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O Windows XP está finalmente à venda nas lojas de todo o mundo - salvaguardando as diferenças horárias-, depois de o seu lançamento ter sido quase comprometido pelos críticos que acusam a Microsoft de tentar obter dados pessoais dos utilizadores através do serviço de autenticação Passport que já vem pré-integrado no software ou de tentar seduzir os consumidores para os seus outros serviços e programas que estão integrados neste novo Windows.



Mas ao mesmo tempo, o Windows XP também traz grandes novidades, quer para os utilizadores domésticos, quer para os clientes empresariais, a nível da fiabilidade, estabilidade e segurança. O TeK entrevistou Paulo Neves, gestor de produto na linha desktop da Microsoft para falar sobre esses pontos positivos e negativos da grande aposta da gigante de software.



TeK: Quais são as principais novidades que o Windows XP traz em relação às versões anteriores do sistema operativo da Microsoft?

Paulo Neves: Aqui podemos compará-lo com dois sistemas anteriores: por um lado, o Windows 2000, cujo sucessor é o Windows XP Professional; por outro lado, o Windows Millenium, cujo sucessor é o Windows XP Home Edition. Portanto, há comparações que são diferentes, porque os sistemas anteriores não eram iguais.


Mas, essencialmente, nós conseguimos, com o Windows XP, trazer tudo o que tem a
ver com a fiabilidade e segurança da linha NT para o lado dos consumidores e
melhorar esses aspectos em relação ao Windows 2000.


Por outro lado, procurámos também modificar o sistema de forma a que fosse mais
fácil de utilizar pelos utilizadores, nomeadamente, limpando o desktop e
tornando-o mais simples para qualquer tipo de utilizador, seja o iniciado, seja
o experiente.


Na óptica do utilizador não-profissional, tentámos também proporcionar-lhe
diversas experiências digitais completas – end-to-end -, em que ele pode
começar pela aquisição de uma imagem através de uma câmara digital e acaba com
a encomenda de um serviço de impressão dessa mesma imagem através da Internet,
para ter a fotografia em papel.



TeK: O sistema de activação de produto vai ser obrigatório para todos os
consumidores que adquirirem o Windows XP. Podia explicar como é que vai
funcionar?


PN: Este sistema de activação dos produtos Microsoft começou por ser testado com o Office 2000 em sete países durante dois anos. Depois foi implementado pela
primeira vez com o Office XP que saiu há poucos meses. Com o Windows XP, as
coisas passam-se de uma forma um pouco diferente nos tempos de validação que os
utilizadores dispõem.


Enquanto no Office XP, podíamos lançar 50 vezes as aplicações até ser
necessário efectuar a activação, no Windows XP são 30 dias que as pessoas têm
para fazer a activação, a partir da primeira instalação. O sistema vai-me
avisando que eu devo activar e quantos dias é que me faltam para activar. A
activação é obrigatória mas é anónima e não tem nada a ver com o registo, que é
opcional e não obrigatório, porque aí já envolve dados pessoais.



Com o Windows XP, se a activação for feita pela Internet, o utilizador perde
cerca de 10 segundos. Apenas tem que dizer que quer activar pela Internet, o
computador é ligado a uma centro de activação nos Estados Unidos, este vai
transmitir um installation ID que não identifica univocamente a pessoa ou a
máquina. Inclui apenas elementos que nos permitem saber se um determinado
conjunto de CDs está a ser utilizado para ser instalado numa segunda máquina.
Mas não contém quaisquer elementos de identificação pessoal.


Por outro lado, quando o utilizador escolhe a activação pela Internet, esse
installation ID é fornecido automaticamente, o utilizador insere o chamado confirmation ID e o sistema fica activado. No caso de ser por telefone, existe um número pan-europeu, que é o 00 800 22 84 82 83, e em que se pode contactar com operadores que falam português. Estes transmitem ao utilizador o installation ID e, por sua vez, o utilizador transmite o confirmation ID, tudo através do telefone. É mais sujeito a erros e mais demorado.


É evidente que nós não estamos a tentar evitar a falsificação com este tipo de
sistema. Estamos sim a tentar combater a pirataria ocasional, ou seja, aquela
situação do “empresta-me aí o CD para instalar no meu computador” e outras
semelhantes.


