[caption]Fernando Lamy de Fontoura[/caption]
A consciência ambiental tem vindo a aumentar acentuadamente em terras lusas, tanto entre os consumidores, como entre as empresas. Na área das tecnologias a preocupação com o ambiente mostra-se em estudos e análises recentes, como o Smart Portugal 2020 e em eventos vários, que lhe reservam espaço de discussão, como o Congresso da APDC ou o Fórum TI, organizado pela Tech Data.

A propósito deste último evento, o TeK colocou algumas questões a Fernando Lamy de Fontoura, director-geral da Amb3E, empresa que actua na área da gestão de resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos, convidado como keynote speaker para falar sobre a importância da reciclagem de equipamentos informáticos.

TeK: Os portugueses estão hoje mais despertos para a reciclagem de equipamentos ou continuam desconhecedores dos programas existentes?

Fernando Lamy de Fontoura:
A Amb3E, enquanto entidade gestora de resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos, tendo iniciado a sua actividade em 2006, tem vindo a desenvolver uma série de iniciativas e campanhas televisivas de sensibilização e informação ao consumidor, apelando para o correcto encaminhamento deste tipo de resíduos.

Tem-se verificado um acréscimo da procura de informação, nomeadamente sobre os locais onde as pessoas poderão proceder à entrega gratuita dos REEE, o que nos leva a deduzir que as pessoas têm conhecimento da existência da Amb3E, enquanto entidade gestora deste tipo de resíduos.

Embora o caminho a percorrer seja ainda longo, para que a prática corrente de reencaminhar os REEE para tratamento e valorização seja adquirida, consideramos que face à curta existência da Associação, a mensagem sobre os perigos do abandono indevido dos REEE para o ambiente, assim como a preocupação com o seu correcto encaminhamento tem sido transmitida com sucesso.

TeK: E as empresas? Considera que estão mais atentas para as questões ambientais ou podiam estar mais empenhadas?

F.L.F.:
No que respeita às empresas, consideramos separadamente as que colocam EEE (Equipamentos Eléctricos e Electrónicos) no mercado e as que são utilizadoras dos mesmos. As primeiras, que a lei designa "Produtores" foram contactadas por diversas vezes, a grande maioria já aderiu à Amb3E, transferindo as suas responsabilidades legais e continuam a ser sistematicamente informadas das acções desenvolvidas com o financiamento que nos transferem dos Ecovalores (EcoREEE) cobrados aos seus clientes.
Quanto às segundas, temos vindo a ter uma actuação selectiva de contactos com aquelas que têm um maior potencial de geração de REEE. Este procedimento tem dado origem aos protocolos já assinados, de que destacamos os estabelecidos com a EDP Distribuição, com a EDP - Produção e com a PT - Portugal Telecom.

TeK: Quantos pontos de recolha têm?

F.L.F.:
Actualmente a Amb3E tem uma rede com perto de 300 locais de recepção e recolha, com cobertura nacional, incluindo as regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. Neste número destacam-se os Ponto Electrão, que têm a particularidade de facilitar o processo de deposição por parte do consumidor.

TeK: A afluência aos pontos de recolha aumentou desde 2006?

F.L.F.:
A Amb3E iniciou a constituição da sua rede de locais de recepção e recolha em Novembro de 2006, pelo que não se poderá considerar esse ano para efeitos de avaliação da recolha de REEE. Considerando 2007 como o primeiro ano completo de actividade, assim como os meses já decorridos de 2008, verificamos um aumento das quantidades de REEE recolhidas.

TeK: A afluência aos pontos de recolha aumentou desde 2006?

F.L.F.:
O fluxo onde se verifica uma maior quantidade de REEE recolhidos é o dos Diversos, que engloba desde telemóveis, varinhas mágicas, material informático, entre outros. O peso dos REEE, em virtude da sua natureza diversa, quer em termos de composição, quer devido à sua dimensão, é bastante variável.

TeK: O que é feito ao material recolhido? Que processo segue?

F.L.F.:
Os EEE, que consoante as suas características se encontram agrupados em 10 categorias distintas, ao entrarem no circuito gerido pela Amb3E são separados por cinco fluxos para posterior desmantelamento manual e tratamento mecânico nas Unidades de Tratamento e Valorização.
Posteriormente procede-se à separação em fracções, para futura integração de componentes em novos equipamentos.

TeK: O objectivo de recolha de 30 mil toneladas de lixo electrónico para 2008 vai ser cumprido?

F.L.F.:
Acreditamos que no final de 2008 a meta imposta de 30 mil toneladas, não só será cumprida como ultrapassada, o que comprova a boa adesão de todos ao sistema integrado de gestão de REEE através do correcto encaminhamento dos resíduos para tratamento e valorização.

TeK: Que quantidades foram recolhidas em 2007 e quais os objectivos para o próximo ano?

F.L.F.:
Em 2007 as quantidades de REEE recolhidas pela Amb3E traduziram-se em mais de 20.500 toneladas, estimando-se que até ao final de 2008 se ultrapasse as 30 mil toneladas. Em 2009 prevê-se uma evolução ainda mais significativa.

TeK: Que diferenças se podem apontar neste mercado comparativamente há dois anos atrás?

F.L.F.:
A Amb3E tem vindo a expandir a sua rede de locais de recepção e recolha, através de parcerias com SMAUTS- Sistemas Municipais e Autarquias, cadeias de Centros Comerciais, Retalhistas, organizações do Estado, e outras, apostando, em paralelo, em fortes campanhas televisivas de informação e sensibilização ao consumidor.

Temos constatado um interesse e preocupação cada vez maiores, quer por parte das empresas, quer por parte do cidadão, em reencaminharem correctamente os REEE, para que o seu desmantelamento e tratamento cumpra as mais rigorosas normas ambientais.

A consciencialização dos perigos para o ambiente, caso os REEE não sejam tratados dentro de um sistema de gestão devidamente licenciado, são actualmente uma realidade para um número crescente de cidadãos. Acreditamos ter desempenhado um papel crucial no alerta para a necessidade de boas práticas nesta temática.