O foco de investigação do cirurgião Pedro Gouveia junta a cirurgia do cancro da mama e a utilização de tecnologia na saúde, em especial realidade aumentada e virtual. Esta é uma área onde tem investido nos últimos anos, contando com vários projetos desenvolvidos a partir da Fundação Champalimaud, onde está desde 2013. Em janeiro de 2020 fez a primeira cirurgia com recurso a óculos de realidade aumentada no bloco operatório da Unidade de Mama, com apoio remoto por 5G e o projeto evoluiu com o financiamento do PRR ao “MetaBreast - Metaverse for Breast Cancer Surgery” e a criação do Digital Surgery Lab e da Immersive Surgical Arena, que deverá estar operacional até ao final do ano.
Na base está a convicção de que através de ferramentas tecnológicas e soluções de realidade imersiva é possível dar mais informação aos médicos para cirurgias bem sucedidas, mas também mais qualidade de vida aos pacientes e intervenção sobre o seu tratamento.
Na Unidade de Mama da Fundação há vários projetos de investigação em curso, entre os quais o projeto do consórcio Cinderela. “O cancro da mama é a forma de cancro mais frequente em todo o mundo, mas passados 10 anos mais de 80% das doentes sobreviveram ao cancro e isso quer dizer que vão viver muito tempo após os tratamentos, com as consequências, incluindo cicatrizes ou defeitos de volume, o que perturba a auto estima e a qualidade de vida”, explica Pedro Gouveia ao SAPO TEK. A possibilidade de que a doente, antes do tratamento, possa ter uma palavra a dizer sobre o resultado estético da sua cirurgia dá escolha à mulher e ajuda o médico a tomar decisões no seu planeamento.
No Digital Surgery Lab, que também é conhecida como a sala do metaverso médico, a equipa de Pedro Gouveia está a desenvolver tecnologia que vai permitir aos cirurgiões usar realidade aumentada durante a cirurgia. “Com a tecnologia de realidade aumentada os cirurgiões de cancro da mama podem ter superpoderes e ver por dentro do corpo”, justifica Pedro Gouveia, que defende a utilização das várias áreas do conhecimento, numa visão multidisciplinar que é potenciada pela Fundação e o cruzamento das várias áreas, de engenharia, biomédica e até de computação gráfica.
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Apesar do protagonismo que acaba por ser incontornável pelo trabalho que tem feito, Pedro Gouveia não se poupa a dar os créditos a todos os elementos da sua equipa do MetaBreast e a parceiros de outras iniciativas em que está envolvido, e a defender uma ligação mais estreita entre a investigação académica e a inovação e criação de produtos que possam ser usados no terreno.
Esse é um dos méritos que aponta à Fundação Champalimaud, com um tipo de organização que não existe muito em Portugal. A partir do projeto de aplicação de realidade aumentada à cirurgia do cancro da mama está a ser criado um spinoff para a inovação, a Heka Vision, que pode materializar o resultado da investigação.
Embora esse seja também um dos focos dos investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência, tornam-se difíceis de aplicar na área da saúde pelas exigências de certificação dos ensaios clínicos. “Na saúde é difícil produtizar no espaço de 3 anos”, salienta.
Com a Heka Vision, que foi selecionada para um programa de deep training do Horizon Europa, o objetivo é desenvolver formação, metodologia e um roadmap para levar os produtos ao mercado, até porque a equipa acredita que a investigação pode revolucionar a cirurgia do cancro da mama e depois ser aplicada noutras áreas da cirurgia.
Realidade aumentada também na formação
Para além do trabalho na Unidade de Mama na Fundação Champalimaud, Pedro Gouveia desenvolveu também este ano um piloto na Faculdade de Medicina para formação dos alunos, usando o software da InciteVR e os óculos HoloLens da Microsoft. O primeiro teste foi com um grupo de 8 alunos e contou com o apoio da Altice Portugal, que ofereceu os óculos e o software, e mais tarde foi alargado a mais 80 alunos da mesma Faculdade.
É um caso de uso específico, vocacionado para a formação pré graduada e que permite alavancar três grandes objetivos, o aumento da retenção do conhecimento, o aumento da razoabilidade clínica e o maior prazer na obtenção de conhecimentos, num ecossistema livre de risco para o doente.
“Precocemente podem ter contacto com um ambiente cirúrgico que normalmente não têm, não precisam de ler um livro, o programa dá-lhes as instruções e os passos, passo a passo para executar uma tarefa cirúrgica ou de anestesia”, detalha o cirurgião.
“É um complemento, não substitui o processo standard, mas possibilita aos alunos, em larga escala, o contacto através das tecnologias”, justifica Pedro Gouveia. “Acredito que podemos reduzir o tempo de formação com esta tecnologia que coloca os futuros médicos num cenário simulado e imersivo”, defende.
Veja o vídeo do funcionamento do InciteVR
Nota da Redação : foi adicionada informação relativa ao piloto na Faculdade de Medicina
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