A Apple sempre teve um excesso de egocentrismo nas suas apresentações. Apesar de partilhar o palco com algumas elementos de outras empresas, a marca da maçã sempre se focou mais nos serviços, produtos e ferramentas que desenvolve. Mas desta vez houve uma clara mudança de tom: mais do que receber atenção, a Apple quer que o foco da ribalta esteja sobre os programadores.



O iOS 8, sistema operativo apresentado ontem, 2 de junho, na WWDC'14, e que vai equipar os iPhone e iPad mais para o final do ano, trouxe possivelmente mais novidades – e também mais relevantes – para os developers do que para os consumidores. Mas no fim será sempre o utilizador final o beneficiado e a Apple sairá com uma imagem mais sólida da guerra pelo ambiente mobile.



A tecnológica de Cupertino tem 4.000 novos interfaces de desenvolvimento de aplicações disponíveis para os programadores no SKD do iOS 8. Houve um foco maior na área de jogo, na partilha de dados entre aplicações e até na abertura do sistema operativo às “extravagâncias” de programadores externos.



O TeK resume agora algumas das novidades que se destacam do ponto de vista dos developers.



Metal – uma nova plataforma para jogos


O novo interface de desenvolvimento de jogos vai permitir que os programadores consigam criar títulos que apesar de potentes, consomem menos recursos do smartphone ou tablet ao nível de processamento. Isto faz com que os jogos corram de uma maneira mais suave e deixa aproveitar o poder “extra” para caprichar no grafismo e nos elementos de novos jogos.



Fala-se mesmo em gráficos equivalentes ao das consolas nas plataformas móveis da Apple. Para isso a tecnológica trabalhou de perto com algumas das maiores empresas do sector: Crytek, Unity, Electronic Arts e Epic Games



O Metal é de acordo com a Apple superior ao OpenGL e permitirá que o Unreal Engine 4 e o Frostbite – dois motores de desenvolvimento de jogos – possam adaptar-se da melhor forma ao iPhone e iPad.



Resultados “limpinhos” desta nova plataforma só quando o iOS 8 for lançado no final do ano.



Extensibilidade – um “palavrão” para um iOS melhor


Em curtas palavras, extensibilidade é a capacidade que as aplicações terão de comunicar e partilhar dados entre si. Em alguns casos, a extensibility vai fazer com que algumas apps funcionem como plug-ins de outras apps. No palco o vice-presidente de engenharia de software da Apple, Craig Federighi, mostrou o Safari a traduzir uma página de japonês para inglês com a ajuda do Bing. E depois partilhou uma imagem dessa página através de uma extensção do Pinterest.



A Apple conseguiu garantir que a segurança do sistema e dos dados ficam garantidos, guardando as informações mais sensíveis numa sandbox que não poderá ser acedida por aplicações externas. A aplicação de fotografias por exemplo, vai permitir uma edição de fotos se houver outras apps de edição focadas no extensibility.



Graças à extensibilidade das aplicações, o iOS ficou mais aberto. Os programadores podem agora criar widgets para o centro de notificações, uma funcionalidade que até aqui estava reservada para a Apple.



Pela primeira vez a tecnológica de Cupertino também vai permitir outros teclados no iOS além do nativo. Swiftkey e Fleksy já confirmaram estar a trabalhar em teclados para o novos iOS.



Extensibilidade Parte II: HomeKit e HealthKit


O iPhone, o iPad e as outras versões do iOS há muito que são casa para periféricos e serviços de saúde e domótica. As bandas fitness ou os sistemas inteligentes de iluminação da Philips são disso exemplo. Agora a Apple quer agregar todas as informações dessas áreas em dois núcleos: o HealthKit, para a saúde, e o HomeKit, para a domótica.



Além de ganhar acesso a estas informações, a Apple vai partilhar estas informações entre aplicações e vai tirar partido de sinergias.



No futuro, quem sabe não muito distante, será possível dar comandos ao assistente Siri para que controle a iluminação da casa ou para que tranque as portas na hora de dormir. A Apple está consciente de que atualmente será difícil entrar no segmento do hardware nestes campos, portanto prefere ser o centro nervoso de todo o ecossistema que já existe.



Touch ID para todos


Os programadores podem agora usar o leitor de impressões digitais do iPhone – e quem sabe no futuro do iPad – para reforçar os níveis de segurança das aplicações. Autenticação, validação de compras ou reconhecimento de diferentes utilizadores são algumas das possibilidades que vão estar ao alcance dos developers.



Mais uma vez a Apple foi cautelosa na questão da segurança, dizendo que os dados das impressões digitais ficarão armazenados no iPhone e os programadores das aplicações nunca terão acesso.



Neste campo é de notar que o assistente virtual Siri, mesmo estando disponível há mais tempo, continua sem poder ser usado pelos programadores de uma forma mais livre.



Swift – uma linguagem para os ouvidos dos programadores?


De todas esta terá sido talvez a maior surpresa do dia para os developers. A Apple desenvolveu uma linguagem de programação própria que tem capacidade para coexistir em com outras linguagens de desenvolvimento, dentro de uma mesma app.



A vantagem está no facto de em Swift os programadores puderem ver em tempo real o resultado do desenvolvimento. De acordo com a Apple, além da programação mais rápida, o desempenho das aplicações construídas em Swift também será superior.



Swift será também uma linguagem de desenvolvimento para o Mac OS X. Os mais versados em programação podem descarregar o livro da Apple sobre a nova linguagem neste link.



Em resumo, os programadores vão passar disto...

[caption]Hello World[/caption]

… para o comando println("Hello, world").

O TeK convida agora os leitores a comentarem e a nomearem outras novidades apresentadas ontem pela Apple que tenham grande impacto na forma como os programadores vão encarar o próximo iOS.


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico