Nunca, em nenhum outro momento da História, a dimensão digital teve tamanha preponderância na distribuição de poder no sistema internacional e na sobrevivência dos próprios países.
Jared Cohen, criador e diretor-executivo da incubadora de startups Jigsaw - agora sob a tutela da Alphabet, sucessora da Google - sobe ao palco central do Web Summit, na Altice Arena, e começa por deixar uma coisa bastante clara: atualmente estamos a viver uma era de “ubiquidade tecnológica”.
Cohen, que também já traçou um percurso na esfera política, como conselheiro das Secretárias de Estado norte-americanas Condoleezza Rice e Hillary Clinton, sublinha que a tecnologia chegou, viu e venceu, e que hoje é um elemento tão essencial para as estratégias de defesa dos Estados como qualquer outro dispositivo militar convencional.
Afirmando que as tecnologias permitem que os governos aumentem a sua capacidade de projeção a nível mundial, o responsável da Jigsaw está confiante de que, no futuro, “todas as guerras começarão como ciberguerras”.
Num mundo em que a informação se movimenta a uma velocidade estonteante e com volumes desmedidos, é cada vez mais difícil para os governos controlarem aquilo que Cohen descreve como “as emoções das populações”. Por outras palavras, os governos têm cada vez menos capacidade para monitorizar os seus cidadãos, que, pelo mundo online, multiplicam as suas “personalidades digitais” (vários emails e vários perfis nas redes sociais).
Esta falta de controlo faz com que as atividades no mundo online passem, grande parte das vezes, despercebidas a quem tem o papel de regular e garantir a segurança das populações e dos países e detetar possíveis ameaças, quer nacionais, quer transfronteiriças.
Diz Cohen que, nos dias de hoje, “as revoluções são mais fáceis de começar mas mais difíceis de terminar”. Isto só é verdade porque através das redes sociais e com uma só publicação é possível mover massas em prol de um ideal, mas, por outro lado, não existindo controlo, é virtualmente impossível colocar um fim a essa mobilização.
Olhando para o papel da dimensão digital na proliferação da criminalidade e do terrorismo, Cohen destaca o aproveitamento que organizações terroristas como o autoproclamado Estado Islâmico têm feito da internet e a mestria que têm conseguido desenvolver para disseminar massivamente aquilo que defendem e recrutar militantes para as suas fileiras.
De acordo com o responsável da Jigsaw, no futuro vai poder observar-se um aumento do número de organizações criminosas que vão fazer uso da internet para aumentar a sua expressividade e capacidade de projeção pelo mundo fora.
Para poderem aplacar devidamente estas ameaças e falhas, os governos precisam, segundo Cohen, de definir dois tipos distintos de política externa: uma que se debruce sobre o mundo físico e outra que trata da área digital. Só assim, afirma o gestor, é que os países podem preparar-se para responder à parcial - senão mesmo total - fusão entre essas duas esferas.
E no reforço das capacidades digitais dos Estados, as empresas do setor privado têm um papel fundamental a desempenhar, nomeadamente no que toca à implementação de tecnologias de deteção de autores de ciberataques e de programas que defesa informática.
A internet, e todo o mundo algorítmico que gravita em torno dela, é cada vez mais um lugar em que se travam batalhas e guerras, que antes de faziam de baioneta em riste e, nos dias que correm, se fazem através de um teclado de computador.
O Web Summit decorre até dia 9 de novembro e o TEK está a acompanhar os momentos mais importantes, nomeadamente em imagens. Veja a edição de 2017 do evento "por dentro".
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