E quando se diz que o telemóvel é tudo o que os utilizadores sonhavam há dois anos, não quer dizer que seja um equipamento datado e com características ultrapassadas – de todo, é um topo de gama como manda a lei. O que se pretende dizer é que quando os internautas idealizavam como iam ser os próximos topos de gama Android, estes assemelhavam-se àquilo que o G3 é hoje.



Um telemóvel de ecrã grande, de margens muito reduzidas, com uma parte frontal muito bem aproveitada ao nível do espaço, simplista, sem botões visíveis, com aspeto premium e design ergonómico. Velocidades rápidas de Internet, câmara de qualidade e bateria duradoura – dentro do possível, claro.



Podia dizer-se maravilhas do G3 porque o telemóvel merece todas essas afirmações. A LG está a fazer um bom trabalho e possivelmente é a empresa que nos últimos anos mais tem contribuído para a evolução do mercado. Não através de tecnologia propriamente dita, mas através de modelos que questionam a supremacia dos Galaxy e dos HTC.



Atualmente não há apenas um grande smartphone Android. Existem vários.



Mas este LG G3 é mais do que um smartphone de qualidade. É um exemplo perfeito de como tem evoluído o mercado dos telemóveis inteligentes. E a análise do equipamento vai ser acompanhada de um outro telemóvel: o LG Maximo 2X, o topo de gama da tecnológica sul-coreana em 2010 e o primeiro equipamento do mercado com um processador de dois núcleos.



Tenta-se assim perceber que diferenças há e que evolução foi feita nos topos de gama, dentro de uma mesma empresa, aquela que agora tem apresentado os equipamentos mais interessantes.

O design e a inteligência do espaço

A primeira grande diferença está no tamanho. Nos últimos anos os smartphones deram um salto significativo na dimensão dos ecrãs. E em 2010 o ecrã de quatro polegadas do LG 2X não podia ser considerado como pequeno.



Atualmente há uma diferença de 1,5 polegadas entre os dois equipamentos, mas isso não significa que no tamanho total dos mesmos essa diferença se sinta. A razão? As margens bastante reduzidas do smartphone mais recente.



O G3 tem margens quase nulas entre o ecrã e as extremidades laterais do telemóvel, e isso ajuda a poupar muito espaço no equipamento e a torná-lo mais ergonómico. Apesar de as 5,5 polegadas de ecrã serem assustadoras em número, a maior parte dos utilizadores, sobretudo os masculinos, vão conseguir dominar o telemóvel apenas com uma mão.



Depois a diferença de qualidade entre ecrãs. Abismal, no mínimo. O Maximo 2X tinha uma resolução de 800x480 píxeis, num total de 233 píxeis por polegada (ppi). Três anos e meio depois o G3 apresenta-se com uma resolução de 2.560x1.440 píxeis e 534 ppi.



Tendo os dois equipamentos na mão a diferença de qualidade dos ecrãs é ainda maior do que nos números. Cores mais vivas, com "mais corpo" e um ecrã mais brilhante, mesmo estando os dois dispositivos na luminosidade máxima.



O aspeto “quadradão” do Maximo 2X deu lugar a um arredondado e curvado G3. A construção dos equipamentos é que continua a mesma: vidraça na frente, plástico na parte traseira. E este é dos poucos pontos negativos do LG G3 – o plástico é de má qualidade e fica riscado muito depressa. O modelo que o TeK tem para testes já apresenta desgaste.



E isso dos botões capacitivos na parte frontal do telemóvel é tão 2010. Agora a LG aposta tudo nos botões traseiros, apenas três, que servem para controlar as funcionalidades “físicas” e básicas do equipamento. Chega e funciona bem. Uma aposta da empresa que podia ser adotada por outras fabricantes, mas que por “questões de originalidade” vai morrer nos equipamentos LG.

[caption]Lg G3[/caption]

Nas especificações é sempre a multiplicar

Neste campo de análise a evolução também é de grandes proporções.



O processador de dois núcleos do 2X, o primeiro a nível comercial, dá agora lugar a um processador de quatro núcleos. Se o número de cores do chip não parece muito diferente, já a velocidade de relógio dos mesmos cava um fosso considerável no desempenho dos dois telemóveis. O modelo apresentado em 2010 tinha dois núcleos a 1Ghz da Nvidia, o modelo de 2014 tem quatro núcleos a 2,5GHz da Qualcomm.



A unidade de processamento gráfica também evoluiu, sendo que o 2X já não suporta alguns dos jogos mais atuais e o G3 executa tudo como se fosse “manteiga”. A memória RAM também se foi multiplicando ao longo dos anos, passando dos tradicionais 512MB da altura para os também agora tradicionais 2GB.



O armazenamento nativo passou de 8GB, suficientes, para uns espaçosos 32GB. Ambos os modelos apresentam suporte para cartões microSD, algo que noutros telemóveis não se verifica.



O protocolo Bluetooth passou da versão 2.1 no Maximo 2X para a versão 4.0 no LG G3, que também tem NFC, uma tecnologia que em 2010 ainda era pouco falada. Também no WiFi há diferenças, com o modelo de 2014 a suportar todos os protocolos e canais. Ao G3 acresce ainda um sensor de infravermelhos que voltou a ficar na moda para controlar os televisores lá de casa.

[caption]Lg G3[/caption]

Fotografia nunca foi o forte da LG

Na análise de vários equipamentos da LG fica sempre o mesmo sentimento: os sensores conseguem boas imagens quando existe iluminação natural abundante, mas assim que a luz se perde, também a qualidade das fotografias segue a mesma trajetória. E basta puxar um pouco pelo zoom dos equipamentos para que também as fotografias sofram com isso.



