O poder que a chamada Web 2.0 promete dar ao consumidor já está a produzir efeitos na forma de gerir as relações de trabalho e o quotidiano de cada cidadão. A prazo os efeitos desse cada vez maior poder do cidadão serão maiores e obrigará as empresas a novas formas de agir, seja na gestão dos seus empregados, seja na forma como colocam os seus produtos no mercado. A única coisa que permanece por descobrir é talvez a mais relevante: para onde nos levam as mudanças?

As constatações ficaram patentes no painel "Power to The People", esta manhã, no Congresso da APDC, mas não foi o único e que as questões dominaram a discussão. Já ontem à tarde sete representantes da indústria discutiram o impacto das mudanças na oferta de televisão, já em marcha com a introdução do IP TV, o video on demand e a possibilidade, cada vez maior de cada consumidor definir o que pretende ver.

No encontro de ontem a análise dos responsáveis visou sobretudo as implicações que essas mudanças terão no modelo de financiamento da TV, garantido pelos anunciantes presos a modelos tradicionais de publicidade canalizada para a TV e para os intervalos dos programas de maior audiência.

Fugindo o consumidor cada vez mais dos espaços publicitários e estando cada vez mais disponível para procurar os conteúdos que quer ver noutros meios para além da TV, como a Internet ou o telemóvel, debateram-se as formas que os anunciantes e os distribuidores de conteúdos de TV devem perseguir para conseguir "ir atrás deste consumidor". Entre as saídas apontadas a possibilidade de uma aposta cada vez mais associada à publicidade de conteúdos específicos e do lado dos distribuidores à produção de conteúdos próprios que diferenciem a sua oferta das restantes no mercado, já que em termos tecnológicos a generalidade dos players tem condições, para mais tarde ou mais cedo chegar a um mesmo nível.

Na discussão desta manhã os intervenientes focaram-se mais noutros impactos do poder dado ao consumidor pela tecnologia. O You Tube esteve no centro dos exemplos pela capacidade de levar a todo o mundo conteúdos que podem nunca chegar ao mainstream tradicional, mas hoje não deixa de ser visto só por isso. Um exemplo apontado foi o vídeo de Sarkozi na visita à Rússia que circulou na plataforma como piada, insinuando que o Presidente foi para a conferência de imprensa embriagado. Foi visto 60 milhões de vezes em França. Não foi exibido por qualquer canal de televisão.

Curiosamente, Paul Lee da consultora Deloitte trouxe ao encontro números que revelam o desinteresse dos consumidores num tipo de programação de conteúdos em que tivessem de assistir aos conteúdos produzidos por outros utilizadores da mesma plataforma, mostrando que a geração individual de conteúdos cresce a par com a vontade de continuar a seleccionar o que se quer ver.

Em 2020, meta que fixada para os diferentes exercícios de "futurologia" propostos na agenda do congresso, acreditam os participantes da discussão que os indícios hoje restritos a nichos abaixo dos 25 anos, claramente indicativos de uma mudança de atitude no trabalho e em casa, graças á tecnologia, essa condição terá sido abandonada e será bem maior o universo destes novos costumes. Por essa altura também as empresas já terão de ter encontrado formas de integrar melhor a tecnologia que já hoje usam.

Benoit Felten, do Yankee Group, sublinha que todas as ferramentas TI hoje disponibilizadas pelas empresas aos seus colaboradores (telefone, messenger, telemóvel, etc) estão a ser suportadas em estruturas tradicionais. Dão ao colaborador formas de estender a sua panóplia de contactos, nomeadamente para domínios fora do profissional, sem conseguir motivá-lo para que ele continue a focar-se na esfera profissional resistindo às tentações.

Para a consultora está em marcha está em marcha uma Anywere Revolution que se traduz no dom da ubiquidade proporcionado por uma Internet All IP. Para que os cidadãos tirem todo o partido desta evolução e aceitem os governos devem ser os grandes guardiões da privacidade; as empresas devem ceder à tentação do controlo total dos empregados "sempre ligados e levar a cabo a adequação dos seus modelos tradicionais a uma realidade em que todos estão sempre ligados e o público deve manter a noção que não é possível ter acesso a todos os serviços de forma gratuita.

Para o mesmo responsável o resultado destas evoluções está um mundo onde o espaço físico do emprego será cada vez mais relevante e com isso aumentará a população activa, capaz de prestar serviços a partir de qualquer lugar. As empresas terão novos canais de distribuição e garantirão poupanças e os indivíduos vão conseguir um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal e menos viagens. Uma visão que o própria assume como optimista.