Parece difícil recordar o tempo em que não havia Internet, mas a verdade é que a grande rede de comunicação e partilha de informação é um acontecimento recente na história da humanidade e que a versão “moderna” da Internet tem apenas 30 anos, celebrados ontem, 1 de janeiro.

Os primeiros passos da Internet foram dados nos anos 60 do século XX, com as primeiras trocas de mensagens entre computadores e o estabelecimento de redes de comunicação. Em 1962 o departamento de técnicas de processamento de informação no DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) recebeu a incumbência de ligar os computadores do departamento de defesa dos Estados Unidos dispersos em três localizações: montanhas Cheyenne, Pentágono e no quartel general do SAC (Strategic Air Command).

Foi então criado um grupo de trabalho que iria desenvolver o projeto que viu a luz apenas em 1969 com a primeira ligação da ARPAnet, estabelecida entre a Universidade da Califórnia e o Instituto de Investigação de Stanford, mas ainda baseado em protocolos de comunicação proprietários.



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Mapa lógico da ARPAnet, em 1977. Fonte: Wikipédia


A ARPAnet tornou-se uma peça central do que viria a ser a Internet, sendo reconhecida como a primeira rede de comutação de pacotes (packet switching), mas a “idade moderna” da Internet é assinalada em 1983, com a mudança para o protocolo TCP/IP que ainda hoje é utilizado para a comunicação de dados.

Vint Cerf, que participou nessa implementação, recordou ontem num post no blog da Google a aventura desde que em 1969 se juntou a um grupo de cientistas e técnicos para o teste de comutação de pacotes na ARPAnet até à mudança para o novo protocolo TCP/IP.

Sem uma linguagem de comunicações uniformizada a Internet estava condenada a ser uma rede de redes dispersas, já que cada rede usava os seus próprios protocolos, formatando os pacotes à sua maneira, sem a necessária interoperabilidade para troca de informação, como explica Vint Cerf.

Por isso, em conjunto com Robert Kahn, Vint Cerf desenvolveu o novo protocolo de comunicações desenhado para suportar as ligações entre diferentes redes, que foi chamado de Transmission Control Protocol (TCP) e que foi publicado em 1974 num paper no IEEE. Mais tarde o TCP foi dividido em duas partes, para gerir melhor a transmissão de dados em tempo real – incluindo a voz – e à segunda componente foi dado o nome de Internet Protocol (IP), e a combinação dos dois protocolos passou a ser conhecida por TCP/IP.




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Primeiro o protocolo foi testado nos três tipos de redes desenvolvidas pela DARPA, tornando-se um standard aprovado pela UIT (União Internacional das Telecomunicações. Em 1981 foi publicado por John Postel um plano de transição para migrar os 400 servidores da ARPAnet do antigo protocolo NCP para o TCP/IP, com deadline marcado para 1 de janeiro de 1983.

É esta a data que é agora assinalada como o “nascimento da Internet moderna”, embora Vint Cerf se recorde que não houve nenhuma celebração especial, apenas um sentimento de alívio por se ter conseguido cumprir o prazo limite. Não há fotografias a marcar o momento, mas o “pai da Internet” desenterrou um pin com a mensagem “Eu sobrevivi à mudança para o TCP/IP”, com a data de 1 de janeiro de 1983, usado orgulhosamente pelos técnicos e cientistas que trabalharam no projeto.




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“Passaram quase 40 anos desde que eu e o Bob escrevemos o nosso paper, e posso assegurar que, embora tivéssemos grandes expetativas, nunca nos aventurámos a assumir que a Internet se tornaria a plataforma mundial em que se transformou. Sinto um imenso privilégio de ter participado neste acontecimento, como qualquer pai orgulhoso, e deliciei-me em vê-la a crescer. E continuo a fazer o que posso para proteger o seu futuro”, afirma no post publicado pela Google.

“Espero que todos se juntem a mim hoje [1 de janeiro de 2013] num brinde à Internet. Que possa continuar a ligar-nos nos próximos anos”, acrescenta ainda o pai da Internet e atualmente vice presidente e evangelista na Google.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico