Ter um automóvel elétrico é cada vez mais um sonho dos portugueses. Mas o entrave à sua aquisição não se trata apenas dos (ainda) elevados preços de compra. Existem outros fatores que impedem a adoção, desde a autonomia relativamente limitada e a dificuldade em garantir o acesso aos postos de abastecimento elétrico. Estas são algumas conclusões retiradas de um estudo do Automóvel Clube de Portugal (ACP), através de um inquérito realizado a 1.500 portugueses sobre o estado da mobilidade elétrica em Portugal.

Esse mesmo inquérito refere que 78% dos condutores regulares gostariam de trocar o seu automóvel por um elétrico, mas apenas 2,22% desse universo já tinha realmente um desses veículos. Mas outros dados da ACP demonstram também que em fevereiro de 2023, pela primeira vez em Portugal, a quota mensal de elétricos comprados foi superior aos movidos a combustível diesel, como refere o Negócios, prevendo-se que este seja um grande ano para o mercado.

Veja na galeria imagens das soluções da Powerdot:

Foi exatamente neste ponto que José Maria Sacadura, Cofundador e general manager da Powerdot, salientou ao SAPO TEK. Se há alguns anos a barreira poderia ser o preço do automóvel ou as opções no mercado, “agora assistimos a uma tendência clara por parte das marcas de automóveis em eletrificar o mais rapidamente possível todas as suas gamas, alargando, assim, a oferta a todos os budgets”. Defende que tal como todas as tecnologias emergentes, a velocidade de adoção de um carro elétrico não é linear, mas a tendência é de crescimento.

Portugueses preferiam comprar um automóvel elétrico, mas os preços elevados e autonomia condicionam decisões
Portugueses preferiam comprar um automóvel elétrico, mas os preços elevados e autonomia condicionam decisões
Ver artigo

O líder da Powerdot compara a evolução dos carregamentos dos automóveis com os smartphones. No passado, não muito distante, os carregamentos eram lentos e infrequentes, mas atualmente está mais presente e integrado. Antigamente os smartphones eram um bem que apenas alguns tinham acesso e atualmente estão nas mãos de toda a gente. “Acreditamos que o veículo elétrico terá uma trajetória semelhante”, diz José Maria Sacadura.

E apesar da perceção negativa sobre o estado dos pontos de carregamento de automóveis elétricos em Portugal, quando inserido num contexto europeu, o país até ocupa o quarto lugar no Top 5 dos países com pelo menos um posto por 100 quilómetros de estrada, com uma média de 14,9. Apenas a Holanda (47,5), o Luxemburgo (34,5) e a Alemanha (19,4) estão à frente, segundo dados da Acea, dados atualmente desatualizados, referentes a setembro de 2021, mas que talvez mude um pouco a perceção atual. Para José Maria Sacadura, quando comparados com os países à nossa frente há muito espaço para crescer, não apenas em densidade, mas também em variedade de experiências e de locais de carregamento.

Powerdot
José Maria Sacadura, Cofundador e general manager da Powerdot.

“Acreditamos que existe o carregador certo para o local certo. Por outro lado, há cada vez mais novos parceiros a procurarem as nossas soluções e os atuais parceiros também já pensam em aumentar o número de pontos de carregamento nos seus parques de estacionamento”. No caso da Powerdot, a empresa diz que pretende investir 18 milhões de euros em Portugal para aumentar as opções de carregamento. A empresa registou 900 pontos de carregamento em 2022 e pretende chegar aos 1.500 em 2023.

A empresa procura explorar um conceito de carregamento de um automóvel elétrico de forma diferenciadora, utilizando aquilo que chama de “destination charging”, neste caso, o destino é também o ponto de carregamento. Para tal, a Powerdot procura estabelecer parcerias com os destinos que fazem parte das rotinas diárias dos utilizadores: supermercados, restaurantes, centros comerciais, etc. Depois de fechada a parceria, a empresa trata da instalação, operação e manutenção dos pontos de carregamento, sem custos para o parceiro, que ainda recebe uma parte das receitas. Assim, os clientes dos seus parceiros passam a ter opções de carregamento integrados nas suas rotinas diárias.

Como mudar o paradigma do “atestar” e a “ansiedade do carregamento”

Questionado sobre os preços praticados nos carregamentos, José Maria Sacadura acredita que não sejam elevados. Apenas em casos pontuais, por se tratarem de localizações premium. Por um outro lado, aponta o desconhecimento do utilizador durante o processo de carregamento: “utiliza inadequadamente as tomadas, deixa o veículo demasiado tempo a carregar”. Por ser um mercado recente, os diversos players também estão à procura de formas para otimizar os seus preços e dar a resposta necessária à procura, conjugando com a oferta.

Powerdot

E no caso da Powerdot, o objetivo é tornar o carregamento de um automóvel tão conveniente como ligar um smartphone à corrente. É por isso que tem apostado em colocar as suas soluções em locais onde os condutores passam o seu tempo, onde e quando mais precisam, sem a necessidade de se desviar do trajeto para procurar um posto de abastecimento, tal como acontece nos automóveis convencionais de combustível, “sem tempos mortos e sem a ansiedade de planear ou procurar onde carregar.

A “ansiedade da autonomia” deve ser combatida com o facto dos veículos não terem de ser totalmente carregados. A ideia é carregar nos locais onde se vai parando, seja num ginásio, farmácia, supermercado, etc.

A autonomia e o tempo de carregamento são termos que estão intrinsecamente ligados à ideia de conveniência, segundo o líder da Powerdot. E com isso, o carregamento tem de estar integrado nas rotinas dos condutores, sempre acessíveis quando necessário, sem esperas. E por isso, um simples jantar fora ou uma ida ao cinema podem transformar-se em oportunidades para carregar o automóvel. E com isso, pretende inverter o paradigma do conceito de “atestar”.

“As razões pelas quais um utilizador atesta o carro prendem-se com a incerteza de quando vai ter oportunidade de o fazer ou com a necessidade de fazer viagens de longa distância”. Considerando o carregador sempre presente, deixa de existir a tal ansiedade de “onde” e “como” carregar o veículo, no conceito de negócio da Powerdot.

Powerdot

Nos países onde opera (Portugal, Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Polónia), a Powerdot diz que se encontra numa fase de crescimento acelerado. A empresa diz que continua a investir não apenas na infraestrutura necessária, como também no desenvolvimento de produtos digitais complementares. Durante 2022 passou de 700 pontos de carregamento operacionais para 1.500 e atualmente tem mais de 7.500 pontos contratados em mais de 1.300 parceiros. E se em dezembro de 2021 registava um total de 30 colaboradores, a empresa aumentou para 100, um ano depois. Até ao final de 2023 espera contar com 180 colaboradores. A empresa diz que a adesão aos seus carregadores aumenta mensalmente, tendo registado um crescimento anual perto dos 40%.

Da mesma forma que se pretende facilitar os sistemas de carregamento, também na experiência de pagamento e preços. A Powerdot diz que trabalha com vários fabricantes de carregadores e aplicações de carregamento, trazendo rapidamente para Portugal as melhores práticas dos diferentes países onde opera.