Em 2015 devem ser vendidos mil milhões de smartphones, números que não deixam dúvidas em relação ao potencial das aplicações móveis, num ecossistema em que os dados se sobrepuseram à voz e onde os utilizadores procuram cada vez mais todo o tipo de experiências e respostas. Algumas previsões indicam que já em 2017 vamos descarregar 268 mil milhões de aplicações, que vão gerar receitas na ordem dos 77 mil milhões de dólares. Não é por isso de estranhar que o número de empresas que procuram tirar partido desta oportunidade seja grande, muito grande. É assim no mundo e em Portugal.

Para além das software houses que adequaram a estrutura para passar a ter oferta nesta área, nos últimos anos nasceram vários projetos especificamente focados na oportunidade criada pelo mobile, que como sublinha André Gil, CEO da Bliss, é hoje muito mais do que desenvolver aplicações. São também os wearables e cada vez mais a Internet das Coisas.

A Bliss está aí. Nasceu em 2009 como unidade autónoma do grupo de marketing digital WY Group, focada em exclusivo na área do mobile e nos últimos seis anos desenvolveu mais de uma centena de aplicações. No portefólio tem projetos como o Mapa do Cidadão, a aplicação que permite georreferenciar e consultar informação detalhada dos serviços prestados em qualquer ponto de atendimento da Administração Pública. Mas tem também uma lista extensa de aplicações ligadas a eventos, onde cabem alguns dos principais festivais de verão, banca, saúde ou distribuição. De Portugal saltou para o continente americano e hoje também desenvolve projetos no Brasil e nos Estados Unidos.

Nos últimos dois anos André Gil garante que o mercado amadureceu em Portugal e que de um cenário repleto de concorrência, onde o dumping de preços para conquistar clientes não era raro, passou para um universo com menos empresas, mais experientes. Umas focadas apenas no desenvolvimento de aplicações, outras ligadas a estruturas com um portefólio de serviços mais abrangente.

As próprias marcas passaram a fase em que queriam marcar rapidamente presença neste mercado mesmo sem compreender bem as expectativas dos clientes e os projetos estão hoje mais orientados áquilo que o utilizador procura, destaca o responsável.

No caso da Bliss a estratégia passou primeiro por ir dando resposta aos projetos que lhe chegavam. A predominância de algumas áreas/sectores ajudou a identificar necessidades transversais e hoje a empresa começa a estruturar ofertas para mercados específicos. Os eventos são o primeiro exemplo, materializado na aplicação Embly, que já deu suporte a vários eventos. Recentemente foi a app do Festival Internacional de Cultura, em Cascais.

 

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A empresa admite que em áreas como a gestão de filas de espera, saúde ou dos cartões de fidelização pode fazer o mesmo caminho. Tem produtos desenvolvidos que podem ser a base para explorar novas oportunidades nesses domínios.

Portugal continua a ser o principal mercado da companhia, mas o peso dos projetos internacionais aproxima-se do valor gerado no mercado local. É assim porque nos últimos dois anos o mercado local contraiu, mas também porque os projetos realizados nos Estados Unidos oferecem uma rentabilidade mais elevada.

Aí a Bliss está sobretudo a trabalhar com startups da área tecnológica. Está a desenvolver um projeto na área da saúde, para apoio a pacientes e profissionais de saúde no processo de registo num hospital e, com outro cliente, está também a desenvolver uma solução para guardar documentos de forma encriptada.

O mercado dos EUA é uma das grandes apostas da companhia no processo de internacionalização, pelo que até final do ano ao escritório de Boston juntará uma nova presença na costa leste, enquanto olha com interesse para o mercado europeu.

A Bliss soma cerca de 30 colaboradores e está a contratar. Admite dificuldades para encontrar recursos humanos com as qualificações necessárias e sublinha que as empresas portuguesas nesta área, além da escassez de recursos, deparam-se com a concorrência das multinacionais que também disputam os que existem. Mesmo assim não há planos para deslocalizar o centro de desenvolvimento para fora do país. Os custos e a produtividade de uma equipa centralizada num mesmo local pesam na decisão.

Cristina A. Ferreira