As novidades do SAPPHIRE, que se realizou na semana passada em Madrid, centraram-se sobretudo na inovação mas também na agregação de valor e na capacidade da SAP criar mais valor para os seus clientes. O maior evento da empresa alemã de software levou mais de 9 mil pessoas à capital espanhola para conhecer a estratégia de produtos e ver “em direto” a aplicação prática de alguns anúncios recentes.

Aproveitando a presença no evento o TeK falou com o diretor geral da subsidiária portuguesa para perceber o impacto dos anúncios a nível local e a estratégia da empresa para o mercado nacional.

TeK: Quais são, na sua perspetiva, os principais anúncios do SAPPHIRE e qual o impacto para os clientes portugueses da SAP?

Paulo Carvalho:
O que se passou aqui é muito relevante e também muito relevante para os parceiros portugueses. Prova disso é que temos mais de 150 pessoas de Portugal a assistir a este fórum, entre clientes e parceiros. E não é todos os dias que conseguimos ter uma audiência que vem propositadamente e se dedica durante dois dias a ouvir o que a SAP tem para mostrar.
Há três anos seria quase impossível pensar que a SAP estaria onde está hoje na posição de trazer desafios para o negócio para os clientes, e esse foi o grande tema para o SAPPHIRE, embora não haja um tema formal.

E eu penso que a SAP apresentou de forma concreta como a inovação se pode transformar em valor. Esse desafio, na situação de algumas regiões, é ainda mais premente. Hoje em dia vivemos num período difícil, todos temos de estar conscientes, todos fazemos parte do problema mas todos temos de apresentar soluções. E eu acredito que a inovação é parte da solução: tem o papel de inovar para gerir melhor, mas também um driver para o negócio e trazer novas oportunidades de negócio



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TeK: E é possível melhorar onde?

Paulo Carvalho:
Sabemos que é possível melhorar em alguns sectores. Sabemos todos isso e todos os dias somos inundados de notícias sobre áreas onde pode haver melhorias. A atenção está mais centrada no sector empresarial do Estado, nas empresas públicas do Estado, na Administração Pública Central e Local, mas a verdade é que mesmo nas empresas privadas ainda há espaço para também otimizar e racionalizar.

Uma das áreas onde está a haver grandes novidades é a do retalho, e tive oportunidade de falar com vários clientes sobre isso. A forma como as empresas se relacionam com os clientes pode mudar radicalmente com tecnologias como o HANA, o cloud e in-memory. Hoje é possível fazer campanhas dedicadas a um cliente, um indivíduo, em tempo real, e isso seria impensável sem esta tecnologia. É possível ter campanhas de marketing one to one, usando a informação que os clientes deixam nos cartões de fidelização, na Internet e no Facebooks.

E estamos a usar apenas o exemplo de uma indústria, que tem impacto noutras áreas, porque geram desafios para outras indústrias, há que adaptar toda a cadeia logística e por isso a forma como se gerem esses negócios também vai mudar. E a SAP está a desafiar os seus clientes para essa mudança.

Em Portugal acreditamos que essa mudança pode ajudar empresas que tenham expandido os seus negócios para fora de Portugal a competir melhor, e há muitas empresas que estão a fazê-lo bem e há empresas que têm grande sucesso for ade Portugal e sustentam muito do seu negócio a nível internacional. Mas também pode ajudar as empresas que estão em Portugal a encontrarem formas diferentes de fazerem negócio no mercado interno e estarem aptas a concorrerem com outros players internacionais.

TeK: E a nível financeiro qual é o impacto esperado? No final do primeiro semestre tinha revelado expectativas positivas. Mantêm-se com a atual conjuntura económica?
Paulo Carvalho:
Nós mantemos uma perspetiva realista e positiva. E esperamos ter condições de crescer. Não estamos neste momento ainda em condições de fazer um balanço final, mas o que lhe posso confirmar é que o que se passou até aqui representa um crescimento de negócio e esperamos no que nos falta fazer continuar a cumprir o nosso plano.
E grande parte do que estamos a fazer nos nossos clientes está muito orientado a estas áreas novas, de gestão de informação, de soluções de indústria. Muito do nosso crescimento não vem da oferta tradicional do ERP, embora tenhamos um foco muito grande em garantir a evolução do core e por isso a SAP acaba de garantir a extensão do suporte até 2020, o que é um sinal de confiança muito grande para os nossos clientes, e acabámos de lançar um Enhancement Pack com mais de 120 funcionalidades e não é um upgrade disruptivo, podendo o cliente ativar o que faz sentido para o seu negócio.

Esta foi uma grande mudança para os nossos clientes, porque este upgrade não é disruptivo.

TeK: Quais são as razões que justificam que a SAP esteja a crescer de forma tão significativa nesta conjuntura económica?

Paulo Carvalho:
Esta é uma pergunta recorrente de jornalistas mas também de clientes e parceiros: como é que a SAP está a crescer de forma tão expressiva e apresentou resultados de 32% de crescimento no último trimestre, havendo países a mais do que duplicarem a faturação este ano. Isso só é possível pela aposta clara que a SAP fez na inovação, com um roadmap de produtos e tecnologia bem definido, e o que mostrámos neste SAPPHIRE foi a tradução em valor dessa inovação, com casos em clientes no espaço de menos de um ano, com nomes muito importantes.

TeK: Essa não disrupção que referiu foi uma das mensagens importantes no SAPPHIRE. Gostava de perceber como é que isso impacta no negócio da SAP. Ao incluir mais produtos nos pacotes de manutenção limita a capacidade da empresa de vender novas soluções e gerar novas receitas, motivando os clientes para novos investimentos…

Paulo Carvalho:
A área de suporte da SAP é muito importante para os nossos clientes porque garante um nível de serviço que é fundamental para os seus negócios. Ajudamos muitos clientes a suportar os seus processos de negócio crítico em temos procurado apoiar os nossos clientes, também em Portugal, para que o valor do que lhes é entregue seja entendido e utilizar, mas o que procuramos com os nossos clientes é através da consolidação de aplicações, redução da complexidade e standartização das infraestruturas associadas às aplicações, reduzir custos de exploração e isso temos feito com muito sucesso.

Conseguirmos que um cliente nosso liberte valor para investir na inovação é muito importante e vamos procurar fazê-lo.

TeK: A própria tecnologia HANA é apresentada como de grande valor para o negócio, sendo também apresentada como não disruptiva, mas as empresas têm de fazer novos investimentos. E o que vai acontecer aos datawarehouses e aos investimentos já feitos que agora se tornam desnecessários – ou menos necessários?

Paulo Carvalho:
Somos uma empresa e estamos aqui para fazer negócio. O investimento nos datawarehouses está feito e o que as empresas têm aqui são custos e um mau serviço. O que o HANA tenta fazer é simplificar a infraestrutura associada aos ambientes de IT – nós trazemos inovação não trancando o cliente em tecnologia proprietária-, abrir novas aplicações para o negócio não obrigando as empresas a limitar o acesso por problemas de estrangulamento. E por último há um aspeto muito relevante: a possibilidade de decidir em tempo real. Nos nossos negócios já não é aceitável esperar dias, às vezes horas, às vezes minutos, para aceder à informação de negócio. O que o HANA faz é trazer a informação relevante para o negócio em tempo real.

Do ponto de vista de investimento a nossa preocupação é conseguir mostrar aos clientes um retorno económico para a inovação. Inovação sem retorno não se justifica e hoje em cada cliente tentamos trabalhar temas como retorno do investimento, TCO dos vários projetos e temos pessoas na SAP que ajudam os clientes e parceiros neste trabalho.

TeK: Há já alguns clientes portugueses que possa referenciar em implementações de HANA?

Paulo Carvalho:
Não podemos ainda divulgar, mas no final deste ano espero ter condições de poder anunciar alguns clientes. Os clientes portugueses estão muito interessados, mas temos também algumas organizações que não são clientes SAP que estão interessados e a ouvir a SAP sobre este tema. Como sabe o HANA não implica que a fonte de informação esteja no SAP.

TeK: Uma última pergunta: No último IDC Directions um dos vice-presidentes da IDC colocou Portugal numa nova posição, fora do grupo dos países maduros e no topo dos emergentes, justificando com o facto de haver algumas indústrias muito avançadas mas um grosso de empresas que se mantêm muito longe de garantir as infraestruturas adequadas a nível de TI. A sua experiência em Portugal comprova esta visão?

Paulo Carvalho:
Não fazemos essa classificação e custa-me argumentar sobre um estudo do qual não conheço os fundamentos. Eu acho que Portugal tem, a nível do IT, organizações maduras, mas que não inovaram muito nos últimos anos e vão ter de o fazer, porque senão vão perder competitividade. E esse é um ponto-chave. Vimos acontecer isso noutros mercados.

É natural que em Portugal hoje exista uma dificuldade maior que tem a ver com o acesso ao financiamento, mas muitas empresas não terão alternativa se querem ser competitivas no seu mercado.

Eu não vejo Portugal como um país emergente num sentido lato, mas até concordo que nalgumas áreas existam algumas características parecidas, nomeadamente em algumas destas áreas. Por exemplo no tema da mobilidade, sendo verdade que temos uma das mais altas taxas de penetração de telemóveis e somo um dos países onde já se vendem mais smartphones do que telefones tradicionais, a mobilidade empresarial ainda está pouco presente e pouco explorada, mas que isso vai arrancar certamente não temos dúvidas.

E queria dizer só mais uma coisa: nós temos um compromisso de longo prazo com o país e achamos que temos uma responsabilidade acrescida porque temos uma base de clientes muito vasta em quase todos os sectores de atividade, ou em todos, e em todos os tipos de clientes. Sabemos que podemos aportar valor para os clientes numa situação que é difícil para o país. Vamos ter um desafio maior em conseguir concretizar alguns projetos, mas não vamos deixar de falar de inovação e de trazer inovação aos nossos clientes. Achamos que é a única forma de conseguir fazer uma coisa que é crescer. E se as empresas não crescerem a economia como um todo não crescerá e então não haverá solução para ninguém.

Fátima Caçador

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico