No âmbito da parceria que o TeK mantém com a revista Programar, publicamos hoje, em antecipação, um dos artigos que integrará a edição de fevereiro da revista.



Da autoria de Fernando Martins, o texto reflete sobre as condições de trabalho à disposição dos colaboradores das empresas que optam por salas open space. Não sendo um problema exclusivo da área de informática, o autor reflete a questão pelo impacto que pode ter na produtividade dos colaboradores e na fatura de quem contrata serviços de outsourcing, por exemplo.




Core Dump - Ambientes Produtivos


A área de informática é um dos casos mais prementes onde a gestão comete erros infantis no que toca à disponibilização de um ambiente produtivo. Estes erros são particularmente visíveis na área da consultoria, onde aos consultores externos não são dadas as melhores condições de trabalho (e a bem da verdade, aos colaboradores internos também não).



Um dos erros mais comuns é a utilização de open spaces, uma ideia que ganhou particular força a partir dos anos 50 sob a ideia de que colocar múltiplas pessoas num espaço aberto proporciona mais oportunidades para observar e aprender com aqueles que são mais experientes e possuem competências diferentes. Na verdade, há até estudos que provam que a produtividade de curto termo pode aumentar. Mas há também estudos que mostram que este tipo de ambiente pode ter quebras de produtividade até 15% e reduzir o bem estar das pessoas até 32%.[1]



Mas qualquer pessoa com bom senso não necessita de estudos científicos para observar que é totalmente contra-produtivo ter num mesmo espaço dezenas de pessoas com competências e funções distintas sentadas lado-a-lado. Rapidamente nos apercebemos que é impossível manter a concentração para desenhar uma arquitetura quando ao nosso lado está um comercial cujo telemóvel toca constantemente e que passa o dia a falar ao telefone e a gritar com a produção por não conseguir cumprir o prazo acordado com o cliente. Situação semelhante se passa quando estamos a pensar numa solução para um problema complexo e na secretária à nossa frente se desenrola uma reunião com três pessoas onde por vezes os ânimos se exaltam na tentativa de fazer ver que determinada opinião é a melhor de todas as que se encontram em discussão.



Só quem nunca trabalhou num local fechado e sossegado não consegue avaliar a extensão dos danos que este tipo de ambiente faz. Mas o que mais me espanta é que este tipo de ambiente continua a ser patrocinado pelos próprios clientes, sendo a prática comum. Sendo os clientes que pagam estas falhas de produtividade dos seus colaboradores e as horas dos consultores externos, deviam ser os próprios a zelarem pelos seus interesses e proporcionar um ambiente produtivo que permitisse a execução das tarefas de forma expedita e com qualidade. No entanto, os clientes, que tantas vezes se queixam do preço, parecem gostar de pagar esta fatura, uma vez que são os próprios que atribuem estes horrendos lugares.



Mas há outros erros igualmente infantis que se repetem um pouco por todo o lado. A falta de tomadas elétricas e pontos de rede é um deles. É comum um consultor externo levar o seu portátil e ser-lhe atribuído um desktop quando chega ao cliente, ou ser-lhe atribuída uma secretária onde se encontra um desktop, mesmo que não seja para seu uso. Quando se tenta ligar o portátil acontece sempre o mesmo filme: não há nenhuma tomada elétrica livre e se por um feliz acaso houver um ponto de rede livre, este encontra-se desligado no bastidor.


É certo que o Wi-Fi veio minimizar este problema, mas os hubs de 8 portas e as extensões triplas ligadas a extenções quíntuplas continuam a existir aos molhos em cima e em baixo das secretárias, sempre acompanhadas por um emaranhado de fios que gostam de se enrolar nas nossas cadeiras ou nos nossos pés. Tudo isto em edifícios (ditos) modernos que têm pré-instalação de rede informática, como tanta vez ouço os comerciais da área imobiliária apregoarem. Quem se depara com esta triste realidade sabe que por vezes esta situação se torna tão ridícula que quando se quer carregar um telemóvel é necessário ligá-lo a uma tomada na casa de banho ou na copa. Pensar em ter um segundo monitor ligado ao computador então, nem pensar...



Os erros não terminam aqui, e há situações mais ou menos extremas que se tornam tão caricatas como ridículas, como seja a situação em que uma impressora tem direito a um lugar à janela e plantas verdes à sua volta e os profissionais se encontram ao fundo da sala, 12 por fila em 3 filas seguidas e que nem o estore podem abrir porque o ar condicionado não funciona e como tal têm de manter as janelas fechadas. Ou a situação em que a máquina do café fica mesmo ao lado da equipa de desenvolvimento, vendo-se forçada a suportar o irritante ruído do processo de moagem e compactação do café e extração da água, vezes e vezes e vezes sem conta durante todo dia... Como se não bastasse, toda a gente se reúne à volta da máquina para conversar ou fazer mini-reuniões...



Os exemplos são inúmeros, basta olharem à vossa volta e vão encontrá-los sem dificuldade. Estes erros infantis podem ser fácil e rapidamente suprimidos. Quem fizer as contas ao custo de uma hora de trabalho de todos quantos são afetados por estes erros, rapidamente se apercebe que o valor obtido até à hora de almoço já cobria o investimento na melhoria do ambiente para o tornar produtivo.

[caption]Imagem do filme Office Space[/caption]
Imagem do filme Office Space



Um bom gestor sabe que este tipo de ambiente é contra-produtivo mas, no entanto, estes ambientes prevalecem...


[1] Working in an office is bad for your brain.



Escrito por Fernando Martins



Este artigo faz parte da próxima edição da revista PROGRAMAR nº 33 de Fevereiro de 2012

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico