Concrete Genie é o novo jogo da PixelOpus, o pequeno estúdio indie pertencente à família de produtoras da Sony. O estúdio, situado em San Mateo, na Califórnia, já havia oferecido o jogo rítmico Entwined (que foi um projeto escolar apadrinhado pela fabricante), mas o novo projeto é bem mais ambicioso, tanto tecnicamente, como de temáticas e mensagem que a pequena equipa de 20 elementos quer passar para os jogadores. Apesar deste exclusivo PlayStation 4 já ter estado disponível com uma pequena demo na última Lisboa Games Week, o SAPO TEK deslocou-se ao escritório da Sony em Madrid para experimentar a mais recente demonstração, a componente de realidade virtual, e conhecer as ideias da boca dos próprios produtores: Dominic Robillard, o diretor criativo e Jeff Sallangi, diretor de arte.
Este novo título teve como inspirações títulos como InFamous e Sly Cooper, mas sobretudo o clássico Jet Set Radio, no que diz respeito à arte das ruas, os graffitis, mas ao mesmo tempo oferecer uma mensagem, algo que foi tentado em Entwined, mas acabou por passar ao lado dos jogadores, devido às suas mecânicas complicadas. “No jogo seguinte teríamos de optar por um género que fosse mais fácil as pessoas se identificarem, de forma mais acessível. Por isso decidimos fazer uma aventura de ação na terceira pessoa”, refere Dominic Robillard.
A ideia era passar a mensagem de forma acessível, mas alcançar um público maior.“Existem alguns temas que queremos explorar no jogo. O Anti-bullying é um deles, mas também há uma mensagem ambiental, e algo que depois une tudo, que é o poder da criatividade e a autoexpressão no interior de cada um de nós” justifica o criativo. No fundo, Concrete Genie dá às pessoas a oportunidade de serem igualmente criativas na aventura, ou melhor, artistas, transformada na mecânica de pintura, premiando os jogadores ao verem as suas criações a, literalmente, ganharem vida e a interagirem com a personagem.
Liberte o artista que há em si
Isso ficou bem patente na demonstração disponível na apresentação, que corresponde logo ao início da aventura. O jogo arranca numa pequena cidade, com um ambiente negro, a roçar o imaginário de Tim Burton, com o protagonista Ash a fazer desenhos num bloco de papeis. Um grupo de miúdos rebeldes surge, fazendo bullying ao jovem, resultando em destruir o seu caderno de desenhos, com as folhas a serem levadas ao vento. Já em controlo da personagem, o objetivo é recuperar as folhas com as criaturas que desenhou, nomeadamente o tipo de cabeça, pernas ou caudas, que é necessário colecionar. E ao fazê-lo abrem-se novas peças e oportunidades criativas para o próprio jogador desenhar. Isto porque no meio da tristeza da personagem surge um pincel mágico, capaz de dar vida às suas criações e ao mesmo tempo dar luz a uma cidade que caiu na escuridão.
Em termos práticos, o jogador deve desenhar nas paredes dos edifícios pequenas criaturas, que depois ganham vida e ajudam a personagem a superar diversos obstáculos. Os puzzles giram em torno do mundo tridimensional, controlado na terceira pessoa, com as animações 2D projetadas nas paredes. “Eu pessoalmente não sei pintar, mas neste jogo sinto que o posso fazer. Demoramos bastante tempo a conseguir afinar as mecânicas, de transformar qualquer rascunho dos jogadores traduzidos em algo que tem bom aspeto”, explicar Dominic Robillard.
O interessante no jogo é que as criaturas, ou melhor, os Genies que ganham vida são o reflexo direto daquilo que o jogador desenhar: o tamanho das pernas, da cabeça, as orelhas, chifres e cauda, dando uma experiência única a cada jogador. “A forma como pintam os Genies afeta a sua personalidade. Por exemplo, se forem desenhados de forma mais horizontal, reagem como se fossem um cão, ao deslocarem-se em quatro patas”, salienta o diretor de arte.
Parte da experiência é possível graças ao motion sensor do comando da PS4, que permite acionar o modo criativo para desenhar e pintar livremente nas paredes. A nossa experiência com o jogo confirmou exatamente a forma intuitiva com que se alterna entre os controlos da personagem e as mecânicas criativas, que estimula o colecionismo, oferecendo ainda mais opções no editor de desenho através das páginas espalhadas pela cidade.
Durante a demonstração percebeu-se que a personagem não faz ataques diretos aos seus “amigos” dos quais é alvo de bulllying. Ash esquiva-se sempre que pode deles, assobiando para chamar a sua atenção para um lado, enquanto foge por outro, mesmo que tenha de saltar cercas ou trepar telhados das casas. Apenas há uma porção da demo, muito breve, que dá controlo de um “skate” e tal como Jet Set Radio, há mais ação enquanto se pinta. Há ainda oportunidade para defrontar Genies negros, que saltam do 2D para o 3D, em que Ash terá de utilizar o seu pincel como arma para o defrontar.
