A segunda edição do inRes está fechada. Ficou concluída depois de quatro startups portuguesas passarem sete semanas nos Estados Unidos, onde tiveram oportunidade de receber formação, estabelecer contactos com outras startups, empreendedores, investidores e potenciais clientes.

O programa de aceleração é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e coordenado pelO CMU Portugal, juntando vários parceiros. Está dirigido a projetos TIC já com uma base sólida para a criação de um produto ou serviço, mas ainda a precisar de validação ao nível dos conceitos e do próprio modelo de negócio.

Começa com workshops e reuniões em Portugal e salta para Pittsburgh, onde está localizada a sede da CMU. Ainda passa por Silicon Valley – onde também existe um campo da CMU - antes de trazer os empreendedores de volta para Portugal, uma novidade que foi uma das estreias da segunda edição, como explicou em entrevista ao TeK o diretor nacional do CMU-Portugal.   

Facebook, Ford e Uber foram algumas das empresas com as quais as startups portuguesas tiveram oportunidade de contactar na edição deste ano do programa, a segunda, que levou aos Estados Unidos AdaptTech, Playsktech, Sceelix e Scraim. Em 2014 tiveram a mesma oportunidade outras quatro stratups: Addvolt, Displr, Followprice, Xhockware.

A oportunidade de fazer novos contactos e de chegar a empresas e gestores que noutro contexto não seria possível atrair estão entre os aspetos mais destacados pelos empreendedores que passaram pela experiência. “Foi uma experiência crítica para o nosso progresso”, reconhece Pedro Santa, cofundador da Playsketch. “No espaço de um mês e meio conseguimos estabelecer mais de 100 contactos. De outra forma era impossível”, acrescenta.  

Pedro Castro Henriques, CEO da Strongstep (que criou o Scraim) recorda que o plano da startup passava por conseguir fazer 100 contactos nos dois meses que ia passar nos Estados Unidos. Nos primeiros 15 dias já tinha feito 30 reuniões presenciais. No resto do tempo cumpriu um dos grandes objetivos da viagem e encontrou os parceiros para realizar os três pilotos que no início de 2016 levarão a empresa de volta aos Estados Unidos, agora por um período de tempo mais longo. Na mesma viagem a Strongstep ainda conseguiu fechar várias parcerias, que no futuro podem ter um impacto importante no negócio. O acordo com a PlugnPlay, um dos maiores aceleradores de Silicon Valley, está na lista das oportunidades promissoras.     

Noutros casos o programa de aceleração ajudou a identificar novas áreas de negócio, como aconteceu com a Sceelix, que nos Estados Unidos percebeu que, além dos jogos, pode aplicar a sua tecnologia a outros domínios, como os simuladores para a indústria automóvel, graças às reuniões com a Ford, ou da logística, para o planeamento de armazéns.

A oportunidade de contactar com a realidade empresarial dos Estados Unidos é outro aspeto destacado como positivo num programa deste tipo, sobretudo porque é aí que a maior parte das empresas quer fazer negócio. Os gestores reconhecem que os americanos são mais diretos na avaliação dos negócios e que os números são (quase) tudo. Saber mostrar - e saber explorar - o potencial para gerar receita é música para os ouvidos de qualquer investidor com uma agenda de cheia de projetos para avaliar.

 

Nas páginas seguintes descubra o que foram as empresas portuguesas mostrar a Pittsburgh e a Silicon Valley. Explorámos quatro casos, três viajaram este ano à boleia do inRes, um já fez este caminho em 2014. Alguma será um Google ou um Facebook? Ainda não sabemos.  

Cristina A. Ferreira

 

 

E se fosse possível criar cenários 3D muito mais depressa? A Sceelix diz que é     

Da tese de doutoramento de Pedro Silva, um dos cofundadores da Sceelix, saiu a matéria-prima para criar a startup que hoje apura uma ferramenta para gerar conteúdo 3D de forma massiva e muito rápida. A tecnologia pode ser aplicada a várias áreas, mas para já é no domínio dos jogos que a Sceelix a quer ver crescer. E tem uma promessa que pode fazer a diferença: garante que é possível reduzir o tempo de desenvolvimento de cenários entre três a 10 vezes utilizando a sua tecnologia.

A Steam, a loja de jogos em streaming para PC da Valve, ajudou a definir a estratégia da startup portuguesa e como tal chegar lá e dar nas vistas transformou-se num dos grandes objetivos. “Olhando para a Steam reparámos que há muitos game developers independentes que não têm os mesmos recursos das grandes empresas” embora estejam a criar produtos para o mesmo público, destaca Francisco Andrade. Enquanto um estúdio grande leva cerca de um ano e meio a desenvolver um jogo, os estúdios mais pequenos têm de o fazer em metade do tempo ou ainda menos do que isso, para rentabilizar investimentos e gerar receitas, continua o cofundador da startup.

Observando esta realidade, os três empreendedores que formaram o projeto concluíram que desenvolver um produto que ajudasse a acelerar o processo de criação de cenários seria uma oportunidade com muito potencial e vão tentar aproveitá-la.

Estão a trabalhar numa ferramenta que dará essa oportunidade a qualquer programador a partir da Steam, mas também querem vender serviços baseados na mesma tecnologia diretamente a empresas e também já avançaram nessa frente.

A tal ferramenta deverá ser lançada entre março e abril do próximo ano. Na mesma altura estarão prontos três novos jogos da Ground Control Studios (um estúdio do Porto) que vai tirar partido da tecnologia da Sceelix para acelerar o processo de desenvolvimento.  

Depois dos jogos a ideia é avançar para outros mercados, sendo que qualquer um dos campos a explorar esbarra no mercado norte-americano como destino prioritário. Durante o inRes uma das empresas com quem a Sceelix estabeleceu contactos foi a Ford e ficou a conhecer melhor as necessidades da indústria automóvel na altura de testar os veículos que produzem. Recorrem a simuladores e esse pode ser outro caminho para a Sceelix.

De volta aos jogos e ao princípio da história, a plataforma de software da startup portuguesa está em fase Alpha, mas o caminho para chegar à Steam já começou a ser feito. Está publicado no Greelight da plataforma, o local por onde têm de passar todos os jogos ou ferramentas candidatos a integrar o catálogo que chega aos utilizadores. Se a comunidade aprovar as portas abrem-se. Em 1800 entradas a Sceelix está a meio do top 100, o que são boas notícias. Apresenta-se com este vídeo.

 

 

Playsketch: transformar desenhos no papel em jogos digitais

Nunca pensou que gostava de modificar alguma coisa num jogo que está a utilizar? Fazer um salto mais extenso numa pista, uma curva diferente… os fundadores da Playsketch também pensaram nisso e arranjaram uma forma de o fazer. Estão a criar uma ferramenta para criar videojogos que vai permitir passar do papel para o mundo digital ideias para fazer jogos, tirando apenas uma fotografia.

“O que verificámos é que os meios de produção atuais são muito complicados. E pensámos: porque não usar uma competência que toda a gente tem para o fazer, como desenhar à mão”, explica Pedro Santa, um dos fundadores da startup.

A aplicação que a Playsketch está a criar permite tirar uma foto a um desenho feito num papel. A partir da imagem parametriza um conjunto de informações e converte as coordenadas do utilizador num jogo.

No futuro, a ideia é poder aplicar o conceito a qualquer tipo de desenho, mas para já a empresa está a trabalhar em templates que definem tipologias de jogos. O primeiro a ser lançado será o racing – para jogos de pistas de corridas. Na calha já estão mais alguns: três correspondências (tipo Candy Crush) ou Space Invader.

Os templates vão alimentar uma aplicação móvel que chegará primeiro a iOS e Android, mas que será estendida a outras plataformas. A estreia está marcada para o início de 2016, depois de um período de testes com um grupo fechado de utilizadores que vai acontecer nas próximas semanas.

O público-alvo da Playsketch nesta primeira fase serão pais e crianças e a aplicação será freemium, com templates gratuitos e pagos e atualizações com novos templates a cada três meses.   

No próximo ano a startup tem planos para lançar uma campanha de crowdfunding que ajude a levar o Playsketch para outro nível, transformando-se numa comunidade criativa em rede. 2016 também pode ser o ano para concretizar um conjunto de parcerias que foram alinhavadas durante a passagem da empresa pelos Estados Unidos, quando participou no inRes. Um dos contactos que pode converter-se numa parceria tem do outro lado do atlântico uma empresa de jogos educativos de Nova Iorque. Os museus da criança de Pittsburgh e São Francisco também estão disponíveis para usar a aplicação portuguesa nas suas atividades. Na mesma viagem a Playsketch foi à Apple mostrou a tecnologia que está a desenvolver a recebeu da empresa o interesse em acompanhar os próximos desenvolvimentos do projeto. Aqui fica a proposta da Playsketch em quatro passos. 

