Por João Hormigo (*)

O mundo do trabalho não é mais passado atrás de uma secretária: o mundo mudou.
Na última década, a oferta de banda larga fixa e móvel por parte das operadoras de comunicações sofreu um crescimento exponencial, cujas consequências começam a ser evidenciadas no nosso quotidiano.

Assim, tudo no mundo real pode ser conectado a um dispositivo inteligente e existir na internet e, assim, ligar-se a todas as outras coisas que se ligam também a dispositivos, o que levou à criação do conceito de IoT (Internet of Things).

No entanto, é necessário que exista uma infraestrutura que suporte a IoT, pois a geração, recolha e transmissão de sinais obriga à existência de redes de comunicações, robustas, de alto débito, capazes de processamento e transmissão de elevado número de sinais. Entre essas redes figura a internet - e é aqui que entra o Facility Management. A IoT, assume, portanto, o papel de acelerador de inovação, com vasta aplicabilidade no mundo do Facility Management.

Como exemplos mais relevantes dessa aplicação ao FM, poder-se-ão sintetizar a instalação de dispositivos nos espaços interiores dos edifícios, para análise em tempo real, de parâmetros da qualidade do ar interior, possibilitando a atuação sobre os caudais de renovação de ar; a sensorização da iluminação nos espaços interiores dos edifícios, com atuação nos aparelhos de iluminação, para poupança de consumos de eletricidade;  a alteração do paradigma de manutenção das infraestruturas, evoluindo do tipo preventivo para preditivo ou detetivo, através da sensorização crescente dos equipamentos e de adoção de adequada plataforma de análise, transmissão e gestão de alarmística.

Ainda na área da manutenção, a utilização da realidade aumentada para verificação do estado de desempenho dos equipamentos, e registo em bases de dados das observações e intervenções realizadas são também bons exemplos de como o Facility Management se inclui num mundo cada vez mais 4.0.

A deteção de líquidos em data centres, e solos de fundação de edifícios (prevenção de colapso e corrosão), de ambientes perigosos (gases e radiação em ambiente industrial), o controlo remoto de eletrodomésticos, permitindo ligar e desligar aparelhagens e a monitorização do espaço interior, para incremento de segurança, podem também ser exemplos disso.

Apesar dos benefícios da utilização dos avanços tecnológicos disponíveis, resumidamente referidos, estima-se que em Portugal apenas cerca de 40% das organizações (médias e grandes empresas) desenvolvem soluções com base na IoT, enquanto na Europa Ocidental esse valor é estimado em 70 % e nos EUA em 90 %.

Há, portanto, um caminho de divulgação que as empresas de TI, que desenvolvem e comercializam produtos nesta área, deverão prosseguir afincadamente, para desmistificar a ideia arreigada, no mundo empresarial, que o custo de soluções de base IoT é muito elevado, não considerando realizar o salto tecnológico em domínios nos quais a avaliação da relação custo/benefício é claramente vantajosa.

(*) Vice-Presidente da APFM e Diretor de Instalações da EDP