Se isso acontecer, se alguém emprestar o seu CD a outra pessoa, depois de já o
ter instalado e activado, quando essa pessoa tentar activar o sistema o que vai
acontecer é que se tentar pela Internet, vão-lhe pedir para activar através do
telefone. E quando contactar o centro de activação, o que lhe vão dizer é que
aquele CD já foi instalado noutra máquina, pedindo-lhe que explique essa
situação. Porque pode acontecer que o utilizador tenha desinstalado o Windows
XP da sua máquina antiga e instalado num computador novo. Nesse caso, é-lhe
dada uma nova chave de activação.



TeK: Os utilizadores domésticos podem adquirir licenças adicionais mediante o
pagamento de uma quantia extra?


PN: Não tenho conhecimento disso. Que eu saiba, a nível do consumidor doméstico não existe esse tipo de desconto de quantidade. Isto na maior parte dos países, as pessoas têm no máximo dois computadores. Geralmente, em relação aos
consumidores domésticos do Windows, quando se compra uma máquina nova, o sistema vem incluído.


Quando estamos a falar dos programas de licenciamento em volume, estamos a
falar no mínimo de quatro a cinco máquinas. Mas isso também depende dos
programas que estão instalados nesses computadores. Estes são licenciamentos
dedicados às empresas que têm desconto consoante a quantidade de compra. Para
isso, existem diversos programas de acordo com o que as pessoas querem comprar,
com a quantidade que querem comprar e com o seu método preferido de pagamento.


Por outro lado, há que explicar que este processo de activação do produto se refere a licenças individuais, a chamada embalagem que se compra nas lojas de retalho. Quando estamos a falar de empresas, estamos a falar de licenciamento em volume, sejam cinco ou 500 máquinas. Aí, as empresas não têm que activar 500 CDs.

Os contratos empresariais têm um media especial que é diferente do da venda a retalho e não tem a CD key. Portanto, para as empresas instalarem um media de volume ou vem já no contrato uma chave para aquele produto, ou então pedem através do centro de activação pedem a chave relativa àquele contrato. Essa chave permite-lhes instalar em todas as máquinas licenciadas.



TeK: Da informação que têm vindo a receber do exterior, acha que as empresas
estão dispostas a aderir ao Windows XP e a actualizar o seu sistema operativo?


PN: O feedback que eu recebo em relação a isso não é propriamente directo, pois eu não trabalho directamente com o mercado. Existem outras pessoas que trabalham directamente com os clientes. Mas sinto que, em geral, há uma
grande curiosidade em relação ao sistema, porque temos muitos pedidos em relação
a versões Beta, Release Candidates e mesmo de produtos finais, em termos de avaliação. Mas sinceramente, não posso dizer de uma forma taxativa se vão
existir muitas empresas a actualizarem.


Uma coisa que talvez ajude as empresas a avançarem para este sistema tem a ver
com a fiabilidade que podem obter. Há muitas organizações que continuam a
utilizar nas suas estações de trabalho o Windows 98 e até o Windows 95,
sistemas que em termos arquitecturais não podiam ir mais longe no sentido de
precaverem-se de um determinado tipo de falhas.


Portanto, aqui estamos a falar de uma oportunidade que as empresas podem
aproveitar que é a de fazerem a actualização para um sistema que lhes vai dar
muito mais garantias. Enquanto anteriormente, na altura em que saíram, ainda
poderíamos considerar o Windows 95 e 98 como utilizáveis a nível das empresas,
até porque também havia uma diferença de preços e de facilidade de utilização
em relação ao NT, hoje em dia isso não se passa. Já com o Windows 2000 isso não
se passava, mas como ainda tinhamos duas arquitecturas, as pessoas podiam
invocar que o outro precisava de menos memória.


Agora temos uma única arquitectura. Aliás, o Home Edition não vai estar
disponível através do licenciamento em volume, porque não é aplicável às
empresas. Faltam-lhe coisas importantes para o mercado empresarial mas que para
o utilizador individual não são. Estamos a falar de estações de trabalho, pois
o Windows XP não é destinado a servidores.



TeK: O Windows 2000 vai continuar a ser o sistema operativo de escolha da
Microsoft para os servidores?


PN: Sim, vai continuar até saírem no início da Primavera de 2002 as novas versões Windows .NET que irão substituir todas as versões Server saídas do Windows
2000. Vamos ter também uma nova edição especialmente dedicada às organizações
que não têm grandes recursos técnicos mas que querem ter presença na Internet.
Será uma espécie de Web Server. Esta será uma novidade absoluta que terá um
preço mais em conta.



