Um estudo recente da IDC mostra que os fabricantes de telemóveis têm ainda um longo caminho a percorrer para melhorarem as suas políticas de reciclagem e produção de equipamentos mais ecológicos, rondando a taxa actual de reciclagem dos equipamentos os 10%.

Recorrendo a cinco critérios chave (embalagem, materiais, energia, política de fim de vida e esforços de sustentabilidade) a empresa criou um ranking dos 10 melhores, numa lista em que aparece nos cinco lugares de topo a Apple, LG, Nokia, Samsung e Sony Ericsson – aqui ordenados por ordem alfabética e não de acordo com a posição conquistada no ranking.

Em entrevista ao TeK, Stephen Drake, vice-presidente da área de mobilidade e Telecom da IDC, explica alguns dos princípios desta análise e comenta os esforços da indústria para a produção de equipamentos mais “verdes”, assim como a posição dos consumidores e dos operadores e agentes locais.

[caption] Stephen Drake - IDC[/caption]
TeK: O estudo recente da classificação dos fabricantes de telemóveis relativamente à reciclagem mostra uma melhoria na sensibilidade da indústria para esta questão?
Stephen Drake:
Sim. Não há dúvida de que uma quantidade impressionante de telemóveis que são distribuídos todos os anos (mais de mil milhões) reflectem um foco mais apurado na necessidade de endereçar a estratégia de sustentabilidade em todo o ciclo de vida do telefone.

TeK: Esta análise foca-se nas 10 melhores práticas – ou os 10 melhores fabricantes. Quem são eles e como conseguiram estas posições?
S.D.:
Analisámos os 10 fabricantes de telefones mais críticos da indústria. Tornámos público o nome dos cinco melhores desses 10 e a lista não obedece a uma ordem especial - LG, Samsung, Nokia, Sony Ericsson e Apple. Reservámos o ranking do top 10 para os nossos clientes.
Estes nomes são os líderes na área de telemóveis em todo o mundo. O que é interessante é que no caso da Samsung e LG, são grandes organizações que têm variações nos seus esforços ecológicos em diferentes linhas de produtos. A Samsung, por exemplo, foi criticada por vários grupos de pressão em algumas linhas de produtos, mas na divisão de telefones móveis tem sido a estrela brilhante da companhia, com fortes práticas verdes de mobilidade.

TeK: E quanto às piores práticas? Quem está nas piores posições do ranking?

S.D.:
Daqueles que estão no fundo da lista (e provavelmente consegue deduzir quem é que falta) não é tanto uma questão de que estas empresas têm más práticas, mas que estão apenas a equilibrar as suas estratégias de sustentabilidade. Por isso devem contratar executivos que se foquem na questão ecológica, produzindo relatórios de sustentabilidade e começando a endereçar componentes chave à volta de um programa de reciclagem, remoção de toxinas e redução das embalagens.

TeK: Os produtores de OEM (que fornecem para outras marcas) são menos competentes em fornecer credenciais verdes?

S.D. :
Não me parece. Penso que eles têm a capacidade. É só uma questão de prioridade. Se olhar para os rankings, o primeiro está focado na sustentabilidade há quase 10 anos, enquanto os mais atrasados ainda estão a desenhar as suas estratégias. Muito disto está também ligado ao volume. E a expectativa é de que os maiores produtores de equipamentos deviam estar no top 5, como acontece com a Nokia e a Samsung, mas, se reparar, a Sony Ericsson, por exemplo, é relativamente pequena mas continua a ter um excelente enfoque num portfólio verde em toda a linha de equipamentos.

TeK: Os números mostram que ainda estamos longe de uma política de reciclagem ideal por parte dos fabricantes. O que pode a indústria fazer para mudar esta situação?

S.D.:
O desafio da reciclagem reside numa série de questões. Ao contrário dos PCs, impressoras e outros equipamentos, os telemóveis não ocupam muito espaço em casa e no escritório. Pode ter facilmente 5 ou mais telefones guardados numa gaveta que isso não afecta a sua vida. Mas se tiver 5 ou mais PCs, monitores ou impressoras na sua casa ou no escritório isso iria definitivamente ocupar espaço suficiente para motivar uma acção sua para a reciclagem.

A sensibilização e a disponibilidade ainda questões a considerar. Muitas pessoas podem não saber ou não pensar em reciclar o seu equipamento. Ou mesmo que o quisessem poderia não ser conveniente ou simples para eles reciclarem-nos. Por isso as empresas estão a tentar sensibilizar os clientes. Só que são ainda pequenos passos.

Por exemplo em Janeiro deste ano a Samsung, fornecedor número um de telemóveis nos Estados Unidos, anunciou uma iniciativa para reciclar um milhão de telefones em 2010 através de várias campanhas, que incluem também equipamentos não Samsung. Embora seja um passo arrojado para a Samsung, isto representa menos do que 1% de todos os telemóveis nos Estados Unidos. A Samsung tem globalmente uma taxa mais elevada de reciclagem, demonstrando a sua força fora dos Estados Unidos.

As taxas de reciclagem são também afectadas por factores regionais e culturais. Em alguns países emergentes, os telemóveis são passados entre parentes e amigos durante muitos anos, o que afecta as taxas de reciclagem, enquanto que em países desenvolvidos os equipamentos são actualizados de forma mais rápida e deixam de ser usados.

Há que considerar ainda as reduções de custos, mas a ecologia nos telemóveis não é dinamizada pelas receitas. Muitos operadores estão a operar com perdas ou no break even devido aos esforços de sustentabilidade móvel. Isto é muito diferente do negócio de PCs. Por exemplo a IBM, que já nem sequer vende PCs, tem um programa de reciclagem de mais de mil milhões de PCs.

TeK: Considera que existe já uma pressão dos consumidores para produtos “verdes” ou os utilizadores ainda estão focados no preço e funcionalidades?

S.D.:
O preço e as funcionalidades são ainda os mais críticos, mas os consumidores estão a comprar cada vez mais com atenção aos esforços de sustentabilidade. E os fabricantes OEM sabem isso. Na compra de um equipamento com poucos factores de diferenciação, muitos consumidores podem escolher a empresa que esteja a dar passos mais activos na produção de equipamentos verde. Na realidade os telemóveis são produtos de consumo, por isso, tal como muitos consumidores procuram reciclar e comprar produtos mais verdes no seu dia a dia, também os telefones móveis serão tão importantes como outros produtos domésticos nas decisões de compra sustentáveis.

TeK: Como já disso, um dos problemas na indústria móvel é que muitos consumidores não reciclam os equipamentos antigos. Parece-lhe que as lojas locais e os operadores podem assumir um papel relevante para aumentar o número de aparelhos reciclados?

S.D.:
Absolutamente. Tal como disse, à medida que mais e mais contentores de reciclagem surgem para o consumo diário de plástico e latas de alumínio, também deverão existir retalhistas chave e outras lojas e locais públicos a oferecer locais para reciclar os equipamentos. Isso vai ajudar a aumentar a sensibilização.

Quanto aos operadores, estes estão muitas vezes mais avançados do que alguns fabricantes, até porque os OEMs por vezes confiam no operador para fazer a reciclagem. E actualmente recebemos muita informação promocional para reciclar. A Sprint nos Estados Unidos, por exemplo, foi mesmo mais longe com um dos seus modelos ecológicos. O novo telefone é vendido numa caixa, mas esta funciona como um sistema de devolução, onde o cliente pode colocar o seu antigo telefone e enviá-lo por correio, com os portes pagos, para a Sprint, que recicla o telefone e também a caixa.