Embora com um "lastro" histórico trazido pelos dois fundadores, o estúdio Nerd Monkeys estreou-se recentemente no mercado português com um titulo onde são exploradas as personagens do Inspetor Zé e do Robot Palhaço, num cenário "retro" que recorre à técnica de "pixel art".

A experiência faz com que o investimento avance com cautelas redobradas, mas ajuda a traçar o potencial de desenvolvimento e rentabilização, que na opinião de Filipe Duarte Pina e Diogo Vasconcelos existe de forma mais clara no mundo dos jogos para PC/Mac e nas consolas, onde o mercado é mais controlado e estável.

A entrevista de hoje fecha um ciclo de uma semana em que o TeK dedica uma atenção especial ao sector dos videojogos e ao potencial latente que já se pode medir pelo surgimento de dezenas de novos estúdios e profissionais qualificados.

Para tomar o pulso ao mercado falámos com vários dos intervenientes e publicámos uma montra sobre quem dá cartas no mundo dos videojogos em português, a que se somam cinco curtas entrevistas a players do mundo dos jogos de consolas e telemóveis.

As quatro primeiras já estão online, com Miguel Vicente a explicar a visão da Microsoft, Ivan Barroso a dar uma perspectiva da evolução nos últimos anos. Do lado dos estúdios Ricardo Flores falou da experiência da Biodroid e a equipa da Bica Studios traçou os seus planos e falou da diferença entre as plataformas móveis e as consolas.

Hoje publicamos as respostas da equipa da Nerd monkeys que se estreia com o Crime no Hotel Lisboa.

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TeK:Já é possível fazer dinheiro com o desenvolvimento de jogos em Portugal? Como tem sido a vossa experiência?

Nerd Monkeys:
Já se faz dinheiro com os videojogos há muito tempo em Portugal. A nossa experiência tem sido uma de caução e investimentos contidos.
Ao invés de irmos à banca e começarmos com um projeto dispendioso e complexo, decidimos começar com calma e construir a empresa um passo de cada vez. Começámos com um jogo pequeno e simples de investimento controlado de forma a poder recrutar as melhores pessoas e construir uma equipa sólida e eficaz.
Ao mesmo tempo que investimos e produzimos os nossos títulos vamos também aceitando alguns trabalhos de clientes para equilibrar as contas, desta forma é possível ir alternando entre investir e receber investimento.
De notar que, na nossa opinião, a banca simplesmente não funciona.

TeK: Os jogos móveis contribuíram para facilitar o acesso a uma rede mundial onde se pode rentabilizar mais rapidamente o investimento ou as consolas continuam a “mandar”, sobretudo com a nova geração?

Nerd Monkeys:
A rentabilização eficaz dos investimentos continua a ser no PC/Mac e consolas. É preciso sempre ter em conta que apenas 0.1% ou menos dos criadores de videojogos para telemóveis e tablets conseguem gerar lucro que pague os seus investimentos e apenas 0.05% absorvem cerca de 90% de todo o dinheiro gasto em jogos nestes dispositivos.

Já em PC/Mac e consolas o mercado é mais controlado e estável, existem sempre vendas mesmo que pequenas e o negócio dos jogos "freemium" chegou mas não destabilizou as vendas no geral. Isto acontece porque as lojas digitais nestas máquinas são controladas e não é possível editar sem um mínimo de controlo e qualidade.

TeK: Parece-lhe que o governo deveria focalizar mais investimento para apoiar as empresas e startups que desenvolvem jogos e aplicações para ajudar a criar um cluster nesta área e massa crítica?

Nerd Monkeys:
Não. O governo devia apenas fazer o seu trabalho e nada mais. Se fizer bem o seu trabalho não há necessidade de ajudas extra ou benesses para esta área ou outra qualquer. Um negócio tem de vingar por si mesmo e não sobreviver à custa do estado. Uma das coisas que podiam fazer era criar algumas atividades novas nas finanças como Designer, Programador de videojogos ou Modelador 3D. É ridículo termos de declarar os nossos impostos procurando qual a profissão mais "perto" do que andamos a fazer. Podiam também ajudar a acabar com o selo do IGAC que é atualmente apenas mais um imposto sobre os outros impostos que já estão em prática.

TeK: E formação específica nesta área? Existe talento suficiente para esta massa crítica?

Nerd Monkeys:
A formação tem evoluído de forma fantástica. Nos últimos 3 anos apareceram muitos bons cursos especializados que se focam na programação no desig e arte. O contrário também aconteceu e algumas universidades e escolas privadas aproveitaram-se do chamariz de produzir videojogos e criaram cursos rápidos e "falsos" ao velhinho estilo do curso multimédia que dá para tudo mas não se aprende nada.

Infelizmente não existe ainda massa crítica, às vezes é difícil contratar pessoas especializadas pois rapidamente são absorvidas pelas poucas empresas que existem ou então vão lá para fora.


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Fátima Caçador