"Há, aqui, um equilíbrio difícil, mas temos de prosseguir, temos de regular o que é importante ser regulado e não regular em demasia", afirmou, assinalando ser adequado regular o uso da IA para "proibir casos extremos", como o gerar falsas notícias.
Arlindo Oliveira destacou o "potencial" da IA em "trazer muitas vantagens ao mundo", como "descobrir novos materiais, novas soluções" ou "tornar a sociedade mais rica, mais produtiva", com as tarefas repetitivas a poderem ser feitas por máquinas.
"Como em qualquer tecnologia poderosa, também há riscos", ressalvou, enumerando a desinformação ou as alterações no mercado de trabalho - novas profissões mais bem remuneradas e antigas menos procuradas e menos remuneradas.
Outros riscos, mais hipotéticos mas não impossíveis, são o de haver sistemas de IA a planearem a economia e a defesa de um país que "possam ter comportamentos inesperados porque foram mal programados" ou existirem máquinas a "tomarem decisões" que "não são do melhor interesse" para as pessoas.
De acordo com o presidente do Inesc, os "sistemas de IA tendem a democratizar a sociedade", uma vez que permitem "um acesso ao conhecimento que de outra maneira seria menos igualitário", mas suscitam a possibilidade de "concentrar um poder desmesurado", designadamente económico, num pequeno número de pessoas das grandes empresas e instituições que criam esses sistemas.
Entre o abismo e o progresso, Arlindo Oliveira posiciona a IA como um "progresso inevitável", uma "consequência natural da evolução da inteligência humana".
"Esperemos que não traga consigo consequências muito negativas ou muito desagradáveis", afirmou à Lusa, afastando o receio de uma maior desumanização da humanidade, apesar de "uma fração da população ficar com visões muito parciais da realidade". "Mas isso já acontece, é uma tendência... pessoas que passam dias a jogar videojogos, no YouTube, nas redes sociais", sublinhou.
Por definição, a IA é uma tecnologia que aplica o conhecimento dos processos cognitivos humanos a computadores ou programas informáticos que reproduzem esses processos, podendo criar conteúdos novos, como texto, imagens e vídeos.
O professor do IST considera que a IA desencadeará "alterações profundas", como as que sucederam "nos últimos 50 anos", e aponta como "grande desafio" desta tecnologia o desenvolvimento de "módulos das emoções, motivações, ambições, capacidade do raciocínio".
"Se queremos ter verdadeira Inteligência Artificial falta desenvolver o resto", sentenciou Arlindo Oliveira, sustentando que a "ambição é suficientemente poderosa e os resultados são suficientemente relevantes", em termos de compreensão da linguagem e interação entre homem e máquina, para que a comunidade científica continue a desbravar caminho.
Sobre se a IA poderá vir a ser mais inteligente do que a inteligência humana, o autor de "Mentes Digitais" é menos assertivo. "Não sabemos se é possível haver sistemas mais inteligentes do que a inteligência humana, provavelmente sim. Se forem possíveis, não sabemos se os conseguimos projetar", frisou Arlindo Oliveira.
A conferência "Inteligência Artificial: Que Humanidade?", que se realiza esta segunda-feira num dos auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, conta com a intervenção inicial do presidente do INESC sobre "modelos de linguagem" e será seguida de uma mesa-redonda moderada pelo ex-ministro Miguel Poiares Maduro.
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