O Bitcoin (BTC) tem estado nas bocas do mundo acima de tudo pelo entusiasmo que tem causado por ser uma alternativa ao sistema financeiro atual. Longe de reunir consenso de todas as pessoas e especialistas sobre a sua verdadeira capacidade disruptiva, a verdade é que nas últimas semanas esta moeda digital tem valorizado de forma meteórica e no dia 9 de abril cada Bitcoin valia 200 dólares.

Envolto em discórdia, por fugir à centralização do sistema monetário dos bancos, o sucesso é indiscutível: no início do 2013 valia apenas 20 dólares, significando que no espaço de três meses e meio valorizou cerca de dez vezes. Este crescimento, diz a imprensa especializada, deve-se sobretudo à crise do Chipre e ao imposto especial que vai ser aplicado às contas com mais de cem mil euros que está a causar uma grande desconfiança nos bancos e nos sistemas financeiros.

Curiosamente o Chipre, país que está a atravessar uma fase económica complicada, foi escolhido para ser a primeira nação a ter uma caixa de multibanco que permite trocar dinheiro por Bitcoins e vice-versa.

Se o sistema financeiro "físico" não dá segurança, o risco de apostar numa nova plataforma económica começa a fazer mais sentido para cada vez mais utilizadores.

A este fator, associa-se a componente de "quase jogo" que o Bitcoin permite. É que além de ser uma moeda que serve para comprar bens em lojas online, também pode ser vendida e comprada como tal, como uma moeda. Isto é, vender um Bitcoin agora por 200 dólares pode ser vantajoso já que amanhã pode apenas valor cem dólares. Mas quem comprar uma moeda amanhã, pode lucrar centenas de dólares daqui a 12 meses caso o valor do Bitcoin dispare para os 400 dólares por exemplo. Um jogo perigoso e que fica sujeito à especulação.

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O sucesso do Bitcoin também está associado à rigidez e à pouca abertura dos sistemas económicos digitais usados atualmente. Anunciado como uma plataforma open source que pode ser revista por qualquer pessoa, o caráter verdadeiramente aberto deste esquema financeiro está na descentralização dos sistemas bancários.

Um por todos e todos por um

O Bitcoin pode ser comparado a uma plataforma de partilha de ficheiros peer-to-peer, mas neste caso apenas envolve dois utilizadores e assenta na transação monetária. O Manuel pode enviar uma determinada quantidade de dinheiro para o Pedro sem que esta ação passe por bancos e não ficando por isso sujeita a comissões e outras possíveis taxas.

A troca de dinheiro é também confidencial e encriptada, demorando cada transação entre 15 a 60 minutos até ficar completa. Este formato "secreto" torna o Bitcoin uma opção ideal para quem quer transferir grandes quantidades de dinheiro não declaradas. O que levanta uma enorme sombra de ilegalidades à qual o Bitcoin é e vai ser associado.

Existe um limite máximo para o número de Bitcoins que podem existir - esse valor está para já definido em 21 milhões. As estimativas mais recentes apontam para que já exista 11 milhões em circulação.

A cada dez minutos, são produzidos 25 novos Bitcoins mas este valor vai diminuir até 2017. O teto máximo de dinheiro digital produzido só deve ser atingido em 2140.

Para haver produção de novos Bitcoins é preciso que haja uma "mineração". Este processo, que pode ser realizado individualmente ou em grupo, implica o processamento de milhares de cálculos de difícil resolução que consome boa parte do desempenho dos computadores. São estes cálculos que permitem a transação do Bitcoin no mundo e como recompensa os "mineiros" recebem moedas - que dependendo do seu valor, tanto podem valor alguns cêntimos como centenas de dólares que é o caso atual.

Dito assim até parece simples. Mas como relata o The Next Web, uma placa gráfica comprada para acelerar o processo de solução das transações do Bitcoin pode demorar até seis meses para se tornar lucrativa. Isto sem contar com as restantes componentes dos computadores e com a quantidade de eletricidade que também vai é necessária. E se a moeda desvaloriza, tudo foi afinal um "desinvestimento".

E é por causa deste processo de mineração que já existem esquemas fraudulentos que tornam os PC de vários utilizadores em escravos para a causa do Bitcoin - tal como o TeK deu ontem conta num esquema que estava a usar o Skype para espalhar um malware.

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Moeda para o futuro?

Há quem diga que sim, há quem defenda que não. E as opiniões sustentam-se no caráter volátil da moeda.

O recente ataque informático de que o MTGox foi vítima, um dos maiores portais de transação de Bitcoins, revelou que a moeda é vulnerável a ataques e que isso influencia de maneira significativa o seu valor. O ataque pode mesmo ter sido mais do que um simples ato de hacking: mostrar a vulnerabilidade do sistema ajuda a que a moeda desvalorize, para que seja comprada em grandes quantidades que vão depois ser vendidas a um preço mais elevado quando a confiança for restabelecida.

Esta volatilidade é para já um dos grandes problemas do Bitcoin. Isso, e o facto de não ter nenhum agente regulador que equilibre a balança e que possa evitar um colapso - que muitos consideram ser um cenário possível dado o grande interesse que se tem desenvolvido à volta da moeda digital. A bolha pode rebentar, mas também pode ficar estável e evoluir positivamente.

O Bitcoin também perde para os serviços de transações digitais mais conhecidos pelo facto de ainda não ser utilizado por muitos vendedores. Mas aos poucos é possível encontrar lojas ou vendedores na Internet que trabalham com Bitcoins.

Como usar

Para o processo de mineração que já foi referido, o utilizador deve instalar um programa que torna então o computador numa máquina comunitária de resolução de equações. Resolvê-las sozinhas vai necessitar de um computador potente e de várias semanas de trabalho, pelo que o melhor é procurar grupos. No site BitcoinCZ existem várias associações de trabalho.

Além do processo de mineração, é possível obter os Bitcoins simplesmente comprando-os a alguém que os esteja a vender. Nos sites LocalBitcoins e TradeBitcoin é possível encontrar vendedores através da posição geográfica. Em Lisboa existem vendedores e também compradores, por exemplo.

Mas antes de iniciar os negócios propriamente ditos é necessário criar uma carteira virtual que possa suportar o Bitcoin. Procure as aplicações oficiais e as carteiras com melhor feedback dos restantes internautas por uma questão de segurança financeira e de investimento. Coinbase, InstaWallet e MyWallet são os serviços recomendados pelo WeUseBitcoin, um site especializado no dinheiro digital e que esclarece várias dúvidas relacionadas com a tecnologia.

E os leitores do TeK, o que acham do Bitcoin? A caixa de comentários está também à disposição de quem já usa a moeda e tenha tido experiências positivas ou negativas com a mesma.

Nota de redação: corrigida uma gralha no texto


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico