Janeiro, que pretende ajudar entidades governamentais a disponibilizar, de forma aberta, o acesso a bases de dados de informação pública, que possam servir de base ao desenvolvimento de serviços de valor acrescentado para os cidadãos.

Francesca di Massimo, responsável pela segurança e interoperabilidade na Microsoft, na Europa Ocidental, explica ao TeK as opções da empresa por código aberto e pela oferta de serviços, uma estratégia que faz com que muitos players do mercado se mostrem cépticos.

Mas para além das opções técnicas e estratégicas, Francesca di Massimo responde também ao TeK sobre a forma como o potencial de abertura de dados públicos pode ser aproveitado para dinamizar a economia e o que se está a fazer noutros países, dando também pistas sobre a sua confiança de que em Portugal os desenvolvimentos vão acontecer em breve.

[caption]Francesca di Massimo[/caption]

TeK - Qual é o principal objectivo da Microsoft com esta iniciativa do Open Government Data (OGDI) e como pode beneficiar Governos e cidadãos?
Francesca di Massimo -
Com o OGDI a Microsoft pretende permitir aos governos a abertura dos dados de repositórios heterogéneos e torná-los disponíveis num espectro flexível de serviços de governo electrónico. Com o Open Data os utilizadores podem aceder a dados de sistemas não Microsoft.

De forma similar, sistemas que correm outras plataformas podem aceder agora a dados alojados em sistemas da Microsoft de uma forma eficiente. Por isso a Microsoft tornou o acesso aberto aos dados parte da sua estratégia de interoperabilidade e abertura.
Esta iniciativa é parte de uma transformação mais vasta na Microsoft. A Microsoft mudou como empresa e tornou-se mais aberta. e esta abertura está baseada em três grandes pilares:

  • 1 - Trabalhamos bem com outros - isto é um facto real porque a Microsoft é membro formal de 150 organizações de definição de standards e mais de 350 grupos de trabalho. Também por causa do que a Microsoft fez e da sua participação em organizações Open Source em todo o mundo. No ano passado participámos com mais de 40 contribuições Open Source.
    O OGDI é só mais um exemplo. Continuamos a investir fortemente na integração, não apenas para ter a Microsoft a trabalhar com Linux, porque estamos a investir para ter PHP e outras aplicações Open Source a correr com alta performance na plataforma Windows.
  • 2 - Ouvimos os clientes - por causa disso queremos continuar a construir novas e excitantes soluções que combinam a tecnologia Microsoft e não-Microsoft de forma fácil e eficiente. Sabemos o quão importante isto é, especialmente para a administração pública, porque um dos seus compromissos é fornecer aos cidadãos a qualidade de serviço que promova a inovação do país. A OGDI é um exemplo do que fazemos para ajudar outros a atingir o seu potencial.
  • 3 - Somos abertos na nuvem - Enquanto fazemos esta enorme transição para o cloud computing, fazemo-lo de uma forma aberta. Os programadores que trabalham em Java, PHP, Ruby ou outras ferramentas Open Source podem continuar a trabalhar com essas ferramentas e garantir o potencial total na plataforma de cloud da Microsoft. A iniciativa que agora apresentamos é um grande exemplo da abertura da Microsoft na cloud.


TeK - Não é habitual a Microsoft implementar estratégias baseadas em código aberto. Porque estão a usar APIs abertas nesta iniciativa?
F.d.M.:
Com o Codeplex (www.codeplex.com) a Microsoft já oferece há vários anos um projecto de alojamento open source. O código open source permite a um maior ecossistema não apenas implementá-lo, mas também melhorá-lo. Os requisitos básicos para abrir a plataforma a um número maior de potenciais utilizadores é oferecer APIs abertas que permitam aos programadores aceder à informação a partir das ferramentas de desenvolvimento e linguagens mais comuns. Isso garante um acesso não discriminatório à informação.

TeK - O que ganham os governos com esta iniciativa? É apenas uma questão de reduzir o tempo de implementação e o custo?
F.d.M.:
Reduzir o time to market e o custo são vantagens importantes que a plataforma cloud e os aceleradores de reutilização podem fornecer, mas também acrescentaria uma maior agilidade e eficiência e a escalabilidade do serviço. Mas o objectivo crucial que os Governos podem atingir ao aderir à iniciativa Open Data é utilizarem o potencial da informação pública ao permitir a criação de um ecossistema que possa reutilizar os dados e oferecer um serviço melhor e de valor acrescentado aos cidadãos. Nesta perspectiva o Open Data ajuda os governos a concretizar uma peça importante do Governo Aberto.

TeK - Disse que esta iniciativa pode ser positiva para todo o ecossistema, referindo uma estimativa de 27 mil milhões de euros para a utilização de dados governamentais. Quem pode aceder a esta iniciativa? Está limitada a parceiros da Microsoft?
F.d.M.:
Esta iniciativa é aberta para toda a gente e foi desenhada para estar de acordo com os princípios que a directiva PSI [a directiva de reutilização de dados públicos] define. O acesso à informação deve ser não discriminatório e não exclusivo, o que significa que as oportunidades ligadas aos dados públicos devem ser iguais para todos. O objectivo é cumprido com os fundamentos abertos da iniciativa: código open source do toolkit, APIs abertas e formatos standard dos dados (ATOM/XML, JSON...)

TeK - Que tipo de dados acredita que os governos estão disponíveis para partilhar de forma aberta? Acredita que a maior parte das entidades governamentais vai garantir acesso aos dados gratuitamente ou cobrar alguma taxa?
F.d.M. -
Todo o tipo de dados que deve ser público está listado na directiva PSI (dados geográficos, ambientais, estatísticos...), mas o que temos visto é que os governos estão dispostos a partilhar ainda mais dados, porque percebem os benefícios que isso pode trazer.
A maioria dos dados será publicada gratuitamente, mas as agências governamentais irão tirar certamente vantagem, no futuro, de cobrar pela reutilização de alguns dados que já forneçam com valor acrescentado. E em alguns países isso já está a acontecer.

TeK - Pode referir alguns exemplos dentro do OGDI que já estejam implementados em alguns países?
F.d.M. :
Posso referir vários:



TeK - Quando podemos ver desenvolvimentos em Portugal?

F.d.M. - O Governo português está a abordar a visão de dados abertos de forma muito pragmática. Tenho bastante certeza de que os desenvolvimentos nesta área vão acontecer em breve.

Fátima Caçador

Nota da Redacção: Foi corrigida uma pequena troca de letras na sigla ATOM.