Apesar da crescente preocupação com as deepfakes, a tecnologia de Inteligência Artificial usada para criá-las poderá desempenhar um papel relevante no mundo do cinema, em particular no que toca à dobragem de filmes.

Provavelmente já se deparou com filmes estrangeiros dobrados. Para alguns espetadores, a falta de sincronia entre o que está a ser dito e os movimentos da boca dos atores acaba por se tornar um fator de distração. Agora, uma empresa propõe-se a solucionar o problema com IA.

O TrueSync, um software desenvolvido por uma empresa chamada Flawless, permite ajustar os movimentos da boca dos atores nos filmes de modo corresponderem ao que está a ser dito na dobragem. A empresa afirma que o TrueSync “representa um passo a caminho da mudança no mundo da cinematografia”, permitindo preservar as nuances e emoções do material original.

Nos vídeos partilhados pela Flawless no seu website é possível observar, por exemplo Jack Nicholson e Tom Cruise a discutir em francês na icónica cena do filme “Uma questão de honra”, ou ainda Tom Hanks no clássico “Forrest Gump” a falar em alemão, japonês e espanhol.

Porém, uma vez que a tecnologia ainda está numa fase de desenvolvimento, o resultado nem sempre parece tão natural quanto o esperado. Recorde-se que os estúdios de investigação da Disney também estão a estudar a aplicação da tecnologia usada nas deepfakes como uma ferramenta para efeitos visuais.

O algoritmo criado pelos investigadores da Disney permite criar “trocas” de caras com uma resolução de 1.024 por 1.024 pixéis. A tecnologia modifica a fonte do vídeo, facilitando o processo. Os movimentos são estabilizados e a cara sobreposta consegue mais homogeneizada. O algoritmo consegue ainda gerar os frames necessários para dar um aspeto mais coeso ao vídeo.

O modelo de IA consegue substituir a aparência de uma pessoa pela de outra, no entanto, ainda existem desafios. O efeito consegue ser aplicado com um maior nível de exatidão quando os vídeos são captados em boas condições de iluminação e quando os indivíduos estão a olhar diretamente para a câmara.

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Fora da 7ª Arte, um novo estudo alertou recentemente para os perigos das deepfakes no que toca à falsificação de imagens captadas por satélite. Os investigadores defendem que através das novas tecnologias é possível gerar imagens geográficas de satélite que, embora não correspondam à realidade, são realistas o suficiente para passarem despercebidas aos olhos dos observadores mais desatentos.

Ainda em março, o FBI alertou para os perigos das deepfakes, indicando que a tecnologia poderá ser usada intensivamente por atores maliciosos numa série de ataques sofisticados e operações de influência durante os próximos 12-18 meses.