Com a apresentação dos Galaxy S6 e Galaxy S6 Edge a Samsung roubou a “cena” dos smartphones do primeiro semestre. Os equipamentos têm tudo: design arrojado, um modelo futurista, especificações do melhor que há e um desempenho que poucos conseguem atingir.

Pelo meio foram surgindo mais smartphones, alguns melhores do que outros. Nesta “torrente” esteve o LG G4, o mais recente topo de gama da marca. Mas a verdade é que mesmo após a sua apresentação, nunca conseguiu provocar o mesmo impacto que os rivais sul-coreanos.

Lendo algumas análises, ouvindo algumas opiniões de consumidores e após as semanas de teste ao equipamento, fica uma certeza: o LG G4 é forte candidato a smartphone mais injustiçado do ano. Mas também é candidato a melhor smartphone da atualidade.

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Fazendo desta análise um julgamento especial - onde sou advogado de defesa e acusação -, tenta-se perceber afinal que posição é esta na qual a LG e o seu smartphone de referência se encontram.

Começando pelos factos, isto é, por aquilo que o telefone realmente vale, deixa-se para o fim as outras considerações “legais” sobre esta posição pouco confortável que o equipamento vive.

Acusa-se o G4 de ter evoluído pouco no design
#Inocente
Uma das acusações que fazem à LG é que este novo smartphone não apresenta uma evolução física muito grande face ao modelo anterior - as críticas são feitas tendo em conta o “salto” que a Samsung deu. E isto não é de todo verdade. Houve uma menor evolução do G3 relativamente ao G2, por exemplo, do que do G4 para o G3.

Apesar de o aspeto global do smartphone ser semelhante, a verdade é que o novo modelo tem linhas mais arrojadas, tem um design mais moderno, tem um maior cuidado na construção e tem um formato curvo.

A curvatura do smartphone herdada de dispositivos como o G Flex e G Flex 2 é uma mais valia. A nível ergonómico ganha aos outros telemóveis e isso é ainda mais sentido quando se volta a encostar um smartphone “tradicional” à cara - já não é tão “jeitoso”, já não encaixa tão bem, já não é tão natural.

A curvatura acaba ainda por produzir um certo efeito de fluidez quando está a ler páginas Web ou a consultar as redes sociais. Não é um efeito tão espetacular como nos outros smartphones curvos da marca, nem causa um efeito imersivo na visualização de vídeos.

Tem até um inconveniente: se quiser escrever com o smartphone pousado na mesa ele vai parecer um barco numa tempestade no mar, balançando de um lado para o outro.

O LG G4 é um smartphone bonito, bem trabalhado, mas admito que não seja um smartphone para todos os tipos de público. Mesmo apostando em construções diferentes na parte traseira do dispositivo - pele, cerâmica e metal -, o dispositivo parece apontar para um segmento mais masculino e de certa forma até mais “corporativo”.

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A LG continua a apostar num sistema de smartphone aberto, no qual é possível remover a capa traseira do equipamento dando acesso à bateria amovível, ao cartão SIM e ao cartão de memória. Por isto perde um pouco na qualidade de construção, área que necessitará de reforçar no próximo modelo.

É por ainda apostar nesta estratégia da capa que acaba por não conseguir um feeling tão premium como o iPhone 6, como o Samsung Galaxy S6 ou como o HTC One M9. O LG G4 não tem aquela construção em metal robusta e não tem um corpo feito de vidro. Mas não é por isso que deixa de ter um bom toque na mão, mas não se safa das críticas.

Acusa-se o G4 de não ter usado as melhores especificações do mercado
#MeioCulpado
Outra crítica apontada à LG está relacionada com a escolha do processador. A tecnológica optou pelo Snapdragon 808 - processador de seis núcleos -, quando há dispositivos rivais com o Snapdragon 810 - com um total de oito núcleos.

A LG explicou que foi uma escolha propositada e que trabalhou de perto com a Qualcomm para otimizar o chip para o telemóvel. Uma das vantagens seria o consumo energético.

Esta parte não posso confirmar. Se houve elemento que sempre gostei nos topos de gama da LG foi a autonomia da bateria, que conseguia chegar sem grande dificuldade aos dois dias. Apesar da bateria de 3.000 mAh do G4, a verdade é que chegava ao final do dia sempre abaixo dos 20%, quando numa utilização ativa. Numa utilização mais passiva o smartphone aguenta cerca de dia e meio.

Foi aliás de todas as características do telemóvel aquela que mais desiludiu. Pelas experiências anteriores e pela “desculpa” da otimização era de esperar mais.

No entanto não fico totalmente surpreendido do porquê de a bateria apresentar uma autonomia menor. O smartphone é um portento a nível multimédia e isso tem um preço.

O ecrã é do mais definido que já vi num dispositivo móvel, ganhando claramente ao modelo G3 apesar de resolução ser a mesma: 2.540x1.440 píxeis. As grandes diferenças estão nos níveis de brilho - muito bons, mesmo a rondar os 60% de luminosidade - e nas tonalidades bem saturadas. As cores são apelativas, mas não são agressivas. As cores são naturais, não artificiais como alguns ecrãs AMOLED.

E ao contrário do que acontece noutros modelos da marca, onde por vezes parece haver uma saturação de cores específicas, com o LG G4 esse problema foi corrigido.

Jogar, ler na Internet ou consumir um vídeo 2K no YouTube são experiências que valem mesmo a pena neste smartphone. Aqui nada a apontar.

Relativamente ao desempenho geral do processador a verdade é que os dois núcleos a menos não se sentem. Talvez no futuro, quando os jogos e as aplicações ficarem mais exigentes, isso será algo que fará a diferença. Neste momento o LG G4 tem um desempenho super fluído, sem engasgos e tal como um smartphone topo de gama deve apresentar.

Seja no arranque de aplicações, seja na troca entre as mesmas, seja no carregamento de páginas Web, tudo é rápido no dispositivo. Os 3GB de memória RAM que o smartphone apresenta permitem que o utilizador tenha cerca de 75 aplicações semi-ativas no gestor de tarefas, algo que também não se encontra em qualquer smartphone Android.

Para a fluidez geral contribui também a versão costumizada do Android da LG. É leve, sem grandes “invenções”. Tem aliás alguns truques muito bem vindos - como a possibilidade de ter duas aplicações abertas em simultâneo ou de ter um bloco de notas que guarda automaticamente tudo aquilo que o utilizador copia.

Outra funcionalidade que vem de equipamentos anteriores, mas que para mim continua a ser uma mais valia, é o Knock Code. Batendo em determinadas zonas do ecrã, é possível desbloquear o smartphone. E talvez por parecer meio aleatório aos olhos das outras pessoas, acaba por transmitir uma maior sensação de robustez.

Destaque ainda para o Smart Bulletin, uma página que fica no ecrã mais à esquerda do ambiente de trabalho e no qual o utilizador pode ter informações contextuais sempre à mão: do LG Health, do calendário ou da aplicação de música por exemplo.

A verdade é que nada disto é revolucionário e muitas características são antigas. Mas conjugadas e disponíveis de forma simples como estão, acabam por criar uma experiência Android diferenciadora e que por vezes é mais prática e pragmática.

Acusa-se o G4 de ter a melhor câmara num smartphone
#Culpado
Esta é uma acusação discutível. Para alguns utilizadores será o iPhone 6 que tem a melhor câmara no smartphone. Para outros será o Galaxy S6. Tendo já utilizado esporadicamente os dois dispositivos - e não de forma muito intensiva - fica no entanto a sensação de que no geral o LG G4 entrega melhores resultados.

Melhor do que lido, só visto. Fica aqui uma galeria com alguns dos exemplos conseguidos. O destaque está claramente na definição das imagens e nas captação muito fiel de cores:

Além dos aspetos já referidos, há também um “respeito” muito grande pelos contrastes, pelo que aquilo que o smartphone capta é de facto aquilo que está à frente dos olhos. O facto de o ecrã ter uma alta densidade de píxeis por polegada também ajuda a dar mais vida às imagens, mas esta é uma simbiose que todos os fabricantes deveriam seguir.

A focagem é ultrarrápida e de grande qualidade. E mesmo em condições de baixa luminosidade consegue captar muito bem a forma dos elementos, destacar a devida luz e manter os contrastes verdadeiros.

Mas além da qualidade inegável, há mais a dizer sobre as capacidades fotográficas do LG G4.

Em primeiro lugar a rapidez com a qual capta imagens. No momento em que o utilizador está a pousar o dedo no botão de ação, é como se o telemóvel já soubesse e tirasse de imediato a fotografia.

Depois um louvor muito positivo para o modo manual que foi incluído na aplicação da câmara do equipamento. É possível controlar a velocidade do obturador, o ISO, a focagem e até o balanço de brancos. Se é um purista da fotografia saiba ainda que o smartphone permite guardar os ficheiros RAW das imagens.

