
Pedro Rosado está no último ano do Mestrado em Engenharia Aeroespacial na ISAE-SUPAERO, em Toulouse, França, e o fascínio pelo espaço já o acompanha há muitos anos. Mas enquanto sonha com a possibilidade de passar a Linha de Kármán, o que está mais perto é a missão Asclepios V, para a qual se está a preparar e que começa já esta semana com um desafio extremo. E muito frio.
Em entrevista ao SAPO TEK, o jovem de 22 nos explica que o desafio de se tornar um Astronauta Análogo no projeto Asclepios permite uma experiência próxima dos problemas enfrentados pelos “verdadeiros” astronautas. O carácter científico mas também humano é apontado como parte da missão que está prestes a começar com o Extreme Environment Training, com o ponto mais alto da experiência a acontecer em Julho.
A equipa junta nove jovens estudantes de várias nacionalidades, que são acompanhados por um grupo de controle nas várias fases da missão.
“A nossa missão é recriar, com realismo, condições de missões espaciais de longa duração na Lua ou em Marte, o que permite testar protocolos, tecnologias, equipamentos e o próprio comportamento humano em ambientes extremos”, explica Pedro Rosado em entrevista ao SAPO TEK.
O jovem estudante já tem no currículo vários projetos na área do espaço e é este ano o único astronauta análogo português, o segundo na história do Asclepios.
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Liderado por estudantes e com a supervisão da EPFL, o projeto inicia agora a quinta missão, a Asclepios V, que trabalha aspectos como o design do habitat lunar, fatos espaciais, experiências científicas e o desenvolvimento de procedimentos operacionais em missões espaciais. A iniciativa é desenvolvida pela associação desde 2019, e tem evoluído em termos de operação, assim como nos resultados científicos, como explica Katie Mulry, uma estudante dos EUA que é atualmente project leader mas que já foi astronauta na segunda missão Asclepios.
Experimentar situações reais
Mais discretas do que as missões que as agências espaciais e as empresas da indústria espacial desenvolvem, as várias missões do projeto Asclepios têm propósitos semelhantes, com fases que também exploram situações extremas. O objetivo é dar oportunidade aos jovens de explorar ambientes equiparadas a missões espaciais, com um formato realista, aos mesmo tempo que treina a próxima geração de líderes espaciais e desenvolve projetos inovadores e investigação nesta área.
Mas, mesmo sem ir ao espaço, nada é fácil na missão Asclepios, a começar pela seleção das equipas. Esta passa por um processo longo e rigoroso, inspirado nos modelos da ESA e da NASA, com várias fases ao longo de vários meses, onde se contam testes de inglês, desafios de resolução de problemas e testes cognitivos. São selecionadas, numa primeira onda, 20 pessoas que seguem para novas fases de testes, com entrevistas, testes físicos e psicológicos, até chegar à equipa final de 9 pessoas.
Pedro Rosado apresentou a candidatura para astronauta em 2024 e entretanto também passou pela experiência de trabalhar no centro de controle de missão na Asclepios IV, que lhe deu uma visão do que é estar “do outro lado”. Foi CAPCOM e PRO, com a responsabilidade de gerir o plano de voo e procedimentos, assim como a comunicação com os astronauts dentro da base.
“Permitiu-me perceber desafios e a forma de melhorar a comunicação entre os astronautas análogos e o centro de controle […] preparou-me para ser um melhor astronauta”, explica Pedro Rosado.

Fora da Asclepios, Pedro Rosado está a trabalhar para o projeto PERSEUS onde desenvolve um protótipo de motor de rocket sob a supervisão do CNES – Centre National D’Études Spatiales com o objetivo de propor um novo design para o injetor.
Ao SAPO TEK explica que o projeto PERSEUS conta com a participação da equipa da ISAE-SUPAERO, integrada no grupo de rockets da Supaero Space Section, para estudar e desenvolver os injetores do motor MINERVA, que utiliza oxigénio líquido e etanol como propelentes. "Sou o responsável pela equipa de injectores do Departamento de Propulsão. O principal foco deste estudo é a criação de uma ferramenta que permita avaliar diferentes tipos de injetores, tendo em conta os requisitos do motor e da combustão", detalha
Depois da escolha de um modelo específico, o trabalho prossegue com a modelação, prototipagem e, por fim, testes experimentais com água (chamados testes a frio) para comparar os resultados das simulações com medições reais. "Estes testes são essenciais para confirmar os resultados obtidos pelas simulações. O objetivo final é o desenvolvimento de um motor de combustível líquido funcional", acrescenta.
Para além do PERSEUS, Pedro Rosado rambém está envolvido como project leader no TOLOSAT, um satélite Cubesat da ISAE (Institut Supérieur de l'Aéronautique et de l'Espace) com o planeamento dos componentes técnicos.
Primeiro desafio: Resistência e resiliência
Na quinta missão Asclepios o processo já está em marcha. Esta semana a equipa de nove astronautas análogos segue para Col de Bassachaux, nas montanhas da Alta Saboia, em França, junto à Suíça. Numa altitude de 1.800 metros o treino passa pela resistência e resiliência, onde capa passo é um desafio à capacidade dos astronautas análogos.
Se passarem esta fase seguem para um fim de semana de treino em Lausanne, o Dress Rehearsal marcado para Abril, seguindo-se os voos em Zero G que decorrem em Bergamo, Itália, em maio. E por fim a “verdadeira missão, em Sasso San Gottardo, na Suíça, entre 20 de julho e 6 de agosto.
É nesta fortaleza histórica nas montanhas suíças que está localizada a “base espacial”, tirando partido das enormes cavernas naturais. A fortaleza já foi um dos locais mais secretos da Suíça, alojando o exército da resistência e funcionando até 2001 como centro militar, tendo depois sido transformado em Museu.

A localização remota e a estrutura existentes ajudam a recriar o ambiente do espaço pelo isolamento e confinamento a que a equipa de astronautas é obrigada durante a missão análoga.
Futuros astronautas na lista?
Para Pedro e Katie o sonho de serem astronautas continua vivo, mas ambos reconhecem que é difícil chegar a esse patamar. Ainda assim admitem que há agora mais oportunidades na indústria aeroespacial, que está em grande desenvolvimento. “O nosso foco é treinar os estudantes […] temos oportunidade de aprender muito e interagir com a indústria”, sublinha Katie Mulry.
O programa é gerido pela associação de estudantes e depende de financiamento da universidade e do envolvimento dos patrocinadores para ter fundos, e este é também um processo de aprendizagem para o futuro.
Pedro Rosado adianta que esta é a maior missão análoga fora dos programas espaciais, e é a única em que não tem de se pagar para participar. “Aqui apostamos no processo de seleção e treino”, justifica.
E o que fazem com os resultados? Os dados recolhidos durante as missões “são analisados e servem de base para investigação que depois pode ser aplicada no mundo real”.
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