O grupo SCO, herdeiro da propriedade intelectual relacionada com o sistema operativo Unix, instaurou uma acção legal contra a IBM exigindo o pagamento de uma indemnização superior a mil milhões de dólares e acusando a gigante de informática de se ter apropriado de uma forma incorrecta e não autorizada da sua tecnologia Unix e de a ter incorporado no Linux, informou a empresa.



O processo, submetido ontem no Terceiro Tribunal Distrital do Distrito de Salt Lake no Utah, alega que houve utilização inapropriada de segredos industriais, concorrência injusta, violação de contrato e interferência danosa no negócio da SCO. Esta produtora de software também enviou no mesmo dia uma carta à IBM ameaçando-a de revogar a sua licença de comercialização do AIX, uma versão do Unix, no prazo de 100 dias, caso as suas exigências não fossem cumpridas.



"Estamos a alegar que eles contaminaram o seu trabalho no Linux com conhecimentos inapropriados do Unix", afirmou Chris Sontag, vice-presidente sénior da divisão de sistemas operativos da SCO e responsável pela actual iniciativa da companhia de gerar fontes de receitas através da sua propriedade intelectual, em declarações à C|net.



No documento legal que serve de base ao processo, refere-se que "a IBM está afirmativamente a tomar passos para destruir todos o valor do Unix ao extrair e utilizar impropriamente a informação proprietária e confidencial que adquiriu do Unix e fornecer essa informação à comunidade open-source".



Os analistas e a comunidade open source de programadores do Linux consideraram que esta decisão consiste numa tentativa desesperada da SCO de gerar dinheiro, dado que ainda não conseguiu obter lucros desde que abandonou a designação de Caldera e adoptou o novo nome, em Agosto do ano passado. Embora a SCO não tenha processado outras companhias que distribuem produtos Linux, como a Red Hat e a SuSE, Sontag não excluiu essa hipótese.



Criada em 1994 por Raymond Noorda, fundador da Novell, e Ramson Love, também da mesma companhia, a Caldera começou por apostar no negócio do Linux. Em 2001, a Caldera adquiriu os negócios de software servidor e de serviços da Santa Cruz Operations, uma empresa especializada em Unix fundada em 1979.



No final de Janeiro, a SCO anunciou que iria criar uma divisão para expandir o licenciamento da sua propriedade intelectual, incluindo o núcleo do código fonte do Unix, chamada SCOsource. As empresas interessadas podem assim licenciar "bibliotecas" de software Unix que permitem que programas escritos para o SCO Unix corram em computadores que utilizam Linux.



A representar a SCO neste processo contra a IBM está David Boies, o advogado que prosseguiu o caso antitrust do Departamento de Justiça contra a Microsoft e que defendeu o Napster nos vários processos instaurados contra este serviço.



A origem desta divergência entre as duas companhias poderá residir numa parceria falhada chamada projecto Monterey, em que a IBM, a SCO e a extinta Sequent concordaram em criar uma versão do Unix para os processadores Itanium da Intel. A SCO partilhou conhecimentos técnicos com a IBM para esse projecto, indicando a melhor forma correr o Unix em chips Intel. Contudo, em Maio de 2001, a IBM cancelou os seus planos para o projecto Monterey. Segundo o processo, a gigante de informática deverá ter utilizado a informação obtida nesse âmbito no desenvolvimento do Linux.


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