Apesar de tudo ser simples no interface da câmara, por vezes parece que é também demasiado simples. Senti falta de mais “brincadeiras” como aquelas que foram incluídas no Zenfone 2 e no Xperia Z3. Pois uma boa câmara fotográfica não serve só para coisas sérias, a fotografia é algo que se quer divertido e imaginativo. O facto de não haver um menu de configurações para o vídeo também foi um aspeto que acabou por não agradar.

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Continuo a defender que há coisas que só as máquinas fotográficas tradicionais conseguem dar aos utilizadores. Mas este LG G4 começa a quebrar barreiras. “Envergonha” um grande número de máquinas compactas que existem no mercado e certamente que daria uma boa segunda câmara para um fotografo profissional.

Os que gostavam de aprender um pouco mais sobre os controlos manuais da fotografia também têm aqui uma boa oportunidade de investimento.

Acusa-se o G4 de ser incapaz de competir com o Galaxy S6
#Inocente
É verdade que a LG escolheu um caminho diferente do da Samsung. E parece-me verdade que a Samsung sai a ganhar numa luta direta, sobretudo por uma questão de design e de materiais de construção. Quem gasta mais de 600 euros num smartphone gosta de ter acesso ao melhor e o topo de gama da Samsung parece-me mais fácil de justificar neste sentido.

Mas isso não significa propriamente que o Galaxy S6 seja melhor telemóvel que o LG G4 - e vice-versa. Tal como tem acontecido nos últimos anos, estarão os dois muito equilibrados e próximos ao nível do desempenho.

A câmara do LG é portentosa e uma verdadeira DSLR de bolso. O ecrã também me parece ser dos melhores - se não mesmo o melhor - que existe num smartphone. O desempenho está lá, as personalizações de software também.

Querendo isto dizer que o LG G4 é mais uma resposta à pergunta “qual o melhor smartphone do mercado”. Tirando a autonomia, não houve nenhum ponto que desiludisse. Até em aspetos aos quais os utilizadores parecem já não ligar tanto, como a qualidade das chamadas, o dispositivo apresenta um desempenho acima da média.

A LG está no entanto a sofrer na pele o que a Samsung sofreu nos anos anteriores. A LG ganhou ao nível do entusiasmo a batalha de smartphone mais interessante com o G2 - contra o Galaxy S4 - e com o G3 - contra o Galaxy S5. Arriscou mais, inovou e isso compensou.

Agora a Samsung deu um salto de gigante e apesar das evoluções feitas pela LG parece que a empresa ficou parada no tempo. Terá de saber lidar com as críticas e a melhor forma de o fazer é mostrar realmente o que o seu mais recente topo de gama consegue fazer. Pela qualidade que o dispositivo apresenta é o mínimo que a marca pode fazer, ir à luta por ele.

Veredito final
Sobre o que vai acontecer daqui para a frente poucos podem falar. Mas pelo que se passou até ao momento o LG G4 é um forte candidato a smartphone mais injustiçado do ano.

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Tem tudo o que se pede de um smartphone topo de gama, mas arrisca-se a nunca sair da sombra do seu concorrente mais direto. O mesmo já se passou noutras ocasiões e com outras marcas - HTC One M7 e Sony Xperia Z2 relativamente aos smartphones da Samsung, por exemplo.

Mas nada tira o mérito ao que a LG conseguiu atingir. No entanto também fica uma grande certeza: será preciso uma remodelação séria nesta gama topo de gama se a tecnológica quiser roubar o “show” da concorrência nos próximos meses. O mesmo já foi dito da Samsung no passado e agora o recado vai para a LG: é preciso apostar ainda mais na qualidade de construção do telemóvel.

A curvatura é futurista, mas a construção “plástica” não convence. A pele dá um toque mais profissional, mas não é o estilo premium pelo qual os consumidores agora anseiam. Mas de resto nada a apontar: é um grande smartphone em tudo e um dispositivo que deve ser sempre considerado na hora de aquisição de bom smartphone.

O que “safa” a LG é que marcas como a HTC e a Sony estão a apresentar uma estratégia menos agressiva e isso dá mais margem de manobra à tecnológica sul-coreana no mercado dos topo de gama.

Aproveitando que tem uma das melhores câmaras e um dos melhores ecrãs do mercado de smartphones, é preciso potenciar estes itens e mostrar aos consumidores que logo ali no expositor ao lado está um smartphone tão capaz ou até melhor que a concorrência.

A luta pela posição de melhor smartphone do mercado está bonita e os grandes beneficiados são os consumidores: cada vez há melhores dispositivos, com características cada vez mais arrebatadoras.

Rui da Rocha Ferreira