O 2X nunca teve uma câmara por aí além. Apesar de se apresentar com uns vistosos oito megapíxeis para a altura, a verdade é que até o iPhone com um sensor de cinco megapíxeis conseguia fotografias melhores. Os resultados eram muito esbatidos, pouco definidos, mas dava para desenrascar.



Atualmente o desenrasque já não serve. A LG evoluiu muito nos sensores fotográficos e no G3 consegue até apresentar um sistema automático de foco que se apoia num laser para conseguir os melhores resultados. As imagens finais são boas, mas continuam a não ser as melhores do mercado: há um Sony Xperia Z2 com grande qualidade e um Huawei P7 com resultados surpreendentes em condições de baixa luminosidade.



No G3 há ainda estabilizador ótico de imagem e uma maior panóplia de opções para captar imagens do que no modelo 2X. O próprio disparo é muito mais rápido, mas também outra coisa não seria de esperar.



A evolução faz-se sentir ainda mais ao nível do vídeo. O smartphone apresentado este ano pela tecnológica sul-coreana consegue gravar em Ultra HD, colocando na “vergonha” o Full HD a 30fps conseguidos pelo 2X.



No software o algodão não engana

A seguir ao design é possivelmente a área onde a LG mais evoluiu. O Android nativo do Maximo 2X, a versão 2.2, nunca foi fluída. A versão 2.3 trouxe melhorias e a versão 4.0 chegou a muito custo, mas sempre com um desempenho que deixava os utilizadores à beira de um ataque de nervos.



Como é que o primeiro dual-core do mercado lutava para fazer deslizar os ecrãs de início do Android? E como é que um telemóvel que foi o topo de gama de uma empresa teve que esperar anos para receber a atualização para o Ice Cream Sandwich?



Tudo está melhor agora. Além de ter chegado com a versão mais recente do Android, o 4.4, a LG soube casar o software com o hardware – isto é, o software é simples e limpo, e o hardware é potente e cheio de recursos.



Navegar pelo G3 é quase como usar um Nexus. Não há “tralha” da empresa, tirando a aplicação de recomendações LG SmartWorld. O interface de utilizador tem algumas diferenças relativamente ao Android original, mas para melhor na opinião do TeK.



Existem funcionalidades específicas que a LG incorpora nos novos modelos e que antes pouco se dignava a apostar. Há o QuickMemo, que permite sarrabiscar no ecrã do telemóvel para tirar anotações e há o Knock Code, um código de desbloqueio através de toques na tela do telemóvel, mesmo quando o ecrã está desligado.



O G3, mesmo não tendo nenhum sensor biométrico, traz uma aplicação de fitness nativa. Conta os passos dados pela pessoa, o número de calorias gastas e ajuda a perceber se a distância percorrida num dia é suficiente para o peso e tamanho que o utilizador tem.



Na LG Health é ainda possível escolher outros modos de exercício, como correr, ciclismo, caminhada ou patins em linha.



Existem outras ferramentas como o Guest Mode, que protege os dados do utilizador de outras pessoas, ou a divisão do ecrã que permite executar duas aplicações em simultâneo, tal como já se tinha visto no LG G Flex. São ferramentas úteis, mas que também já existem noutros equipamentos e sistemas operativos.

[caption]Lg G3[/caption]

Mais e melhores

Fica o sentimento de que a evolução que está a acontecer é para melhor. Em nenhum ponto o 2X deixa saudade relativamente ao LG G3. O smartphone de 2010 continua a ser um equipamento fiável, era dos melhores na sua altura, mas é preciso admitir que está ultrapassado em todos os níveis.



O G3 suporta redes 4G, tal como seria de esperar de um telemóvel da sua categoria. O suporte 3G do 2X não dava para velocidades acima dos 20Mbps, mesmo que estes pudessem ser atingidos.



Mesmo ao nível de software e do que dependesse da tecnológica sul-coreana, o Maximo 2X ficaria no Android 4.0. Para os utilizadores mais avançados o caminho das ROMs da Cyanogenmod foram a melhor alternativa, mas para muitos o Ice Cream Sandwich foi o fim da rota.



Com o G3 o caminho promete ser longo. As especificações atuais prometem manter o telemóvel fluído e capaz de executar a esmagadora maioria das aplicações nos próximos três anos.



E é por estas razões que os smartphones são o mercado “quente” do momento. Além de variedade e diversidade, são equipamentos bons e capazes no médio prazo. E são fáceis de usar, cada vez mais. São equipamentos mais descomplicados, cada vez mais.



O que esta análise representa, além da evolução de uma marca, é a evolução de um mercado. Atualmente o Maximo 2X pode ser comprado nos mercados paralelos por um valor entre os 100 e os 150 euros, enquanto o G3 custa 630 no mercado livre.



Além da evolução tecnológica, o utilizador deve preparar-se para a desvalorização dos seus investimentos. Se adquirir o G3, daqui a quatro anos pode continuar a ter um telemóvel mediano, tal como o 2X é, mas terá em valor muito menos do que o que investiu inicialmente. A culpa não é dos equipamentos, é da inovação que continua a surgir todos os dias.



O TeK aproveita para lançar um desafio aos leitores: olhando para a evolução que houve entre os dois dispositivos, como acham que será um "LG 6X" em 2018? Especificações e design, quais os vossos palpites? Que novas tecnologias terá incorporado? Qual será o futuro dos smartphones?



É com expectativa que aguardamos as vossas respostas, pois no final de contas, são os leitores quem faz o mercado de smartphones.

Nota de redação: foi corrigida uma gralha por sugestão de um leitor

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico