Boa parte do material informático em segunda mão enviado pelos Estados Unidos para África não funciona nem oferece a possibilidade de ser reparado causando problemas ambientais graves para os países que supostamente seriam destinatários de donativos.



As conclusões são do estudo The Digital Dump: Exporting Reuse and Abuse to Africa apresentado hoje. O documento sublinha que o envio deste tipo de material para regiões do globo, como África, acaba por ser um escape para as empresas de reciclagem, que desta forma escoam os produtos que supostamente deveriam encaminhar para reciclagem, com custos muito inferiores.



O trabalho da Basel Action Network, um grupo ambientalista americano, centra-se na Nigéria onde só ao porto de Lagos, segundo os números apresentados, chegam mensalmente 500 contentores. Cada um destes contentores transporta em média 800 computadores, o que perfaz um total de 400 mil equipamentos mês, cerca de 75 por cento dos quais inutilizáveis, revela a C|Net.



O estudo sublinha que "a criação de pontes que minimizem o fosso digital entre países não poder ser usada como uma desculpa para aumentar de forma desproporcional o lixo tóxico, que resulta dos produtos electrónicos em fim de vida, em determinadas regiões do globo". As visitas das organização àquele país africano mostram que não existem estruturas locais que garantam a reciclagem de equipamentos, pelo que grande parte do material acaba depositado em campos abertos onde a sua deterioração conduz à contaminação dos solos e das águas subterrâneas, com consequências para a saúde.



Já em 2002 a mesma organização alertava para o facto de entre 50 e 80 por cento dos produtos electrónicos reunidos para reciclagem nos Estados Unidos acabarem por ser recuperados na China, Índia ou Paquistão em condições não regulamentadas e com riscos para a saúde. Agora, a organização volta a lançar um novo alerta, um ano antes de ficarem obsoletos 63 milhões de PCs nos Estados Unidos, estima o estudo.



Para já, a organização conseguiu o compromisso de 30 empresas americanas de reciclagem que prometem não fazer novos envios de material electrónico para países pobres antes da realização de testes que permitam perceber se estes funcionam ou, caso não funcionem, verificar se a sua reparação é economicamente viável.



O trabalho de sensibilização junto de empresas e organismos públicos, alertando para a necessidade de tornar prática comum o teste prévio de equipamentos, vai continuar, embora não seja tarefa fácil já que os Estados Unidos foram o único país desenvolvido que não ratificou o Basel Convention, um tratado que pretende limitar o comércio de lixo perigoso.



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