COBOL, mais vivo que nunca

Por Ricardo Montes (*)

Mudaria a sua casa de fortes paredes de pedra por outra construída com materiais pré-fabricados e pouco sólidos? Provavelmente não.

Assim pensa a vasta maioria dos Directores de TI quando lhes é colocada a opção de mudar as suas aplicações COBOL para outras consideradas mais modernas. A razão é muito simples: milhões de linhas de código COBOL sustentam o conhecimento, a experiência e os processos de negócio das principais empresas em todo o mundo. E a nova oferta o que traz? Que mais-valias existem para além dos elevados custos, da complexidade, dos riscos e da pouca robustez e fiabilidade das aplicações actuais?

[caption]Ricardo Montes[/caption]

Este é um paradigma que mais tarde ou mais cedo acabará ser solucionado. Não é lógico seguir em frente e evoluir renunciando o que de melhor existe no passado. Desde a evolução e a convivência entre diferentes linguagens, à migração ou à radical substituição, tudo é possível!

A questão é que diversas vezes são tomadas decisões criticas para o negócio, sem a consulta dos especialistas ideais, perdendo-se um conhecimento e uma experiência que são fundamentais para o futuro.

Hoje ninguém duvida que, aos 50 anos de vida, o COBOL tem uma elevada esperança média de vida. Mas evidentemente que a linguagem não é a mesma de aquando o seu nascimento.

A COmmon Business – Oriented Language, Linguagem Comum Orientada para os Negócios foi impulsionada pela comissão CODASYL. Constituída por fabricantes de computadores, utilizadores e pelo Departamento de Defesa dos E.U.A., tinha o objectivo de criar uma linguagem de programação universal que pudesse ser utilizada em qualquer computador que estivesse orientada , principalmente, para os negócios e decisões, a chamada informática de gestão.

O COBOL sempre se destacou pelas suas excelentes capacidades de auto-documentação, por uma boa gestão de arquivos e uma excelente gestão de tipos de dados para a sua época. Para facilitar a criação de programas em COBOL, a sintaxe do mesmo foi criada de forma a parecer-se com o inglês, evitando a utilização de símbolos que foram impostos em linguagens de programação posteriores.

Durante os últimos 50 anos nenhuma linguagem representou melhor a essência da informática que o COBOL. Disponível para a maioria das plataformas de programação, o COBOL é uma das linguagens de base com maior aceitação no mundo. Foi utilizado para todo o tipo de desenvolvimentos, desde a redacção de uma notificação a transacções fundamentais para a melhoria de pacotes de software. Apesar de estar instalado na maioria das plataformas empresariais, o COBOL hoje está “encurralado” tanto pelo desaparecimento de especialistas como pelo uso de outras linguagens de programação que estão na moda.

No início dos anos 80 o COBOL passou a ser considerado antiquado face aos novos paradigmas de programação e às linguagens que eram implementadas.

No final de 1985, foram-lhe incorporadas variáveis locais, recorrências, reserva de memória dinâmica e programação estruturada. No final de 2002, foi acrescentada a orientação por objectos, ainda que desde o final de 1974 se pudesse já criar um ambiente de trabalho semelhante à mesma.

O COBOL está em permanente evolução com a actual integração com a Internet. Existem vários compiladores que permitem utilizar o COBOL como linguagem de scripting e web service. Também existem compiladores que permitem gerar código COBOL para plataformas .NET e EJB.

Independentemente da crença que o COBOL está em desuso, a realidade é que quase todos os sistemas necessitam de grandes capacidades de processamos por lotes (Batch). Tanto as entidades bancárias, como as restantes grandes empresas com sistemas mainframe utilizam o COBOL. Uma circunstância que permite garantir a compatibilidade dos sistemas antigos com os mais modernos, além da segurança que se pode contar com uma linguagem perfeitamente estável e comprovada.

Com este passado apenas se pode pensar num futuro glorioso em que o COBOL continuará evoluindo e, sobretudo, levará o melhor de si mesmo para outras arquitecturas e plataformas. A formação de novos profissionais, a documentação de aplicações existentes que permitam a sua evolução futura e as alternativas de migração que oferece serão os próximos desafios. Venham eles, o COBOL sobreviverá.

(*)Marketing Manager Iberia da Micro Focus

Veja ainda um vídeo preparado pela Micro Focus que ilustra a utilização do Cobol no mundo.