Em janeiro deste ano, a D-Orbit lançou para o Espaço a "Second Star to the right", a sétima missão comercial do seu ION Satellite Carrier (ION), concebido para manobrar em órbita satélites e outros instrumentos, à “boleia” de um Falcon 9 da SpaceX.

A empresa de logística e transporte espacial está a executar as verificações de rotina e a preparar os satélites para a fase operacional. A equipa baseada em Portugal é responsável pela operação e o SAPO TEK entrou na sala de controlo da D-Orbit para ver como tudo se processa.

Bruno Carvalho, diretor da D-Orbit Portugal, explica que o ION afirma-se como uma solução para o atual “bottleneck” que os lançamentos comerciais enfrentam, permitindo operar um serviço regular de logística e transporte espacial.

Como é que tudo funciona na sala de controlo? Para operar a frota de satélites da D-Orbit, a equipa recorre a uma plataforma de software baseada na Cloud, chamada Aurora, desenvolvida em Portugal.

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A plataforma permite gerir os satélites, assim como a rede global de antenas que é utilizada para comunicar com os mesmos. Através de dashboards interativos, a equipa é capaz, por exemplo, de observar em tempo real a passagem dos satélites sobre as estações de antenas terrestres.

De acordo com João Silva, um dos operadores da equipa da D-Orbit Portugal, uma das missões passa por verificar a estabilidade dos satélites em termos de velocidade angular, assegurando que não ultrapassa determinados limites durante as passagens.

“Se a velocidade estiver acima dos threshold, quer dizer que o satélite não está em boa condição e temos de atuar”, detalha. Outro dos parâmetros a que a equipa se mantém atenta é o estado das baterias, verificando se o posicionamento dos satélites em relação ao Sol é o mais adequado, de modo a que possam receber a energia de que necessitam.

Por vezes, podem também surgir problemas de software nos satélites, relacionados com leituras que não foram devidamente realizadas pelos sensores. Como realça o operador, a equipa tem de reagir rapidamente a quaisquer situações possivelmente problemáticas e, em muitos dos casos, tudo se passa numa questão de segundos.

Bruno Carvalho detalha que a plataforma de software é configurável, e pode ser adaptada às necessidades dos clientes. A gestão das manobras para evitar lixo espacial, além de possíveis colisões com satélites ou outros instrumentos em operação, é um dos processos que a equipa em Portugal tenciona integrar na plataforma de software.

Rumo aos 20 ION em órbita em 2023

O primeiro ION seguiu rumo ao Espaço em setembro de 2020, a bordo de um foguetão VEGA da Arianespace. Desde então, as restantes sete missões foram lançadas para o Espaço através do Falcon 9 da SpaceX. Ao todo, a D-Orbit já transportou mais de 90 satélites e instrumentos.

Na mais recente missão, os ION SCV007 Glorious Gratia e SCV008 Fierce Franciscus vão colocar em órbita um total de nove satélites e instrumentos, inclui o DRAGO-2, do Instituto de Astrofísica das Canárias; o Genergo-2, desenvolvido pela Genergo.

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De acordo com a empresa, o ION SCV007 leva também um instrumento de infravermelhos para observação da Terra. O instrumento, que se apresenta como uma evolução de um outro que já tinha sido levado para o Espaço em em 2021, será também operado pela D-Orbit.

Neste caso, a operação faz parte de um modelo de serviço em que o ION é alugado por clientes que querem ter acesso às observações e aos dados gerados sem terem de se preocupar com a operação de um satélite. Além disso, os dados recolhidos serão incluídos em testes à infraestrutura de computação e processamento de dados que a empresa está a construir e que descreve como uma “Cloud” no Espaço.

A próxima missão, que toma o nome Starfield, prevê o lançamento do ION SCV009 Ecletic Elena e está marcada para 19 de janeiro. A missão, que será a primeira para uma órbita de inclinação média, vai partir rumo ao Espaço a partir da Base da Força Aérea de Vandenberg, Califórnia, num Falcon 9.

Ao todo, a D-Orbit espera acabar o ano de 2023 com 20 ION em órbita. De acordo com Bruno Carvalho, o objetivo é passar a lançar regularmente 20 satélites por ano a partir de 2024.

"Estabilizar a equipa" em Portugal com novos projetos à vista

Para lá dos seus objetivos no que respeita à colocação de missões em órbita, a D-Orbit tenciona reforçar as equipas, explica Bruno Carvalho ao SAPO TEK.

“Estamos a dimensionar a equipa globalmente, entre Itália, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos”, explica Bruno Carvalho ao SAPO TEK

A esta meta junta-se também uma expansão para a Ásia, que ainda está a ser planeada. Já em Portugal, o responsável indica que a empresa espera “estabilizar a equipa ainda este ano com cerca de 20 a 25 colaboradores”, entre operadores, software developers e especialistas em flight dynamics.

A operação das missões e o desenvolvimento da plataforma de software que permite o controlo das mesmas são dois pontos-chave para a D-Orbit em Portugal. Nas palavras de Bruno Carvalho, o país poderá também servir como uma “plataforma de abertura a mercados estrangeiros” na América Latina e África.

O responsável realça que a empresa quer "criar as condições para que a equipa em Portugal cresça e para que seja sustentável". Embora enfatize que “há espaço para crescer”, as dificuldades no recrutamento de engenheiros qualificados também marcam o panorama, sendo uma situação que “afeta todas as indústrias neste momento”.

Apesar dessa dificuldade, Bruno Carvalho indica que a D-Orbit Portugal continua a trabalhar com universidades no país em busca de talento para reforçar a sua equipa, lançando desafios e projetos.

Olhando para as metas que ambiciona atingir este ano, a D-Orbit Portugal tem alguns projetos que está “a desenvolver com a Portugal Space e com a ESA” e espera apresentar novidades em breve. O responsável explica que em destaque está, por exemplo, um projeto para a missão ClearSpace-1, da Agência Espacial Europeia, concebida para ajudar a ESA a remover lixo espacial na órbita da Terra.

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