Um novo sistema de simulação criado na Universidade de Aveiro vai, finalmente, dar descanso à maioria dos "bonecos" utilizados em testes de impacto.

"Através da simulação numérica em computador, um grupo de investigadores criou um sistema capaz de simular o embate de um objeto quando colide com a cabeça humana e avaliar que lesões (e com que gravidade) podem atingir a vítima", lê-se no comunicado.

O projeto, a que os investigadores se referem através do acrónimo YEAHM (Yet Another Head Model), foi desenvolvido com base em imagens médicas obtidas por TAC e ressonância magnética. Destas, resultou um modelo númerico com uma geometria fiel ao crânio e cérebro humano. O produto deste estudo pode agora ser aplicado em testes cujo objetivo é, por exemplo, aferir as consequências de um impacto na massa encefálica, ossos e tecidos do crânio. Para isso, dizem, "os investigadores têm apenas de programar, entre outras variáveis, a força, o ângulo e a localização dos impactos" consoante o impacto que sejam simular, seja ele "um acidente rodoviário e a eficácia de um capacete ou um golpe criminoso na cabeça".

A versatilidade do modelo já aliciou a Faculdade de Medicina do Porto e a universidade norte-americana de Stanford. De acordo com a Universidade de Aveiro (UA), ambas as faculdades pretendem usar o modelo no ensino de medicina forense e na avaliação de concussões em jogadores de futebol americano, ao mesmo tempo que também a Federação Portuguesa de Desportos de Inverno avalia a possibilidade de integrar o YEAHM no desenvolvimento de capacetes desportivos mais seguros para os atletas.

Para além destas utilizações, o Centro de Tecnologia Mecânica e Automação do Departamento de Engenharia Mecânica da UA, refere que o modelo pode ainda ser aplicado "na otimização de [outros] equipamentos de segurança", como o interior dos automóveis e airbags ou na "reconstrução de acidentes e crimes".

Este não é o primeiro modelo do género, mas a UA acredita que a sua geometria é mais precisa que o dos concorrentes dada a possível modelação dos sulcos e dos giros, factor que, como explica o professor Ricardo Sousa, "é muito importante na previsão de determinados tipos de lesão, como é o caso da concussão cerebral".

O YEAHM nasceu do desenvolvimento de uma nova geração de capacetes, com revestimento em cortiça, quando foi precisa uma forma de testar os vários modelos concebidos pela equipa, vezes sem conta.