A empresa 23andMe, que se popularizou graças ao seu serviço de análise genética, vai partilhar milhões de dados pessoais com a gigante farmacêutica GlaxoSmithKline. O intuito está na análise da amostra e na criação de medicamentos mais eficazes, como sublinhou a multinacional num post publicado no seu blog oficial esta quinta-feira.

A parceria, que terá a duração de quatro anos, vai dar à GlaxoSmithKline o acesso à base de dados genéticos da 23andMe. "O objetivo desta colaboração é reunir novos detalhes e descobrir novos motores infecciosos para que possamos desenvolver terapias capazes de os anular", explica a farmacêutica, que vai investir cerca de 300 milhões de dólares na 23andMe.

Nenhuma das empresas revelou em que moldes se irá desenolver esta parceria, mas ambas já trabalharam num projeto de investigação ao gene LRRK2, cujas ligações ao Parkinson estão a ser minunciosamente estudadas pela comunidade científica. No âmbito deste caso, a GlaxoSmithKline utilizou a base de dados da 23andMe para filtrar pacientes com Parkinson que tenham contraído a doença por culpa deste gene. Uma vez que apenas 10 mil por cada milhão de doentes tem Parkinson por culpa do gene LRRK2, a farmacêutica recorreu aos serviços da 23andMe para conseguir reunir um lote de potenciais cobaias que foram depois contactadas para realizar exames médicos junto da empresa, de forma a colaborar na criação de uma nova terapia para este tipo de pacientes.

Apesar de poder gerar resultados frutíferos para a ciência, a parceria está a ser alvo de muitas críticas. "Uma vez que uma empresa está a ter acesso ao ADN de uma pessoa, essa pessoa devia ser compensada por isso", defendeu, em entrevista dada à NBC, Peter Pitts, presidente do Center for Medicine in the Public Interest. "Será que vão oferecer descontos às pessoas que aceitarem fazer parte do programa, enquanto a 23andMe trabalha com uma empresa orientada para o lucro, num projeto orientado para o lucro?".

Para além da questão compensatória, há também uma outra relacionada com a privacidade dos utilizadores. Apesar de a 23andMe requerer o consentimento dos utilizadores para utilizar os seus dados genéticos, é muito improvável que a maioria esteja verdadeiramente ciente do que isso pode implicar. Por outras palavras, muitos dos consumidores da empresa não terão conhecimento que o seu ADN está a ser utilizado em pesquisas médicas.

"O problema com estas políticas de privacidade e os termos de serviço é que ninguém os lê. Na verdade, os clientes estão a pagar para que a empresa possa fazer dinheiro com os seus dados", comentou Tiffany C. Li, especialista em privacidade informática da Universidade de Yale.

Note que a GlaxoSmithKline não é a única empresa que tem acesso à base de dados da 23andMe. Por esta altura, a startup norte-americana já publicou cerca de 100 artigos científicos em parceria com diferentes organizações que utilizaram a sua base de dados para conduzir os estudos.

Atualmente, a empresa tem cerca de 5 milhões de consumidores, que forneceram à empresa uma amostra de saliva em busca de uma análise ancestral que explicasse as suas origens. Recorde-se, contudo, que se preferir encerrar a sua conta, a 23andMe nunca mais voltará a ceder os seus dados, uma vez que serão descartados do stock da multinacional.

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