A Europa quer enviar centros de dados para o espaço de forma sustentável e está a estudar a viabilidade desse investimento. Poderá não ser antes de 2036, mas a investigação está em curso e os resultados do mais recente estudo são “encorajadores”.
Desde que a inteligência artificial generativa (IAgen) se democratizou, a procura de centros de dados disparou, mas a escassez de localizações e a necessidade de energia são problemas que precisam de solução. A criação de centros de dados para o espaço pode ser uma possibilidade para assegurar a soberania dos dados e a eficiência energética.
O estudo de viabilidade da Thales Alenia Space concluiu que é técnica, ambiental e economicamente viável lançar centros de dados em órbita, consumindo menos energia do que os centros de dados no solo. A análise foi realizada para a Advanced Space Cloud for European Net zero emission and Data sovereignty (Ascend), uma iniciativa da Comissão Europeia criada em 2023 para estudar a viabilidade de centros de dados baseados no espaço.
Com os resultados agora conhecidos, a Europa pode ficar mais próxima de atingir o objetivo do Pacto Ecológico Europeu de emissões líquidas nulas de carbono até 2050.
“Podemos dizer que os resultados são muito encorajadores”, disse Damien Dumestier, diretor do estudo da Thales Alenia Space, à Euronews.
Foram comparados os possíveis impactos energéticos e ambientais de centros de dados na Terra ou no Espaço, e avaliada a viabilidade tecnológica do desenvolvimento, implantação e funcionamento desses centros em órbita.
O estudo concluiu que a redução do impacto energético e ambiental dos centros de dados justifica o potencial desenvolvimento de um lançador de elevada capacidade, concebido de forma ecológica e reutilizável.
Para que os centros de dados espaciais sejam eficientes do ponto de vista energético, será necessário criar esse novo tipo de lançador que produza 10 vezes menos emissões, segundo o estudo. Os centros de dados também teriam de se manter em órbita com combustível de foguetão, pelo que poderá ser necessário encontrar uma alternativa.
Os resultados confirmam também a viabilidade económica do projeto, oferecendo uma perspetiva de retorno do investimento de vários milhares de milhões de euros até 2050. A Thales Alenia Space e os seus parceiros pretendem agora aprofundar o estudo de viabilidade para consolidar e otimizar os seus resultados.
O mercado dos centros de dados para 2030 está estimado em 23 gigawatts de capacidade e o objetivo do Ascend é implantar um gigawatt antes de 2050.
Com o projeto Ascend, a Europa “poderá recuperar a sua liderança nos domínios do transporte, da logística espacial e da montagem de grandes infraestruturas em órbita”, diz a Thales Alenia Space. Além disso, os centros de dados no espaço poderão “contribuir para a soberania digital da Europa, reduzindo a sua pegada de carbono digital e garantindo simultaneamente a segurança dos dados tanto para os cidadãos como para as empresas”.
O estudo foi desenvolvido durante 16 meses e implicou o investimento de dois milhões de euros. Foi coordenado pela Thales Alenia Space, em nome da Comissão Europeia.
Os resultados do estudo estimam que os centros de dados espaciais exigem o desenvolvimento de um lançador dez vezes menos emissivo durante todo o seu ciclo de vida para reduzir significativamente as emissões de CO2 geradas pelo processamento e armazenamento de dados digitais. Por outro lado, não necessitam de água para arrefecimento, sendo uma vantagem a ter em conta, ainda mais com a subida constante das temperaturas no Planeta.
As infraestruturas espaciais modulares seriam montadas em órbita utilizando tecnologias do projeto European Robotic Orbital Support Services In Orbit Demonstrator (EROSS IOD) da Comissão Europeia, liderado pela Thales Alenia Space, cuja primeira missão está prevista para 2026.
A Thales Alenia Space é uma joint venture da Thales (67%) e da Leonardo (33%). Neste estudo, a Thales Alenia Space coordenou um consórcio europeu de parceiros com competências complementares em aspectos ambientais (Carbone 4, VITO), computação em nuvem (Orange Business, CloudFerro, Hewlett Packard Enterprise), lançadores (ArianeGroup) e sistemas orbitais (Agência Espacial Alemã DLR, Airbus Defence & Space e Thales Alenia Space).
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