Por Isaque Fernandes (*)
Hoje em dia, usar a internet é uma atividade normal para a maioria das pessoas no globo especialmente durante a pandemia que nos atingiu recentemente. No entanto, a compreensão geral do que é esse universo chamado “online”, e de como funciona, é pequena apesar dos investimentos de várias instituições na promoção da cibersegurança.

Não podemos garantir 100% de segurança, podemos é reduzir a insegurança dos sistemas
Sérgio Silva, Fundador da CyberS3c

Enquanto que alguns de nós estão cientes dos perigos que existem “online”, o sentimento que predomina muitas vezes é “Não me vai acontecer nada…”, o que é um dos fatores de risco para que algo realmente aconteça. Afinal de contas, no mundo real existem seguros para tudo e mais alguma coisa, não porque haja certeza da desgraça, mas por não se ter a certeza de nada. A falta de transição dessas cautelas do mundo real para o “online” é a dura realidade hoje em dia.

Outros tentam livrar-se da responsabilidade pessoal no que diz respeito ao “online” e preferem confiar no governo, nas empresas, nos fornecedores ou na escola, para protegê-los. No entanto, somos nós que fazemos pesquisas, downloads e partilhamos “online”, tornando inúteis as proteções dessas instituições nas quais confiamos a nossa vida “online”. Por muitas barreiras que existam entre nós e os “piratas”, de nada servem se formos nós a fornecer os dados sensíveis que eles tanto desejam. Fragmentos de informação podem ser agregados de vários sites de modo a formar uma imagem real de cada um, tornando-nos num possível alvo para ataques como, por exemplo, roubo de identidade.

O sentimento de invencibilidade é preocupante. Muitas pessoas não têm os critérios mínimos para criar palavras-passe ou para o que publicam nas redes sociais. Segundo um artigo publicado no Publico em 2019, uma auditoria de segurança realizada na Austrália em 2018 identificou mais de 1400 membros do governo que utilizavam a mesma palavra-passe de acesso aos postos de trabalho: “Password123”. A maioria dos analistas considerou que esta situação ocorre de forma generalizada em todo o mundo, inclusivamente em instâncias de elevada criticidade. Mais grave ainda, é a maior parte das instituições não ter planos de contingência e de resposta a incidentes, para garantir condições mínimas de operacionalidade.

Há limites para o que as instituições podem fazer para nos dar segurança “online” e, no final de contas, precisamos todos de assumir essa responsabilidade e procurarmos nos educar sobre como o utilizar.  A solução está na formação das pessoas.

“A segurança não se decreta nem se afirma, constrói-se”, referiu Mariana Vieira da Silva, Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa no Cyber Security Event de 2019, concluindo que “o fator humano é sempre o mais determinante no contexto da cibersegurança”.

As pessoas são os elementos fundamentais da sociedade e todas as suas instituições. A sociedade ensina aos seus cidadãos desde cedo que para terem segurança há um conjunto de regras a seguir, e é crucial que o mesmo se aplique ao “online” pois o digital veio para ficar e será certamente parte integral da vida de todos. A educação deve incluir ambos os mundos virtual e digital de modo a podermos salvaguardar a nossa vida, já que ambos estão ligados intrinsecamente.

Ter mais conhecimento na atualidade é cada vez mais fácil, basta abrir o Google e pesquisar que facilmente se encontra muita informação sobre como nos podemos proteger “online”. O próprio motor de busca tem páginas dedicadas à segurança “online”. Como tudo na vida, todos temos de ter a responsabilidade pessoal e o compromisso de aprender o que precisarmos para nos protegermos “online” e fazer disso um hábito. O progresso nunca foi tão rápido e o que serve para nos proteger hoje pode não servir amanhã.

É extremamente importante estarmos cientes do que partilhamos online e com quem o partilhamos. É bastante fácil a estranhos saberem a nossa vida apenas por ver o que partilhamos nas redes sociais. Não basta saber as regras de segurança, há que saber aplicá-las a tudo. As amizades fáceis nas redes sociais por vezes podem trazer riscos acrescidos se não compreendermos as regras e como aplicá-las.

Mais que assumirmos o compromisso de nos educarmos sobre cibersegurança, devemos assumir também o compromisso de educar o mundo à nossa volta, chamando à razão quem pensa ter superpoderes ao navegar “online” e ajudá-los a ter cuidados que lhes podem salvar a vida. Saber como nos defendermos “online” pode evitar roubos de identidade, financeiros, perdas de dados, e até mesmo situações no mundo real devido a informação obtida quer indevidamente, quer voluntariamente nas redes sociais.

Que valor damos à nossa própria segurança digital? Deixo aqui o desafio de cada um de nós responder à pergunta.

(*) Senior Consultant, ADENTIS