A finitude não é um tema a que os videojogos recorram com frequência para dinamizar os seus universos virtuais. As personagens raramente envelhecem. A juventude é retratada em flashbacks (Uncharted 4) e o tempo, a sentir-se, só influencia a idade dos protagonistas quando a mesma história é contada em vários títulos (Assassin's Creed).

Mas há um novo MMORPG que quer romper com o estabelecido e dar aos jogadores uma experiência onde terão de lidar com a efemeridade da vida e com as consequências do envelhecimento. Chama-se Chronicles of Elyria, já ultrapassou a sua meta de financiamento no Kickstarter e promete encorajá-lo a pensar para além da rama no que diz respeito à postura da sua personagem no mundo em que vive.

No jogo, cada personagem vive cerca de 10 a 14 meses de tempo real: começa jovem e vigorosa, amadurece, envelhece e acaba por morrer. Este tempo é, no entanto, influenciado pelo comportamento do utilizador durante todo o jogo onde cada morte prematura reduz em dois dias a esperança de vida do personagem, por exemplo.

O envelhecimento muda a sua aparência. A pele ganha rugas, o cabelo cai e ganha uma tonalidade esbranquiçada, os músculos ficam flácidos e o peso acumula-se com mais facilidade. Em alguns casos, as costas começam mesmo a curvar dando-lhe um aspeto mirrado.

O dinamismo com que as próprias personagens foram desenvolvidas espelha-se no mundo onde habitam. A economia flui entre os habitantes, os recursos são finitos, o mapa é inteiramente destrutível, as missões que vão surgindo são irrepetíveis e as experiências de cada jogador vão influenciando a vida de todo o reino e, consequentemente, as experiências dos outros utilizadores.

Seja a nível local, regional ou nacional, os conflitos que se vão travando entre as várias partes presentes influenciam o rumo das coisas dando origem a novas oportunidades e obstáculos que vão acabar por se cruzar no caminho dos jogadores.

Com este sistema, a Soulends Studio também se viu obrigada a repensar o modelo de negócio com que vai comercializar este jogo. Por 30 dólares, o jogador tem acesso a um Spark of Life, que é como quem diz, a uma vida útil. Reencarnar noutra personagem, que pode tomar um rumo completamente diferente, custará outros 30 dólares.

Este método é sustentado por outros constrangimentos. "Se matares outro personagem no jogo, a cara do teu boneco passa a figurar em avisos de captura e a tua cabeça é posta a prémio. Isto não só te afasta das cidades, como também te pode levar à prisão o que reduz significativamente o teu tempo de vida e cria repercussões financeiras reais ao jogador", esclarece a empresa.

Tudo isto desenrola-se num ambiente medieval onde as habilidades se treinam e o dinheiro é gerado com negócios próprios e contratos com outros jogadores.

A fase de antecipação de um jogo é sempre excitante. O quadro geral que se pinta com funcionalidades não testadas pelos utilizadores aparenta sempre ser a "next big thing", mas No Man's Sky ensinou-nos a baixar as expectativas. Será que Chronicles of Elyria vai conseguir surpreender?