Está marcada para hoje a apresentação oficial de um estudo que está a gerar grande confusão, antes mesmo de serem conhecidos todos os detalhes que o suportam. Em 92 páginas, os 14 investigadores da Instituição Alexis de Tocqueville concluem que dificilmente Linus Torvalds, conhecido como o pai do Linux, terá desenvolvido o sistema operativo sozinho e sem recurso a trabalhos anteriores. A instituição questiona a originalidade do sistema operativo e abre uma nova polémica.



O estudo, que será colocado à venda através de uma editora online, aponta que o desenvolvimento do Linux seguiu de perto os trabalhos já realizados por Andrew Tanenbaum da Universidade de Vrije em Amsterdão. Este investigador desenvolveu um sistema bastante idêntico ao Unix com o objectivo de estudar os sistemas operativos e o software, que Linus terá usado como inspiração para desenvolver o Linux.



Segundo o documento, terá sido no Minix que Linus Torvalds se baseou para desenvolver o Linux em 1991. O responsável assume que utilizou o Minix, de facto, mas garante que apenas numa perspectiva de utilizador e exemplifica acrescentando que "um jornalista ao utilizar o windows para escrever notícias não está a copiar qualquer componente do sistema operativo, mas a servir-se dele para alcançar determinado objectivo", diz numa entrevista via email à C|Net. Torvalds garante nunca ter tido acesso aos códigos fonte do Minix, que usou sempre como plataforma de desenvolvimento.



A explicação não convence o grupo de investigadores que notam o facto de Tanenbaum, com anos de experiência no estudo de sistemas operativos e com acesso ao código fonte do Unix, ter levado três anos para desenvolver o Minix, enquanto Torvalds - que na altura era apenas um estudante sem grande experiência na área - tenha precisado de um sexto do tempo para desenvolver o Linux.



"Porque é que as mentes mais brilhantes da história da tecnologia para PC e as empresas que os representam gastam milhões de dólares a licenciar o acesso ao código fonte do Unix se é tão fácil desenhar um sistema operativo idêntico quase sem ajuda e com pouca experiência?" questiona o estudo.



Uma das principais conclusões ou constatações do documento é que caso Linus se tenha de facto baseado no Minix está sujeito a encargos directos de propriedade intelectual à Pentice Hall, uma vez que esta entidade tem sido responsável pela publicação de livros e dos códigos fonte com acesso restrito desde o ano 2000.



Quase desde a sua fundação o Linux tem estado recorrentemente envolvido em polémicas que questionam a sua originalidade e o recurso a outros sistemas operativos de forma menos clara. Até agora o maior exemplo destas desconfianças era protagonizado pela SCO, detentora dos direitos do Unix que tem em curso um processo milionário para tentar provar que o Linux viola os seus direitos de propriedade.



O estudo apresentado hoje é mais um elemento de discussão que apresenta mais questões que respostas, escreve a C|Net, que teve acesso ao documento em antecipação. A imprensa internacional questiona ainda o propósito da investigação e os financiamentos da instituição que os promoveu. É público que a Alexis de Tocqueville contou com verbas da Microsoft durante, pelo menos, cinco anos conforme admitiu a própria empresa de software, sem dar pormenores sobre os valores envolvidos e os projectos apoiados.



Ken Brown, que dirigiu o estudo, desvaloriza a questão e esclarece que os financiamentos da organização são independentes dos projectos realizados e que entre os financiadores estão geralmente empresas de grande dimensão e conhecidas do mercado.



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