Estive na conferência de imprensa em Madrid na qual os responsáveis da BQ revelaram pela primeira vez a intenção de entrar no mercado dos smartphones. Estavamos em 2012 e não só partilharam secretamente esse desejo, como revelaram o primeiro protótipo. Alguns meses depois era anunciado o BQ Aquaris, o primeiro smartphone da fabricante espanhola.

Desde então tenho acompanhado o percurso da BQ no mercado português e acho que souberam na altura ocupar um lugar importante: dos telemóveis desbloqueados de operador, com suporte para dois cartões SIM, com algumas especificações de “encher o olho” e um preço acessível a uma boa parte dos portugueses.

Desde então que a estratégia da empresa espanhola manteve-se. E os resultados têm acontecido.

Mas quando tive o primeiro contacto com o novo Aquaris M5, já este ano, fiquei de imediato com a sensação de que a empresa estava a arriscar pouco na fórmula do smartphone. Decidi esperar para “ver” com as minhas próprias mãos o que o novo modelo da marca tinha para mostrar.

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Depois do período de testes ficam duas certezas: sim, é o melhor smartphone da BQ até à data; e não, não acho que a empresa esteja a fazer suficiente para acompanhar a agressividade e diversidade da concorrência.

Conhecemo-nos?

Quem já pegou num BQ da gama Aquaris E vai viver uma sensação de familiaridade quando agarrar neste modelo mais recente, o Aquaris M5. Isto porque ao nível de design e de estrutura os equipamentos são muito semelhantes.

O novo smartphone mantém o aspeto retangular de linhas acentuadas, continua a apostar nos cantos vincados para dar alguma personalidade ao dispositivo e ainda mantém uma certa espessura.

Mas um segundo olhar permite perceber que o Aquaris M5 é um telemóvel mais refinado: está notoriamente mais estreito, ligeiramente mais fino que os modelos da gama anterior e a construção em plástico também parece ter sido melhorada, transmitindo agora com maior rigor a ideia de smartphone coeso, construído em bloco único.

Apesar de os materiais de construção não serem os mais ambiciosos, é preciso salientar que o Aquaris M5 consegue uma proeza que para outros smartphones parece inalcançável: não fica com as dedadas marcadas na parte traseira, o que mantém o smartphone com um aspeto impecável.

Ao nível da aparência destaque para a inclusão do duplo LED na parte lateral do sensor fotográfico traseiro - no Aquaris E5 por exemplo estava por baixo da câmara - e para a adoção dos botões capacitivos com o design do Android Lollipop. Podendo não parecer muito relevante, o facto é que por os botões serem mais minimalistas, ajuda a que o aspeto geral do equipamento seja mais moderno.

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Na parte do “tocar e sentir”, existe uma evolução que não deixa de ser assombrada pelo facto de parecer ao mesmo tempo um dispositivo muito semelhante com todos os modelos anteriores. Em equipa que ganha não se mexe, já se sabe, mas os consumidores gostam de revolução e não só de evolução.

São muitos os que compram um smartphone apenas para comunicações e Internet. Mas são cada vez mais os que compram um smartphone como uma extensão da sua personalidade e é no campo da “personalidade”  que os dispositivos da BQ menos têm evoluído.

Um telemóvel para o quotidiano

Se no aspeto exterior as diferenças não são acentuadas, já ao nível dos componentes que a empresa usa houve um salto qualitativo.

De todos o ecrã de cinco polegadas com resolução Full HD foi aquele que mais se destacou. É bastante nítido, tem uma boa definição e apresenta bons recortes nas imagens e no texto, além de conseguir atingir níveis de brilho acima da média - dentro do seu nível de preço.

As cores também são vibrantes e não demasiado saturadas, o que é uma vantagem. Isto coloca o Aquaris M5 como um bom equipamento para o consumo multimédia, sobretudo de jogos e imagens que são os elementos nos quais as cores mais se destacam. [caption][/caption]

O único senão que aponto ao ecrã são os pretos muito iluminados, isto é, a reprodução dos tons escuros acaba por não ser bem conseguida, o que tem impacto em conteúdos que vivem muito do contraste de tons.

O processador de oito núcleos do telemóvel também foi bastante competente. As aplicações foram relativamente rápidas a iniciar, mostrando um desempenho muito positivo para um telemóvel que é, apesar de tudo, de gama média.

Nos jogos também não sentimos dificuldades. Títulos recentes como Racing Fever, Fallout Shelter ou Pokemon Shuffle foram executados sem problema. E ao experimentar as capacidades multitarefa do dispositivo trocando rapidamente entre estes três jogos, por exemplo, o Aquaris M5 cumpriu bem o desafio.

Ao nível da experiência de utilização o telemóvel foi quase sempre fluído. O facto de a BQ apostar num Android puro ajuda a explicar este facto. As velocidades de download durante o período de testes também foram bastante razoáveis, assim como a velocidade de navegação.

