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Os números de vendas de telemóveis da Nokia no primeiro trimestre do ano não foram muito favoráveis em alguns mercados, levando a fabricante finlandesa a reduzir a sua quota de mercado. Esta semana a empresa apresentou novos produtos destinados a enriquecer o seu portfólio e permitir a recuperação dos níveis de vendas anteriores.

Em Portugal a tendência de quebra não foi aparentemente sentida, e números apresentados pela filial da Nokia mostram até uma ligeira recuperação (Veja Notícia anterior Nokia Portugal estima aumento ligeiro de quota de mercado. Em entrevista ao TeK, Alessandro Mondini Branzi, director-geral da Nokia Portugal, explica a aposta da empresa no mercado português e fala também na estratégia de produto. Entre os temas relacionados com a oferta da Nokia esteve também a não existência da funcionalidade de videochamada nos telefones 3G da fabricante, mesmo no novo Nokia 6630 que chega ao mercado em Outubro e que será vendido com um acessório que permite a videoconferência quando o utilizador está num local fixo.

TeK: A Nokia está a perder quota de mercado internacionalmente. E em Portugal, está a acontecer o mesmo?
Alessandro Mondini Branzi:
Não, em Portugal não está a acontecer o mesmo. Temos números independentes que mostram que estamos até a recuperar ligeiramente quota de mercado em Portugal. É verdade que não há muitas fontes independentes de números, mas tínhamos até outros estudos que mostravam estarmos com uma melhor evolução do que os da consultora GFK.

Em termos internacionais a Nokia foi afectada por algumas situações muito específicas, que infelizmente para nós tiveram um impacto importante. Mas o que posso dizer é que tomámos conhecimento dessa tendência, e que agora conseguimos impedir essa perda de quota de mercado. Actualmente já não estamos a diminuir e em alguns países já estamos até a recuperar nas vendas. Acreditamos que no terceiro, e especialmente no quarto trimestre com os novos produtos que vão chegar ao mercado, vamos completar a nossa oferta e deixaremos de perder quota de mercado, recuperando até vendas.


TeK : Os números para Portugal mostram que a Nokia tem uma quota de mercado de quase cinquenta por cento, superior à de outros países. Quais as razões para estes valores?

A.M.B.:
Há outros países onde a Nokia tem quotas de mercado superiores a Portugal, como por exemplo na Irlanda onde a quota de mercado ronda os oitenta por cento. Na Alemanha também tínhamos uma quota de mercado superior à de Portugal, mas este ano foi um dos países onde tivemos mais problemas.

O mercado português é muito saudável. Portugal foi sempre um dos países onde a Nokia foi muito bem aceite e as razões são várias. Uma delas é o enfoque que a Nokia colocou no mercado português. A empresa não faz o mesmo investimento em todos os mercados e em Portugal foram distribuídos recursos importantes.
O que os nossos concorrentes fazem é colocar os recursos de acordo com a dimensão dos mercados e nesses casos Portugal é muitas vezes desfavorecido porque é um país pequeno. O que a Nokia faz, pelo contrário, é distribuir os recursos de acordo com o estádio de evolução do mercado e a sua importância estratégica. Portugal é muito importante porque sempre foi um mercado muito evoluído, o que se prova pela introdução do conceito de pré-pago, pela aceitação elevada do conceito de imaging.
Por estas razões a Nokia considera Portugal um mercado importante. Queremos estar no mercado e ter um negócio saudável, mas queremos também entender as tendências que se sentem no mercado português, porque isso nos ajuda na estratégia para outros mercados.
Claro que isso não acontece apenas em Portugal. Não quero dizer que a Nokia está centrada em Portugal, mas este é um dos casos onde queremos realmente estar presentes e por isso temos vindo a aumentar o investimento e a equipa.


TeK: Os analistas consideram que a queda da quota de mercado que a Nokia sofreu internacionalmente foi causada por um portfólio de produtos menos interessante, indicando que a empresa estaria a “perder o toque” para agradar aos consumidores. Qual é a sua opinião?
A.M.B.:
Não vou dizer aos analistas simplesmente que estão errados. Cada um pode ter a sua opinião, mas o que posso dizer em termos gerais é que a Nokia tem de longe o mais atractivo e lato portfólio dos fabricantes de telemóveis. Mas é claro que quando temos uma quota de mercado tão elevada como a Nokia, muitas vezes superior a cinquenta por cento, é muito fácil ser atacado e perder mercado. É difícil manter uma quota tão elevada, quando se é tão bom há menor espaço para melhorias e mais para ter dificuldades e problemas.


TeK: Nos novos produtos que agora foram apresentados são introduzidas algumas novas funcionalidades e conceitos, mesmo nos equipamentos de gama baixa, como os ecrãs a cores e até o formato concha. Acha que desta forma a Nokia pode conquistar novos segmentos de mercado?
A.M.B.:
Podemos se calhar separar o conceito de telefone de concha. Havia esta tendência no mercado, já introduzida há muitos anos. E era um conceito que não conquistava o interesse dos clientes, ao contrário dos modelos que a Nokia apresentava. Mas no último ano sentimos que este conceito estava a ganhar importância.

A questão é porém diferente consoante os mercado, em Portugal o formato de concha tem muito menos sucesso do que noutros mercados. Talvez também por isso conseguimos manter uma quota de mercado tão elevada porque a nossa oferta de telemóveis neste formato não é muito completa.

Mas agora a Nokia identificou que este conceito assumiu uma importância suficientemente grande para avançarmos nesse sentido. Isso vai afectar mercados onde os telemóveis em concha já representam uma quota de 35 a 40 por cento, mas menos Portugal onde as vendas destes terminais rondam os 15 a 20 por cento.

O que estamos a fazer é desenvolver a nossa tecnologia em formato de concha, e não apenas a fazer “corte e cola” do modelo, e estamos a introduzir este conceito em todos os segmentos, no baixo, médio e alto, com diferentes características e funcionalidades.

Esperamos que isto venha a aumentar a nossa quota de mercado porque vem completar a nossa oferta.


TeK: Referiu que em Portugal as funcionalidades ligadas ao imaging têm um peso muito importante, mas a Nokia não introduziu agora nenhum modelo com câmara no segmento baixo. Não estão a seguir a tendência de alargar essas funcionalidades a todas as gamas?
A.M.B.:
Nos telemóveis com câmara tem que se ter muita atenção ao preço dos componentes, porque quando se define um telemóvel de gama baixa, a característica mais importante é o preço e nós estamos neste negócio também para ganhar dinheiro. Se o componente é ainda muito caro não podemos colocar o preço do telefone muito baixo, ou perdemos dinheiro.
Já estamos a introduzir câmaras em telefones de gama baixa e também estamos a baixar os preços dos equipamentos que incluem câmaras. Nestes cinco equipamentos que agora apresentámos não temos nenhum modelo de gama baixa com câmara, mas já temos um terminal com estas características.

TeK: E agora o 3G. A Optimus e a TMN já estão a comercializar terminais UMTS da Nokia. Também estão em negociações com a Vodafone para o fazer?
A.M.B.:
Não posso revelá-lo. Normalmente os nossos produtos estão disponíveis para todos os clientes, não temos em Portugal uma política de exclusividade com um operador. Mas em relação ao 3G há ainda muitas questões a considerar. Eu penso que o estádio corrente do 3G é ainda um pouco prematuro, estamos numa espécie de teste comercial estendido. Vamos em breve assistir a uma verdadeira disponibilização comercial do 3G, com maior disponibilidade e maiores números. Os operadores tinham obrigações de licenciamento para lançar o serviço, e é bom que estejam a fazer o roll out da rede rapidamente e verificar o verdadeiro impacto. O que eles estão a fazer é correcto.

Mas, para o nosso lado seria um erro começarmos a contar o número de equipamentos 3G que vendemos ou lançamos. Isso não é a verdadeira questão, mas sim afinar a tecnologia e as redes, tal como aconteceu com o GSM no início e com o GPRS.
Estamos numa fase inicial e em alguns operadores esse processo está mais avançado do que com outros. No final é depois preciso uma decisão comercial dos operadores em introduzir os nossos equipamentos e, apesar de eu achar que os nossos modelos são os melhores, não é a mim que tem de perguntar, mas a eles.

TeK: Mas pensa que o facto dos terminais 3G da Nokia não suportarem videochamada é um factor dissuasor na decisão dos operadores em incluir os equipamentos na oferta, já que essa é uma das funcionalidades mais divulgadas da terceira geração?
A.M.B.:
Penso que a questão é mais complexa. Estamos a introduzir uma nova tecnologia, o que sempre cria um gap. Há um salto tecnológico que é sempre dado com as novas tecnologias. Este permite que novos concorrentes tentem entrar no mercado, como os fabricantes asiáticos. Quando estamos a tentar entrar num mercado onde não temos uma marca estabelecida temos de fazer algo novo e a estratégia destas marcas tem sido mais agressiva. O mesmo se aplica a players que tenham sentido recentemente dificuldades no mercado, sendo esta uma boa oportunidade para recuperarem quota.

Por outro lado, os operadores que têm que comunicar uma nova tecnologia, é mais fácil comunicar esta funcionalidade. Eu acho que todos os operadores sabem que a videochamada não vai mudar significativamente a forma como os clientes usam o telefone.

Agora temos é de começar a medir o impacto nas vendas desta funcionalidade. É algo que ainda não sabemos e que temos de acompanhar nos próximos meses.

A questão que colocou é se a Nokia perde uma oportunidade com o 3G. Claro que estamos agora a ser atacados por isso, o que é natural, mas temos responsabilidades no mercado. É preciso esperar para ver se a videochamada vai ter um impacto verdadeiro, ou se o facto de termos telemóveis 3G com funcionalidades interessantes e terminais com aspecto e características com que as pessoas se identifiquem irá ou não permitir que tenhamos maiores vendas. Vamos ter de esperar mais alguns meses para verificar.

TeK: Pensa que a Videotelefonia não é ainda um serviço fiável, pelo que poderá desiludir os clientes?
A.M.B.:
A minha questão é diferente: é este um serviço acessível, com preço certo e associado a terminais que gostaria de utilizar? Quando pensamos nos consumidores a ideia é que estaríamos interessados em saber mais sobre o serviço, mas não gastaria 600 euros num telemóvel por causa disso.
A mensagem que eu queria passar é que a Nokia está a investir em I&D nesta área também, mas antes de introduzir as tecnologias considera cuidadosamente o timming certo, custo certo e enquadramento certo para as colocar no mercado.


TeK: E esse timming é no início de 2005?
A.M.B.:
Acreditamos que sim. Mas podemos estar enganados. Às vezes fazemos erros, não estou a dizer que estamos sempre certos, só estou a explicar as nossas razões para ainda não termos estes equipamentos. Achamos que o primeiro semestre, possivelmente o primeiro trimestre de 2005, será a altura certa para oferecer videochamada. Mas mesmo nessa altura este será um mercado de nicho.

Fátima Caçador