Um dos puzzles encontrados no jogo era abrir um caminho bloqueado por um obstáculo, e para tal era necessário chamar dois Genies. Nesse sentido, era preciso desenhá-los nos locais assinalados, e ir pintando as paredes, abrindo caminho para a sua passagem. São os próprios monstrinhos que dizem ao jogador o que devem pintar, entre flores, um sol, estrelas ou borboletas, de forma a dar cor às paredes negras da cidade.
A arte, por trás da “arte” de Concrete Genie
O jogo apresenta uma direção artística semelhante às técnicas empregues no cinema de animação stop motion, lá está, como as obras de Tim Burton: Frankenweenie e The Nightmare Before Christmas. “Desde cedo, durante o período de desenvolvimento, que queríamos este tipo de animações feitas à mão, utilizando uma série de ferramentas proporcionadas pelo Unreal e outras que criámos de animações e iluminação. Nós não temos qualquer captura de imagem nas personagens, tudo foi feito à mão, com técnicas de stop motion”, explicou Jeff Sallangi.
Na verdade, o jogo é um cocktail de estilos artísticos, pois mistura um mundo tridimensional para explorar; animações 2D dos monstros projetados na parede; sequências animadas com técnicas de stop motion, mas há ainda umas estranhas cut scenes, com um tom cru, “deslavados” e em 2D, que à primeira vista até parecem place holders. “É completamente deliberado”, destaca Dominic Robillard, “Ash utiliza a arte para se conectar às suas memórias. A ideia é utilizar os seus sketchs para representar as suas memórias, utilizando o pincel como chave para aceder a algumas das histórias de fundo, tais como a lidar com os bullies. Assim, essas sequências 2D, com aspeto nostálgico, representam essas viagens às suas memórias”. Para Jeff Sallangi, que lidera o departamento de arte, todas essas noções artísticas são um “sonho tornado realidade” para a sua equipa.
Devido à PixelOpus ser uma equipa pequena, com uma vintena de elementos, todos estão juntos na mesma sala e em constante comunicação e brain stormings. “Com uma equipa pequena todos conseguem compreender melhor as disciplinas dos restantes e fazer melhor o seu trabalho. Há uma empatia e compreensão maior entre disciplinas com uma equipa pequena”, justifica o diretor criativo confirmando a importância do contributo de cada elemento para o projeto.
Foi logo na fase de conceção que surgiu a ideia de Ash, apresentada pelo artista de efeitos especiais: “ele pintou um rapaz que estava a sofrer de bullying e a desenhar estas gigantescas personagens nas paredes, que eram suas amigas. Logo de início ficámos com essa ideia de ter um miúdo a sofrer de bullying, e a utilizar a arte para lidar com isso. O nome Ash foi exatamente dedicado à pessoa que deu essa ideia. Neste momento, o protagonista do jogo tem diversas memórias de toda a equipa, moldadas numa única personalidade.
Paralelamente à narrativa, o jogo oferece ainda uma experiência em realidade virtual que estava disponível na apresentação. Trata-se de um mundo à parte, dos Genies, em que os jogadores são transportados para pintar à vontade os elementos já conhecidos do jogo. Mas não seria mais interessante replicar a aventura, que tem um aspeto belíssimo, para realidade virtual? “Quando começámos a desenvolver o jogo, descobrimos que provavelmente devido a esta mecânica de pintar, que o jogo fosse perfeito para ser feito em realidade virtual. Mas não tínhamos a capacidade de o construir, porque éramos na altura cerca de 11 pessoas na equipa”, respondeu o diretor criativo.
Após consulta externa, de dois amigos próximos do estúdio, decidiu-se por tentar representar uma espécie de mundo dos Genies, repleto de pequenas atividades. “Reunimos uma equipa que nos últimos dois anos desenvolveu essa experiência à parte. Algo que aprendemos foi que para construir algo para determinado médium, teria de ser construído de raiz para tal e neste caso queríamos ter a certeza de que criaríamos uma experiência que apenas fosse possível em realidade virtual. É um conteúdo complementar à história principal, algo relaxante, uma experiência de pintura” destaca Dominic Robillard.
Concrete Genie tem data de lançamento prevista para o dia 9 de outubro na PS4, com um preço de 29,99 euros. A história deverá demorar cerca de seis a sete horas para finalizar, chegando à dezena para encontrar todas as folhas perdidas e outros segredos. E ainda o modo de realidade virtual à parte para prolongar a experiência.
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