Da mobilidade aos serviços móveis

Por Pedro Ivo Faria *

[caption]Pedro Ivo Faria[/caption]

Entre os diversos benefícios do programa e-escolas, a massificação do acesso à Internet através de redes móveis de banda larga ocupa um dos lugares cimeiros. A capacidade de se aceder a conteúdos online em qualquer lugar e a qualquer hora proporcionou-nos redes de telecomunicações mais robustas, ligações mais rápidas e tarifários mais ajustados. Estavam assim criadas as bases para o aparecimento de uma nova geração de serviços móveis mas na realidade o que até agora vingou foram mesmo as soluções de mobilidade.

A capacidade de levar o emprego ou a vida pessoal para qualquer lugar, e continuar a aceder aos mesmos serviços que tem ao dispor em casa ou no trabalho, é encarado hoje em dia como um sinónimo de liberdade e independência. Porém, carregar um laptop para todo o lado está longe de ser uma solução atraente e confortável, daí que grande parte destes serviços acaba por ser consumida a partir de telemóveis e Smartphones.

Nessa óptica, tem havido um esforço de adaptação de sites e conteúdos para que possam ser consultados facilmente a partir de dispositivos com ecrãs pequenos e capacidade de navegação limitada.
Mas a falta de um verdadeiro standard entre os browsers móveis e a incapacidade de se aproveitar o que o hardware destes dispositivos tem para oferecer, está a castrar as verdadeiras potencialidades desta geração de serviços. Ser capaz de cruzar a informação obtida a partir do terminal para filtrar a informação a extrair da Internet é a base dos futuros serviços móveis.

Num futuro próximo a localização do indivíduo, a sua informação pessoal e agenda diária serão os elementos básicos na moldagem de serviços móveis talhados à imagem do utilizador.
Questões de privacidade à parte, e estas certamente irão surgir, a forma mais eficiente de gerir o dia a dia pessoal e profissional é obter informação a partir do 'eu', algo que já se vem tentando na Internet 'normal', mas os constrangimentos colocados pelo facto de representarem um local e não uma pessoa não tem permitido grandes avanços.

Quem já se adiantou à concorrência foi a Palm e deu o exemplo de como as tecnologias e os serviços móveis nos podem auxiliar. O modelo mais recente tem a capacidade de gerir de uma forma autónoma um conjunto de informação e executar acções segundo parâmetros pré-determinados.

Ainda antes de sair de casa, este dispositivo aproveitou a rede wireless doméstica para descarregar mapas com a localização dos locais onde tem reuniões durante o dia e extraiu informação de sites como a Wikipédia acerca das empresas ou pessoas que irá visitar.
De uma forma automática terá na sua mão um conjunto de informação relevante que lhe custaria uma boa hora a obter manualmente. Durante o dia socorre-se do receptor GPS e de informações de trânsito extraídas da Internet para determinar se vai conseguir chegar a horas aos seus compromissos. E concluir que tal não será possível, então dá-lhe a possibilidade de enviar uma mensagem a avisar que chegará atrasado.

Este é ainda um exemplo pálido dos serviços que todos gostaríamos de ter, mas para que tal venha a ser uma realidade ainda há muito caminho para percorrer. Esta geração de serviços não se compadece com as estratégias baseadas em SMSs, MMSs ou WAP, que continuam a ser promovidas e publicitadas pelas operadoras móveis, ou de visões puramente Web.

Será a capacidade de combinar os inúmeros serviços online com a capacidade de processamento local dos terminais, os seus sensores, receptores e informação pessoal que permitirá passar de algo genérico e indiferenciado para um serviço concreto e ajustado.

Continua a faltar visão e audácia a quem concebe e implementa este género de soluções, que mesmo podendo ser aproveitadas em cenários de mobilidade nunca serão verdadeiros serviços móveis. E serão esses os que irão modificar a forma como vivemos … logo que estejam disponíveis.

Como se costuma dizer, é a teoria do 'good enough'. Se estivermos convencidos que aquilo que temos é bom e suficiente, o que não quer obrigatoriamente dizer que o seja, nunca estaremos preparados para dar um passo em frente e evoluir.

* Fundador do projecto www.pcdebolso.com