TeK: Mas algumas empresas, em especial as portuguesas, ainda estão actualmente no meio de um processo de migração para o Windows 2000. E os custos dessa actualização, sobretudo com a actual recessão económica, são muito elevados para que elas voltem a actualizar tão cedo.

PN: Acho que vai depender muito da situação concreta de cada uma das empresas e também depende do que é que elas fizeram evoluir para o Windows 2000, se foi a nível de um servidor ou de uma estação de trabalho. Neste último caso, a
actualização seria mais simples do que nos servidores, o que implica já outro
tipo de coisas.


Se as empresas já instalaram o Windows 2000 Professional nas suas máquinas,
provavelmente poderão sentir menor necessidade de evoluir já para o Windows XP.
A diferença de funcionalidades é muito menor do que se se estiver a utilizar o
Windows 98. Mas em termos portugueses, principalmente, há muitas empresas que
não têm um sistema profissional nas estações de trabalho: têm o 98, o 95 e às
vezes até coisas mais antigas. Nesse caso, elas terão tudo a ganhar com este
novo sistema. O conjunto de funcionalidades que o Windows XP oferece vai ajudar
a que, no fim, as empresas tenham um retorno do investimento muito mais rápido
do que com os outros sistemas.



TeK: Considera que a actual depressão económica vai afectar a procura por parte
dos consumidores domésticos do Windows XP, uma vez que muitos podem achar que
já têm o suficiente para trabalhar com vídeo e multimédia?


PN: Sinceramente, acho que as pessoas não dispõem ainda dessas opções. Por exemplo, se formos comparar o Windows Video Maker que vem com o Windows Me e o que vem com o Windows XP Home Edition. As funcionalidades de base são as mesmas, mas se se tentar fazer a mesma tarefa num sistema e noutro, verifica-se que o comportamento do Windows XP é muito superior ao do Windows ME, em termos de facilidade de utilização e da não existência de problemas.


Eu penso que o conjunto de características e benefícios do Windows XP em ambas as edições será bastante apelativo para os utilizadores, mesmo aqueles que compraram há relativamente pouco tempo o Windows ME.



TeK: Porque é que o Windows XP aparece tão pouco tempo depois do Windows ME?

PN: O Windows Me foi mais uma versão intermédia, porque havia certo tipo de software que entretanto tinha surgido no mercado depois de sair a segunda edição do Windows 98, e para o qual esta não tinha um suporte adequado. Estamos a falar da possibilidade de ligar câmaras digitais e ferramentas de vídeo ao sistema, toda uma série de funcionalidades para a qual havia muita procura por parte dos consumidores.


O grande salto em relação ao Windows 98 do Windows Me foi a possibilidade de utilizar mais facilmente este tipo de dispositivos e com a manipulação digital da imagem. É evidente que as versões fundamentais do sistema operativo foi a do 95, a do 98 e agora a do Windows XP Home Edition. Eu diria até que o Windows XP é tão importante para a Microsoft como o foi na altura o Windows 95.



TeK: O sistema de activação do produto insere-se num combate realizado pela Microsoft contra a pirataria. Mas actualmente, estão disponíveis em sistemas online de partilha de ficheiros versões finais do Windows XP que podem ser instaladas sem ser necessário activá-las. Acha que isso poderá afectar as vendas do sistema operativo?

PN: Surgiu de facto na Internet uma versão do Windows XP sobre a qual se dizia que não era preciso activá-la. Essa era uma versão final do Windows XP que tinha uma chave de licenciamento em volume. Este tipo de chaves são identificáveis, mas não sabemos ainda de que empresa é que proveio. As empresas que estiverem na origem deste caso serão legalmente responsabilizadas.


Mas eu penso que, para aquele utilizador não-profissional que muitas vezes mal sabe navegar na Internet ou está a começar a dar os primeiros passos, mas que tem computador em casa não é propriamente o tipo de pessoa que anda a vasculhar os sites mais obscuros, preferindo ter máquinas que já vêm com o sistema operativo instalado ou pré-instalado e que vão permitir-lhe trabalhar desde logo.


Existiram, contudo, alguns utilizadores que irão utilizar esse sistema nas suas máquinas. Mas a partir daí, eles não têm mais saída nenhuma. Em termos do Windows Update, de forma a tentarem manter o seu sistema actualizado, não vão ser reconhecidos via Internet. Se tiverem algum problema também não terão direito a suporte técnico. Mas eu não penso que esse tipo de coisas vai influenciar muito as vendas do produto.



TeK: Um aspecto que tem sido criticado no Windows XP é a excessiva integração com os programas da Microsoft e, em especial, com os que garantem o acesso a serviços para a Web como o Passport, o MSN e o Windows Messenger. Qual é a sua opinião em relação a este assunto?

PN: A única diferença em relação ao que acontecia anteriormente com as outras versões do Windows, é que o Windows Messenger vem integrado no sistema operativo. Antes, o software de instant messaging teria que ser descarregado a partir de um site da MSN. Mas é evidente que nós não vamos obrigar as pessoas a utilizarem aquilo que vem no Windows. É apenas mais uma coisa que nós oferecemos aos utilizadores, se eles utilizarem qualquer outro programa de chat, poderão instalá-lo sem qualquer problema. Não penso que isso limite de algumas forma as possibilidades de escolha do utilizador.



TeK: Mas a Microsoft tem vindo a ser desde há alguns anos alvo de disputas legais nos Estados Unidos e na União Europeia em relação à integração do Windows Media Player e do Internet Explorer no Windows XP.

PN: Eu acho que isso são falsas questões. Por essa ordem de ideias, iríamos reduzir o sistema operativo ao kernel, ao núcleo de funcionalidades e tudo o resto - como o próprio explorador do Windows seriam coisas adicionais. Com a evolução do mercado e o crescimento da apetência das pessoas por mais funcionalidades, se nós não integrássemos aplicações como o Windows Media Player ao sistema, então os consumidores sentir-se-iam defraudados. Adicionar funcionalidades ao sistema operativo é uma prática que já vem desde o código de máquina.



TeK: Contudo, o problema que tem vindo a ser levantado nos tribunais é que a Microsoft só incorpora no sistema os seus programas e não os de outras empresas concorrentes.

PN: Mas qualquer fabricante de computadores que pré-instale o Windows XP nas suas máquinas tem toda a legitimidade, em termos de contrato, de inserir, por exemplo, o browser da AOL ou até de alterar o ambiente de trabalho para pôr o seu símbolo.



TeK: Em que ponto é que se insere o Windows XP na estratégia .NET da Microsoft para serviços Web?

PN: O Windows XP é a primeira plataforma que integra serviços Web, embora ainda numa fase precoce, pois abrange apenas o Passport e pouco mais. Mas será já uma plataforma preparada para suportar a linguagem XML e outras ferramentas necessárias para esses serviços, quando eles surgirem. Neste momento, ainda estamos numa fase de lançamento. Mas a estratégia .NET não se vai limitar à Microsoft, uma vez que foi concebida para ser uma iniciativa alargada a toda a indústria informática, pois os serviços Web são uma das maiores tendências actuais do mercado.



TeK: A nível da compatibilidade do hardware e software, tem-se afirmado que muitos componentes e programas não funcionam com o Windows XP. O que é que acha destas afirmações?

PN: Em relação ao Windows 2000, o XP suporta um leque muito mais alargado de dispositivos, embora não tantos como no caso do Windows 98, que será o termo de comparação mais adequado. Mas há que ver que este sistema exige mais do hardware para que tenha mais fiabilidade e segurança, de modo a que os utilizadores não tenham más experiências com aquilo que vão fazer.


Um aspecto dessa política é a possibilidade de controlar de muitas formas os drivers que instalamos, desde bloquear os que não estejam assinados por alguém que nós consideremos digno de confiança até apenas avisar-nos de que o driver não está assinado.


Em termos de compatibilidade com o software, ela é também muito maior na nova versão, em comparação com o Windows 2000. Não será tanto como no Windows 95 e 98, principalmente, nos programas que correm em MS-DOS. Mas se o Windows XP suportasse essas aplicações a sua estabilidade poderia ser colocada em risco. Contudo, o XP tem a possibilidade de gerar modos de compatibilidade para correr aplicações que, logo à partida, possam ter problemas com o ambiente XP nativo. Isso aumenta também o suporte com aplicações mais antigas.



TeK: Acha que os utilizadores, ao actualizarem o seu sistema para o Windows XP, poderão sentir-se motivados a renovar o seu hardware?

PN: Depende de há quanto tempo é que compraram o computador. A obsolescência do material informático é muito rápida, mas eu direi que se tiverem um sistema relativamente recente não serão levados a fazer qualquer modificação. Se se tratar de um sistema antigo, poderão fazer actualizações em componentes para tirarem mais partido do Windows XP, como por exemplo, placas gráficas e memórias. Mas mesmo em sistemas com dois anos, o Windows XP já corre razoavelmente.



Miguel Caetano