Se todos participarem com um pequeno esforço é possível construir grandes obras. Este é o conceito por detrás do Crowdsourcing, uma ideia alinhada por Jeff Howe em Junho de 2006, num artigo publicado na Wired, e que sustenta uma das bases mais importantes da filosofia da Web 2.0.

Os projectos colectivos têm-se multiplicado na Internet, tirando partido de plataformas wiki e de sistemas colaborativos, tornando-se mais ou menos conhecidos conforme a dimensão que assumem e a relevância percepcionada.

A Wikipédia será talvez a materialização mais famosa de um projecto de crowdsourcing, mas também o Linux e outros projectos de código aberto caem na mesma classificação, juntando o contributo de muitos autores (a grande maioria ilustres anónimos) para o trabalho final, mesmo que com motivações e finalidades diferentes.

A fronteira entre projectos open source e crowdsourcing nem sempre é clara, mas também não precisa de ser completamente definida, assim como o modelo de exploração do resultado obtido pelo trabalho colectivo.

O iStockPhoto, e até o Facebook são exemplos de como o poder de muitos pode ajudar também um negócio, sendo que no caso da rede social o crowdsourcing foi utilizado para a tradução da informação para várias línguas.

Outros exemplos positivos foram experimentados por empresas como a Amazon, com o Mechanical Turk, um marketplace onde se pode comprar "inteligência", num conceito organizado de trabalho para um determinado projecto, em grupos ad-hoc.

Na mesma linha, o 99Designs.com é outra das referências incontornáveis. Tem um objectivo de loja de serviços de design, juntando o contributo de muitos designers na criação de logos, design web, de brochuras ou mesmo de T-shirts. O serviço é profissional e está à distância de um clique.

[caption]99Designs.com[/caption]

Mas o trabalho colaborativo pode ser colado por contribuições anónimas. A Waze experimenta a ideia que tira partido da utilização de smartphones para construir uma base de dados de mapas e informação de trânsito em tempo real. Em Portugal a comunidade envolvida ainda está no princípio, assumem os promotores....

[caption]Waze[/caption]

Nesta área há muito mais exemplos a referenciar, mas hoje decidimos focar-nos em projectos artísticos, onde a junção de linhas, traços e pinceladas soltas de múltiplos utilizadores pode resultar em imagens surpreendentes... ou não.

Uma parte significativa dos projectos de crowdsourcing que se mantém na Web está relacionada com iniciativas de design criativo e arte, de duração efémera ou permanente. Escolhemos precisamente os que não têm objectivos financeiros e o The Sheep Market é uma referência, juntando mais de 10 mil ovelhas desenhadas por voluntários mais ou menos talentosos...

[caption]The Sheep Market[/caption]

A ideia foi de Aaron Koblin, e a premissa única era que as ovelhas fossem desenhadas viradas para a esquerda.

O artista repetiu a experiência com outros conceitos, entre os quais o mais recente The Johnny Cash Project, onde participou como director artístico.

Nesta homenagem a Johnny Cash, os visitantes são convidados a contribuir com um desenho, baseado em uma de três templates, que depois é colado numa sequência que é acompanhada pela música deste ícone, criando um filme. Alguns dos vídeos já podem ser vistos online e quem contribuiu tem espaço na lista de créditos.

[caption]Johnny Cash[/caption]

Menos direccionado, o SwarmSketch escolhe semanalmente um tema popular nas pesquisas web - esta semana o tratamento da artrite reumatóide - para desafiar os visitantes a usarem os seus traços e contribuir para a imagem geral. É preciso muita sintonia para um desenho significativo, até porque cada visitante tem direito a um traço curto... Depois pode ainda decidir se mantém ou não um dos traços feitos, escolhido aleatoriamente.

[caption]SwarmSketch[/caption]

Para além da dificuldade de chegar a imagens significativas, correm-se riscos de brincalhões infantis usarem símbolos menos próprios, como acontece na imagem desta semana.

O projecto já decorre há 1901 dias e acumula 352 desenhos, com mais de 195 mil traços "artísticos". Quem quiser pode navegar pelas obras expostas.

À procura de um retrato da sociedade actual, o projecto The One Million Masterpiece que espera conseguir imprimir uma obra de arte com uma dimensão de 80 por 31 metros. A base são os desehos fornecidos pelos internautas e já é possível ter uma ideia do resultado final.

[caption]The One Million Masterpiece[/caption]

O espaço à individualidade é garantido, e não há qualquer template a que seja necessário obedecer. Mais de 28 mil artistas de 174 países já deixaram a sua marca nos quadrados livres.

Já encerrado, o projecto Learning to Love You More agora só está disponível para consulta, mas manteve durante 7 anos a responsabilidade de oferecer tarefas aos visitantes, que as podiam cumprir com fotos, vídeos, clips de áudio e até documentos de texto.

O projecto dos artistas Miranda July e Harrell Fletcher foi adquirido pelo Museu de São Francisco, garantindo a sua continuidade, pelo menos estática. Uma das últimas missões, antes do "adeus" final, era subir a uma árvore e tirar uma fotografia da vista.

[caption]Learning to Love You More[/caption]

No Explodingdog não tem de se sentir limitado pela fraca capacidade artística: aqui quem desenha é o autor do site, Sam Brown, que só pede inspiração pelos títulos das imagens fornecidos pelos visitantes do site. Um dos últimos desenhos obedece ao tema "Today it starts all over again"...

[caption]Explodingdog[/caption]

Basta clicar nas frases para ir vendo os desenhos acumulados desde 2007.

Estes são apenas alguns dos muitos projectos colaborativos que se encontram na Internet. Se conhece outros de interesse não hesite em deixar a referência na caixa de comentários.

Fátima Caçador

Nota da Redacção: A notícia foi corrigida na referência ao serviço da Amazon, onde uma troca de letras tinha levado à troca do nome.