É um telemóvel que pelo que apresentou, serve perfeitamente para as tarefas do quotidiano. É um dispositivo para o dia a dia que não terá dificuldade em acompanhar a maior parte das exigências, exceto num aspeto: na fotografia.

Onde a empresa mais precisa de evoluir

Olhando para as fotografias que consegui com o Aquaris M5 e com aqueles que já fiz com outros modelos da BQ, é notória uma evolução. Há uma tendência para que o sensor fotográfico consiga captar mais luz, o que se traduz em detalhe extra para a composição. Mas continua a falhar ao nível do contraste e das cores, que são pouco “vivas”.

Está mais em linha com aquilo que o Alcatel Onetouch Idol 3 consegue fazer, mas continua por exemplo abaixo do que é feito pelo Asus Zenfone 2.

E este é mais um exemplo que me parece convencer que a BQ está a jogar dentro de uma área de conforto. A empresa não está a apostar o suficiente numa segmento que é cada vez mais crítico na hora de escolher um telemóvel.

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Veja-se o exemplo da Motorola: as câmaras fotográficas dos seus telemóveis nunca foram nada por aí além e na última vaga de apresentações, foi um dos maiores focos da empresa. Dispositivos acessíveis ou não, precisam de ser ambiciosos ao nível da fotografia. Algo que o diretor executivo da Asus, Jerry Chen, também já tinha definido como prioritário para a sua empresa.

E até dentro dos topo de gama - Samsung Galaxy S6 e LG G4 - é a câmara fotográfica que acaba por fazer uma das maiores diferenças.

Sempre achei a fotografia o calcanhar de Aquiles dos telemóveis da BQ. Neste modelo há uma evolução, mas uma vez mais acaba por ser o factor em destaque - pela negativa. Curiosamente o sensor fotográfico frontal até é bem “jeitosinho” e serve perfeitamente para as selfies de circunstância.

Ainda na parte multimédia um outro aspeto menos positivo que já vem de trás é o som. O altifalante do telemóvel consegue atingir um som alto, mas faltam graves ao que é reproduzido. Esta é mais uma área no qual gostaria de ver a tecnológica espanhola a apostar mais, para que pudesse complementar a boa experiência multimédia que é conseguida no telemóvel muito graças ao ecrã.

Considerações finais

O BQ Aquaris M5 tem ainda dois outros aspetos a seu favor: é Dual-SIM e tem uma autonomia aceitável, conseguindo regularmente garantir bateria para mais do que um dia, mas sendo obrigatório o carregamento a meio do próximo.

E analisando o desempenho geral que apresentou, este é mais um caso que reforça uma teoria que tenho vindo a desenvolver: a partir de um determinado nível de preço, a rondar os 170/180 euros, são raros os telemóveis que agora ficam abaixo das expectativas ao nível de desempenho.

Todos os fabricantes têm apresentados dispositivos que não sendo portentos de potência e gráficos, são bons companheiros para o dia a dia, para as tarefas básicas da Internet e de comunicação. O Aquaris M5 está nesta lista: tem um desempenho certinho, tem uma fluidez aceitável e apresenta uma evolução notória relativamente aos modelos anteriores.

Do que já usei da BQ e do que tenho acompanhado da marca, este é o seu melhor smartphone até ao momento e isso é algo que deve deixar os seus detententores - ou futuros detentores - contentes.

No entanto a equação de um telemóvel é muito maior do que isso. O iPhone foi ano após ano considerado como um dos melhores smartphones do mercado, mas também precisou de sofrer com as críticas para evoluir - pois durante algum tempo esteve “parado” no tempo.

A BQ precisa de olhar para estes exemplos para encontrar o seu próprio caminho e preparar um futuro smartphone que seja mais ambicioso. O BQ Aquaris M5 é bom, sobretudo tendo em conta o preço de 279 euros. É uma das propostas que recomendo dentro deste valor de mercado, mas admito o meu desapontamento: esperava uma evolução mais acentuada, uma que entusiasmasse mais. Este smartphone estica "a corda" ao máximo.

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O próximo smartphone da tecnológica espanhola tem de ser muito melhor, sobretudo pelo que as outras marcas estão a fazer e com preços relativamente mais baixos.

A concorrência está dinâmica e agressiva. Veja-se a câmara fotográfica do Zenfone 2. Veja-se a relação qualidade preço do Moto G. Veja-se toda a torrente de telemóveis coloridos, personalizáveis e de baixo custo da Wiko.

Foi o próprio executivo da BQ, Alberto Méndez, quem disse um dia não estar preocupado com a concorrência. Percebo a perspetiva, mas sou da opinião de que isto só é bom até determinado ponto. A determinada altura vai ser necessária nova rotura para criar mais entusiasmo nos consumidores. E quanto mais cedo, melhor para todos nós, caso contrário a "corda" pode rebentar.