Depois de na semana passada termos alinhado os 10 produtos tecnológicos que mais marcaram 2012, hoje deixamos a lista dos maiores fiascos do ano. Tal como tinha acontecido com a eleição anterior, não foi fácil chegar aos 10 piores: aos que mais desiludiram e aos que ficaram mais longe de se transformar no que prometiam ser. Encontrados os piores, voltámos a chamar os leitores para ordenar a lista e deixar a sua opinião. É tempo de analisar resultados.



TDT: a promessa digital

A televisão digital terrestre acabou por ser a grande desilusão do ano para os leitores do TeK. Trinta e quatro por cento dos 3.260 votantes elegeram o tema. Depois de anos de avanços e recuos no modelo e nas datas de implementação a TDT chegou a todo o país em abril do ano passado, no processo de migração da TV analógica que foi gradual.



Ao contrário do que acontece noutros países a geração digital da TV em sinal aberto não trouxe novos canais (exceção para o canal Parlamento que se estreia hoje), mas trouxe custos. Passar do analógico para o digital, para quem não tem um televisor de última geração, obrigou a despesas com descodificador ou com uma solução de satélite, para quem reside em zonas onde o sinal da TDT não chega.



Explosão do malware para smartphones

Não foi uma surpresa. As empresas de segurança vinham prevendo que o malware deixasse cada vez mais de ser uma realidade apenas nas plataformas tradicionais e se disseminasse para novos suportes e assim aconteceu.



2012 foi o ano em que uma botnet afetou mais de 600 mil computadores com Mac OS, mas foi também o ano em que o malware para smartphones se transformou num problema sério. Como líder de mercado, o Android é um alvo por excelência, o que levou 32% dos nossos leitores a apontarem o facto como a grande desilusão do ano.



Ao longo do ano sucederam-se notícias reveladoras de que se há espaço para melhorias no sistema operativo móvel promovido pela Google, será com certeza ao nível da segurança.



[caption]Ranking fiascos[/caption]

Apple Maps

Capaz de motivar ódios e paixões - bem vincadas nos comentários do TeK ao longo de todo o ano - é justo que a Apple tenha um lugar no melhor e no pior de 2012. Com uma imagem de qualidade e robustez construída ao longo de anos, a Apple cultiva a qualidade (e o marketing) como poucas empresas e quando a máquina falha…dá que falar. O Apple Maps voltou a prová-lo. A aplicação substituiu o Google Maps no sistema operativo móvel da fabricante da maçã, uma opção que rapidamente se percebeu ter sido precipitada.


A empresa tentou emendar rapidamente os erros mais flagrantes mas não conseguiu evitar o descontentamento dos clientes e até situações mais insólitas como um aviso da polícia australiana que considerou os mapas perigosos e capazes de pôr em risco de vida quem os utilizasse. Ainda antes disso Tim Cook já tinha feito um pedido de desculpas público pelo lançamento. Um pouco depois, o homem que coordenou o projeto mudou de cargo
Entretanto a Gooogle desenvolveu uma aplicação dos seus mapas para iOS que foi descarregada dez milhões de vezes em 48 horas.


Guerra de patentes

Algo que sem dúvida marcou também o ano de 2012 foi o enorme número de processo judiciais relativos a disputas de patentes, com os principais gigantes da tecnologia a aplicarem boa parte do seu tempo e recursos a este tema. Se existir um top das empresas que mais recorreram à justiça para defender propriedade intelectual em 2012 as empresas norte-americanas provavelmente ganham, mas não são as únicas a adotar esta estratégia, num mundo onde é possível patentear quase tudo. HTC, Microsoft e Motorola são empresas que ao longo do ano foram por diversas vezes notícia em casos de patentes.


A este nível a disputa Samsung / Apple marcou o ano. Há dezenas de processos a correr em vários países, com trocas de acusações entre as duas empresas e pedidos de providência cautelar a tentar impedir vendas de produtos. O processo principal decorre nos Estados Unidos e na decisão de primeira instância foi aplicada à Samsung uma pena de indemnização de mil milhões de dólares.




Fim do Megaupload
O ano 2012 começou mal para Kim Dotcom, um dos fundadores e o principal rosto do Megaupload. O hacker foi detido e o serviço encerrado pelas autoridades norte-americanas, que fizeram culminar uma longa investigação a um dos maiores serviços de partilha de ficheiros digitais, num rol de acusações para os empresários que o sustentavam.


Os utilizadores ficaram sem serviço e sem dados. Kim Dotcom, que vivia e continua a viver na Nova Zelândia, ficou - depois de libertado - à espera de uma resposta da justiça local relativamente ao pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos, que querem julgar o hacker naquele país onde a moldura penal é mais pesada.


A justiça australiana só decide em março se Dotcom vai ou não para os EUA. Enquanto isso, este prepara um novo serviço que estará blindado a questões legais relativas à violação de direitos de autor: encriptação de dados é a base de toda a informação que circulará no novo Mega, a lançar dia 19 deste mês. Entre os leitores do TeK, 4% elegeram o fim do Megauplod como uma das desilusões de 2012.




Surface
Os Surface foram uma das grandes apostas da Microsoft para os últimos meses de 2012 mas nem mesmo uma época em que os tablets estão na moda parece ter sido razão suficiente para motivar os utilizadores a comprarem os dispositivos.



Alguns estudos de mercado apontam para a venda de um milhão de unidades ou até menos, enquanto a Microsoft nem se pronuncia sobre quantos Surface foram comercializados. O fraco planeamento de distribuição e o preço relativamente alto mesmo quando comparado com o iPad, assombram a aposta da Microsoft no mundo do hardware.



Para piorar a situação as análises da imprensa especializada não abonam de todo a favor do tablet e do Windows RT - única versão disponível no dispositivo, para já. Entre o número baixo de aplicações e alguns problemas a nível de desempenho, que até obrigaram a Microsoft a lançar uma atualização, as grandes promessas e o aparente potencial da máquina fizeram o resto da desilusão.



Nexus Q

No mesmo dia em que apresentou o Nexus 7 e a versão 4.1 do Android, em junho passado, a Google também mostrou a Nexus Q, uma central de media que a empresa apresentou como uma jukebox para streaming a partir da nuvem. Funcionaria em combinação com um tablet ou smartphone Android, dispondo de uma ligação Wi-Fi.



Voltámos a ouvir falar deste gadget logo em agosto, para ficar a saber que o seu lançamento tinha sido adiado por tempo indeterminado. Quem já tinha feito pré-reserva do produto ficou a saber que o lançamento comercial era atrasado a bem do desenvolvimento de um produto "ainda melhor", que ainda não chegou.



IPO do Facebook
Outro tema que marcou o ano - embora apenas 1% dos leitores do TeK o tenha eleito como desilusão de 2012 - foi o IPO do Facebook. A enorme expectativa criada em torno da operação acabou por fazer com que a operação de dispersão de capital em bolsa se tornasse num grande fracasso para todos os que investiram e quiseram garantir uma participação na rede social mais usada em todo o mundo. O valor das ações tem-se mantido longe dos preços iniciais (embora a recuperar do tombo) e assim deve manter-se.



A gestão da operação está mesmo a ser investigada pelas autoridades norte-americanas que suspeitam de práticas ilícitas dos bancos envolvidos. A Morgan Stanley foi um dos bancos que aceitou já pagar cinco milhões de dólares para impedir que a investigação avance.


BlackBerry 10

O BlackBerry 10 em si não foi uma desilusão de 2012. A desilusão foi o facto de a nova versão do sistema operativo não ter chegado a ser lançado, ainda que essa fosse a previsão inicial da RIM, que passou por 2012 completamente "apagada" num mercado que foi recheado de novidades pelos fabricantes que querem discutir a liderança mundial. A votação dos leitores do TeK foi a condizer, com menos de 1% dos que votaram a eleger o tema como flop do ano.


Mesmo com atrasos no lançamento de produtos, com o adiamento da versão renovada do sistema operativo e a recuperar de uma falha monumental nos serviços de correio em 2011, a RIM garante que está para durar. Em 2013 voltará a tentar prová-lo.



Estratégia da HP para o WebOS

Se ainda persistissem dúvidas relativamente ao fim do WebOS, as decisões da HP em 2012 acabaram com elas…e (quase) acabaram também com um dos ativos mais interessantes do portefólio de tecnologias da Palm dos últimos anos.


Como se sabe, o WebOS foi um dos grandes pretextos para a compra milionária da "mãe" dos PDAs pela HP. Os planos e as promessas da gigante da tecnologia para o sistema operativo começaram nos smartphones, passaram pelos PCs e pelas impressoras e acabaram no open source.



A sair de um período conturbado, marcado por várias mudanças de liderança, a HP reduziu drasticamente o investimento no WebOS. Abriu o código da plataforma, criou uma empresa separada para gerir o produto e apresentou as primeiras versões open source, esperando suscitar o interesse da comunidade de programadores. Será cedo para dizer tarde demais? Tememos que não.

Menos de 1% dos leitores do TeK ficaram desiludidos com o desfecho dado pela HP ao WebOS.



Fechamos com a habitual sugestão de partilha de comentários sobre o tema na respetiva caixa e com votos de um excelente 2013 da equipa do TeK, num ano em que esperamos que as histórias da tecnologia se façam essencialmente de sucessos

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Cristina A. Ferreira