O escritório que hoje conhecemos deixará de existir no futuro. A evolução tecnológica dita as tendências e, dentro de 20 anos, três possíveis cenários surgirão: The Hive, The Eco-Office e Gattaca, diz o estudo Towards Tomorrow's Sustainable Workplace: Imagineering a Sustainable Workshop Future.

A primeira possibilidade reflecte uma sociedade com um crescimento económico acelerado, conduzido por avanços tecnológicos e desregulamentação. Os desastres mundiais conduzem à adopção de novas formas de trabalho e o escritório passa a ser substituído pela própria residência. O segundo caso assenta numa sociedade estável, com uma economia sustentável. Foca-se no progresso social e o local de trabalho deixa de estar cingido ao escritório. A mobilidade é a palavra de ordem e o trabalho pode ser feito em qualquer ambiente.

Por fim, Gattaca representa o declínio e um mundo fragmentado e inseguro resultante de uma economia estagnada e uma sociedade marcada pela separação racial. A hierarquia corporativa passa a ser mais proeminente e o espaço de trabalho passa a ser semelhante a uma linha de produção numa fábrica.

Nos dois primeiros casos as tecnologias que permitem a interacção entre os trabalhadores ganham destaque, entre as quais a videoconferência os serviços de instant messaging e as redes sociais empresariais, para além dos já bastante utilizados telemóveis.

Em Zurique, no âmbito do Mobility in Business, evento promovido pela Toshiba, o TeK falou com Marie Puybaraud, directora do Global WorkPlace Innovation, da Johnson Controls e uma das coordenadoras da análise acima mencionada, acerca do escritório do futuro e do seu impacto na sociedade.

Marie Puybaraud - Existem três cenários possíveis embora não seja de garantir que um deles prevaleça no futuro. Acredito que será uma combinação de cada um deles a caracterizar o espaço do futuro, no caso da Europa, uma mistura entre o Eco-Office e o The Hives. Contudo, existem elementos no Gattaca que têm de ser tidos em conta.

TeK - E como se processará essa realidade?

M.P. - Abraçaremos um trabalho flexível, onde a mobilidade seja importante e não exista a obrigatoriedade de os trabalhadores se deslocarem ao escritório […]. As pessoas sabem que têm um espaço físico onde se juntam e onde podem colaborar mas sabem que saem do escritório e entram no The Hives. No "escritório do futuro" existirá um pouco de tudo. Terá um ambiente seguro e fornecerá uma forma sustentável de trabalho - aqui insisto que a flexibilidade e mobilidade são importantes para a sustentabilidade. A visão perfeita para o futuro, embora possa mudar, será ver o local de trabalho que funciona como um hub, um espaço onde os colaboradores se encontram, reúnem e colaboram sabendo que podem levar o seu trabalho para casa.

TeK - E como reagem essas realidades no que toca à segurança da informação e dos trabalhadores no futuro, tendo em conta a mobilidade e a insegurança dos acessos móveis?

M.P - No que se refere às ameaças, o The Hives é o ambiente mais seguro. A casa do trabalhador é o ambiente mais seguro, é onde pertencemos. Podemos utilizar tecnologia transportável para levar o trabalho para casa, "levamos o escritório" na mala do laptop para casa. Mas sabemos que o Gattaca, no que o conceito representa, é o que temos de ter mais em conta por ser o ambiente menos seguro. É uma realidade instável, com maior número de ameaças e onde existe o ciberterrorismo. Mas, quem sabe, no futuro, em caso de furto, não poderemos apagar todos os conteúdos do computador remotamente? Já no caso das empresas, para as mantermos seguras contra o ciberterrorismo, teremos de manter os controlos nos acessos à Internet e bloqueios à rede. Ou seja, a segurança mantém-se como uma prioridade no Gattaca, o que acaba fazer desta realidade um ambiente semelhante ao que temos actualmente, onde não há grande evolução e onde os trabalhadores acabam por ficar presos a uma mesma rede. Será um ambiente um pouco redundante na Europa… é seguro mas não será muito fascinante. Por isso, o ideal seria mesmo o Eco-Office, que abraça mais o conceito de estabilidade, ao contrário do Gattaca.

TeK - E como se reflecte o espaço do futuro na saúde dos trabalhadores? O isolamento será um dos efeitos mais prováveis da nova realidade?

M.P - Os escritórios deixarão de ser um local onde as pessoas vão trabalhar e ficam sentadas das 9 horas da manhã às 17 horas da tarde, o que acaba por criar a necessidade de interagir e de colaborar uns com os outros. Isso leva-as de volta para um ambiente de trabalho […], um espaço de reunião, o que faz com que o escritório do futuro não seja apenas um espaço de trabalho mas um sítio para socializar e colaborar. Será uma espécie de local de discussão pública, como exista há séculos atrás quando as pessoas discutiam nas ruas os assuntos actuais. As pessoas estão ligadas emocionalmente ao ambiente de trabalho, também vão ao escritório para socializar e conversar, não é algo novo mas será mais proeminente. […] A tecnologia acabará por ser um escape e uma ferramenta importante, com as aplicações de video-conferência ou os telemóveis… porém, o isolamento existirá sempre presente na sociedade.

TeK - E não acaba por ser uma situação algo irónica? As ferramentas de comunicação estão disponíveis, o trabalhador está em contacto com o mundo mas na prática acabará por ser um ser isolado…

M.P. - Sim... não acredito que o problema do isolamento desapareça… mas acho que será muito difícil substituir a interacção humana através da tecnologia. Nem os hologramas ou as tecnologias de telepresença o poderão fazer. Não será o mundo perfeito, nem deverá satisfazer todas as pessoas, mas existirá quem se adapte, como aqueles que têm de viajar durante uma hora e meia para chegar ao trabalho. Mas há que ter em conta que trabalhar em casa sozinho poderá ser muito perigoso. Terá de ter em conta a flexibilidade, escolhendo quando vai ao escritório. Para o futuro nunca falo de trabalho virtual, mas sim de um trabalho flexível, algo mais amplo que tenha em conta a forma como as pessoas trabalham, o ambiente que escolhem, as tecnologias que as suportam… algo que permita conciliar o trabalho no escritório, em casa ou em movimento. O homem não é um trabalhador flexível por natureza. Tem de ser ensinado e de se adaptar a novas tendências.

Patrícia Barreiros