  

Juntar gestão de projetos e gestão de processos. Isso é Scraim

A experiência de vários anos em projetos de melhoria da qualidade do software em diferentes sectores, como a banca ou as telecomunicações, permitiram à Strongstone identificar uma necessidade comum e criar um produto que é a semente de uma nova empresa.

O Scraim junta a gestão de processos à gestão de projetos, numa ferramenta que traz para o nível da PMEs um conjunto de instrumentos para ajudar as empresas a melhorarem processos e a prepararem certificações complexos como o CMMI - Capability Maturity Model Integration. Pode ajudar a tornar o processo até quatro vezes mais rápidos e até seis vezes mais baratos, garante Pedro Castro Henriques, CEO.

Consegue fazê-lo de uma forma inovadora e isso tem aberto algumas portas e já valeu um investimento de 50 mil euros da Caixa Capital, na sequência da participação no inRes.  

Pedro Henriques explica que hoje existem apenas três ferramentas de apoio à certificação CMMI. “Não estão online, nem ligadas à gestão de processos. A nossa tem essas características e tem processos já prontos que podem ser adaptados”. As boas práticas estão embutidas na ferramenta, bem como toda a informação necessária para ir acompanhando a evolução do processo e saber quanto falta para chegar ao fim.

A plataforma já está disponível na Europa, onde a empresa acaba de fechar três novas parcerias. O grande objetivo para 2016 passa por levá-la para o mercado norte-americano.

A participação no inRes abriu caminho ao objetivo e permitiu alinhar três pilotos que nos próximos meses darão à empresa as primeiras referências naquele mercado, um passo importante para aguçar o interesse dos investidores no projeto, continuar a crescer e fazer o spin-off da Scraim, que por enquanto continua dentro da Strongstep.

Estes próximos meses serão passados em Pittsburgh, na incubadora da Carnegie Mellon University, mas a empresa também fará visitas regulares a Silicon Valley para aprofundar um conjunto de parcerias que já conseguiu fazer.

A PlugnPlay, um acelerador por onde já passaram empresas como a Google ou a PayPal, é um dos novos parceiros da Strongstone, que vai disponibilizar o seu software, em condições especiais a todas as empresas do universo PlugnPlay que o queiram usar. A ideia é ajudar a melhorar processos nestas empresas e contribuir para aumentar a taxa de sucesso dos projetos, explica Pedro Castro Henriques.  

 

Displr: uma nova vida para os ecrãs públicos

A Displr nasceu no Minho. É um spin-off da universidade da região e não tem modestia nas ambições. “Estamos a fazer pelos ecrãs públicos um pouco o que Facebook fez pelas páginas web”, diz Rui José, um dos fundadores do projeto, para sublinhar a simplicidade da tecnologia que a startup tem vindo a desenvolver. Ao contrário das soluções tradicionais, a solução criada pela Displr permite, a partir de um site, criar um ecrã com conteúdos adaptados ao local em questão.

Num primeiro momento a oferta está direcionada ao mercado de PMEs e às empresas e instituições que ainda não usam este tipo de soluções devido aos custos elevados dos produtos mais tradicionais. O primeiro segmento explorado pela empresa foi o das escolas e neste momento a solução já está em 60. “O ecrã é instalado e no mesmo dia fica a funcionar, com informação que vamos buscar a várias fontes”. Essa informação vai sendo atualizada de forma automática, acrescenta Rui José.

Enquanto avança nas escolas, a Displr procura parcerias para entrar noutros segmentos. Interessam-lhe cafés, hotéis, bibliotecas e espaços de trabalho e em algumas destas áreas já está a levar a cabo pilotos, como acontece no segmento dos cafés onde se juntou à Vodafone.

Nesta fase final de conclusão da plataforma outro objetivo da startup é atrair investidores e dar os primeiros passos na internacionalização. O mercado europeu é o grande foco, mas a experiência nos Estados Unidos valeu pela aproximação à cultura de negócios norte-americana, pelo acesso a um programa de formação de qualidade e pelos contactos que foi possível desenvolver, reconhece Rui José. 

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