Acesso à informação nos sites dos candidatos à presidência da república não é para todos....

Por Carla Vieira Faria (*)

Ao longo dos últimos dois anos a equipa do portal ajudas.com conduziu várias avaliações a sites públicos e privados com a finalidade de verificar a conformidade da sua acessibilidade com as recomendações do consórcio W3C.

Perante a aproximação de mais um processo eleitoral foi realizada uma avaliação geral dos sites dos 6 Candidatos à Presidência da República tendo em conta a acessibilidade, a navegação, o acesso à informação e a organização geral das páginas. Estes aspectos, porque nos parecem ser os mais relevantes, foram os mais considerados para podermos perceber e conhecer os candidatos, o que defendem, o que dizem, o que pensam, como é dirigida a sua campanha e como o cidadão comum pode participar.

[caption]Carla Vieira Faria[/caption]Esta avaliação foi efectuada usando ferramentas de validação automática de acessibilidade Web, como normalmente acontece quando se fala destas questões, mas a equipa do portal ajudas.com teve o cuidado de proceder a uma segunda validação manual realizada por colaboradores com diferentes perfis de utilização das tecnologias de informação.

Este grupo incluía pessoas que recorrem a tecnologias de apoio para a utilização do seu computador e navegação na Internet, seja em casa ou no seu posto de trabalho.

Acessibilidade
Dos seis sites avaliados, apenas um consegue bons resultados embora seja perceptível que o cuidado colocado na página inicial não foi estendido com o mesmo rigor ao resto do site. Neste caso específico, continuam a existir páginas onde a acessibilidade geral é insatisfatória.

Muitas vezes páginas 'interiores' são as mais importantes pois permitem a comunicação, através de um formulário, com a equipa da campanha ou mesmo com o candidato. Não é dificultando o preenchimento de dados nem escondendo os contactos directos que se consegue obter comentários dos eleitores ou mesmo sensibilizar potenciais voluntários.

Por outro lado, os restantes 5 sites pecam por faltas básicas: Por exemplo:


  • a falta de legendas nas imagens (chega a aparecer um asterisco como descrição de várias imagens!);
  • a ausência de uma organização clara da informação em cada página;
  • a incapacidade de visualização com letra ampliada;
  • a navegação dificultada quando se recorre apenas ao teclado;
  • imposição de som imediato assim que o site é aberto que se sobrepõe e mistura com outras fontes sonoras (leitor de ecrã, leitor multimédia, outros sites, etc.).

Outra dificuldade sentida pela equipa Ajudas.com foi perceber exactamente as medidas e propostas concretas de cada candidato. Parece que na maior parte dos sites o importante é revelar imagens e informação da campanha, informações pessoais dos candidatos e escassos textos com algo concreto do que fariam se fossem eleitos.

Assim, a decisão passa pela empatia com o percurso da pessoa, pelas imagens e vídeos que decorreram da campanha e não pelo conhecimento da forma como vão assumir a presidência no caso de serem eleitos.

Mas uma coisa é certa: TODOS utilizam as redes sociais que aparecem como um dos principais recursos para a divulgação de informação. Pode estar na moda, mas o que muitos se voltam a esquecer é que nem todos acedem com a mesma facilidade à Internet e em Portugal ainda há um longo caminho a percorrer no que se refere à globalização e utilização das tais redes.

Organização das páginas e acesso à Informação
Hoje em dia temos cada vez mais de ter cuidado na objectividade de cada artigo ou texto que publicamos para que a mensagem seja perceptível.
Nos sites avaliados, três são francamente confusos. Existe excesso de informação espalhada numa só página ou pura e simplesmente não existe. Esta situação faz-nos andar à deriva no meio de muitas colunas, muitas imagens, muitos vídeos, muitas letrinhas....

Ficamos à procura do que interessa entre amálgamas de textos que não se encaixam, entre vídeos e imagens que se repetem e, por vezes, nem conseguimos encontrar um dos elementos mais importantes da candidatura: a agenda do candidato.

Um dos candidatos, por exemplo, tem um site com apenas 3 páginas que incluem textos extensos e pouco claros, enquanto as outras estão vazias. É preciso procurar noutros locais mais informação acerca da sua candidatura. O menu que dá acesso a essas páginas não se comporta como tal, já que o apontador de rato não muda para a forma tradicional (uma 'mãozinha') em certos browsers, e a divulgação da candidatura e campanha foi colocada no WordPress (onde de facto está mais completa a informação), redes sociais e no YouTube. A pergunta que se impõe é: 'para quê o site?'

Para finalizar deixo-lhe um desafio muito simples para que melhor entenda tudo isto.

Ressalvo que estas questões não dizem apenas respeito a questões de acessibilidade para pessoas com deficiência ou incapacidades (motoras, visuais ou cognitivas) mas a todos os que, por vezes, até num que equipamento móvel fazemos as nossas consultas na Internet.



  • 1- Abra um dos sites dos candidatos e navegue pela página usando apenas a tecla a TAB do seu teclado. Verifique se sabe sempre onde está posicionado e quanto tempo demora a percorrer toda a página.
  • 2- Na página inicial procure o acesso à página de contactos, à pesquisa e o mapa do site. Verifique se visualiza de imediato estes elementos em qualquer um dos sites.
  • 3- Aumente o tamanho da letra usada pelo browser e verifique como o site se comporta. Este ponto é importante para quem usa por defeito uma letra maior, por ter já dificuldades de visão, já que a maior parte dos sites recorre a um tamanho de letra demasiado pequeno. Se a consequência for o aparecimento de uma barra de scroll horizontal, já que a página deixou de caber no espaço disponível no ecrã, a navegação fica gravemente prejudicada.
  • 4 - Por último, e se ainda tem paciência, tente ver no seu equipamento móvel o que acontece quando acede a um dos 6 sites. A probabilidade de que corra bem num IPhone, por exemplo, é grande mas se tem um modelo de gama média o resultado é "uma enorme confusão". Delegar nos vídeos publicados no YouTube a responsabilidade de comunicar com potenciais eleitores é também um erro uma vez que a maioria dos telemóveis ainda não suporta conteúdos Flash embebidos nas páginas Web. Ou seja, não os consegue visualizar.


As questões de acessibilidade à informação publicada na Internet são apenas um dos obstáculos ao acto de exercer o direito de voto previsto na Constituição Portuguesa. Convido-o a conhecer os outros obstáculos através do movimento 'Quero Votar'.

(*) CEO da Handout, Lda
Artigo escrito em exclusivo para tek.sapo.pt

www.ajudas.com (projecto de Responsabilidade Social da Handout, Lda.)
www.querovotar.com

Nota: A autora optou por não incluir imagens dos sites nem referências directas aos candidatos.

Foi corrigido o link para o site Quero Votar.