Viver com a Tecnologia

Por Bruno Figueiredo*

[caption]Bruno Figueiredo[/caption]

De acordo com o Dr. James Bradburne, "tecnologia é tudo o que foi inventado depois de nascermos". Nós que assistimos à generalização do uso dos computadores, ao crescimento explosivo da Internet, à invenção do telemóvel, vemos tudo isto com os olhos de quem assistiu a um progresso fantástico porque nos recordamos do que eram as nossas vidas sem estas coisas. Os nossos filhos certamente tomarão tudo isto por garantido e serão apenas surpreendidos pelo que o futuro lhes reserva.

No entanto, algo de muito importante aconteceu na nossa geração. O uso de máquinas sempre foi pautado pela sua manipulação directa, mas pela primeira vez na nossa geração, as máquinas começaram a comunicar connosco. E começámos a carregá-las connosco para todo o lado. Passamos tanto tempo agarrados ao telemóvel, ao computador, ao leitor de mp3, que começámos a desenvolver uma relação quase pessoal com eles. Muitos de nós ao criarmos perfis de sincronização tivemos de atribuir um nome aos nossos dispositivos e esse nome passou a ilustrar essa relação pessoal.

Em certa medida, passámos a desenvolver uma relação de amizade com os nossos dispositivos tecnológicos e quando eles não se comportam como esperamos ou comunicam de forma críptica ficamos frustrados. As nossas relações com os objectos costumavam ser simples. Um berbequim por exemplo, ou funcionava ou não, não havia espaço para múltiplas interpretações. Mas quando um telemóvel não funciona, será um problema de rede? Terá bateria suficiente? Ainda tenho saldo? Estará avariado?

A multiplicidade de estados nos nossos dispositivos e a sua crescente complexidade levou a que até os objectos mais simples como por exemplo uma escova de dentes, tenham um sistema de informação associado. Surgiu recentemente no mercado uma escova com um ecrã externo auxiliar que comunica com ela sem fios e que dá instruções sobre as áreas a escovar e o tempo necessário para tal. Estaremos a ficar tão dependentes das instruções dos nossos objectos que já não sabemos como utilizar uma escova de dentes tradicional? Ou é apenas o irremediável avanço do progresso?

Os nossos objectos irão certamente ficar mais complexos e a nossa relação com eles também. É por isso cada vez mais importante estudar sua a interacção com os seus potenciais utilizadores nas primeiras fases de desenvolvimento. Muitas empresas foram já bastante prejudicadas quando a reacção dos utilizadores à chegada do produto ao mercado não foi positiva.

A introdução de estudos de usabilidade em todo o ciclo de desenvolvimento dos produtos assume assim uma importância cada vez maior, quer se trate de produtos de consumo, quer se trate de software. Tudo o que tenha um sistema de informação associado poderá ser beneficiado. Não só se está a reduzir o nível de frustração diária do utilizador e a aumentar o seu nível de produtividade, como se está também a reforçar a imagem da empresa e a sua posição no mercado.

* Consultor em Usabilidade e gerente da empresa Ideias & Imagens. Presidente da Associação Portuguesa de Profissionais de Usabilidade