Em conjunto com a Fundação Aga Khan, a Inde - Intercooperação e Desenvolvimento, uma organização não-governamental criada em 1988 que desempenha na zona da Grande Lisboa, Alentejo e também no estrangeiro - África e Europa do Leste - um conjunto de actividades de combate à exclusão - organizou uma conferência dedicada ao tema da info-exclusão que ocorreu hoje, em Lisboa, na sede da Fundação, o Centro Ismaili.



Neste encontro, foram apresentadas as conclusões do trabalho realizado pela Inde no Projecto Ágora, uma iniciativa que durante mais de ano e meio funcionou como um motor de aproximação das tecnologias da informação às populações dos bairros mais carenciados do concelho de Loures, de modo a combater a info-exclusão (ver Notícias Relacionadas).



A conferência também serviu para a partilha de experiências de projectos semelhantes realizados em Portugal e no estrangeiro, a nível das populações rurais, da cidadania digital e das minorias étnicas.



Uma posição partilhada pelos participantes foi que a luta contra a info-exclusão é um processo lento e complexo, pois como referiu Arnaud De La Tour, presidente da ONG, "o analfabetismo informático, não saber utilizar o PC, está muitas vezes ligado ao analfabetismo tout court e ao facto de as populações não terem acesso à informação, bem como à incapacidade de a difundir".



Em suma, de acordo com este responsável, "a info-exclusão não é um fenómeno exclusivo, mas cumulativo que surge associado com outros problemas de exclusão, como a pobreza, o racismo, a idade e a questão do alojamento".



A abrir a conferência esteve Nazim Ahmad, representante da Fundação Aga Khan em Portugal, que comparou o processo de acesso às novas tecnologias com o ADN, "o conjunto de instruções para cada ser vivo", para afirmar que tal como a vida não seria possível sem conhecimento, também a sociedade seria disfuncional se uma parte dela não tivesse acesso à informação. Porém, salientou, "existe um claro fosso entre a parte rica do mundo que tem conhecimento e a parte pobre que não tem acesso".



Um convidado inesperado foi o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, uma vez que não fazia parte da lista de participantes. João Soares começou por salientar que a info-exclusão "é um tema que nos interessa, a nós, autarcas, de sobremaneira". Para demonstrá-lo, referiu que o munícipio de Lisboa lançou há dois dias um novo portal do pelouro da cultural, o LisboaCultural.



Em tempo de campanha eleitoral, o autarca aproveitou também para divulgar a actividade da Câmara de Lisboa no domínio do combate à info-exclusão, em particular, a iniciativa "Navegar em Lisboa", para a qual já existe um espaço no Centro Comercial do Monumental. esta alargou esta semana a sua cobertura gográfica com um novo espaço no bairro novo de realojamento das populações que residiam na Musgueira, cujas barracas, como João Soares fez questão de frisar, foram deitadas abaixo "há mais de dois meses".



De seguida, Peter William apresentou o projecto TeleCabana, no qual desempenha as funções de gestor e que tem vindo a ser desenvolvido desde 1997 no País de Gales. Esta iniciativa organizada pela Antur Teifi - uma agência galesa de empreendorismo - consiste numa unidade móvel do tipo roulote-caravana equipada com computadores com acesso à Internet que viaja por todo o territórios galês, sobretudo, na zona rural. Nos últimos três anos, a caravana visitou 213 localidades.



O objectivo da TeleCabana, segundo Williams, é "disponibilizar informação ao mundo rural, de modo a que a população - maioritariamente composta de agricultores - possa recorrer às novas tecnologias para aumentar o seu nível de vida e a eficácia do sector agrícola". O projecto concede formação em Internet, a nível da criação de páginas Web, e facilita o acesso online através de tecnologia de banda larga, utilizando para tal redes móveis ou linhas rádio. A unidade móvel funciona 24 horas por dia e dispõe de uma equipa de 25 elementos.



A nível nacional, António Leandro, da coordenação do Aveiro Cidade Digital, referiu em breves traços o plano das actividades do programa, desde o seu surgimento há quatro anos e que foi coordenado pela Câmara Municipal de Aveiro, pela Portugal Telecom e a Universidade de Aveiro.



Durante a primeira fase do projecto, que terminou em Dezembro de 2000, foram finalizados 38 projectos na área da educação, formação em novas tecnologias para sectores especializados, saúde, serviços municipalizados e de emergência civil e médica, entre outros sectores, que custaram no total 1,15 milhões de contos.



Ana Luísa Varela, responsável pelo Infocid, expôs do seu lado as principais fases deste serviço criado em 1991, que desde 5 de Fevereiro assume o papel de portal da Administração Pública, através do Serviço Público Directo que, através do site do projecto, disponibiliza serviços públicos via Internet.



Outro tema debatido nesta conferência foi a questão do acesso às tecnologias da informação pelos deficientes, minorias étnicas e mulheres, os critérios de avaliação de uma iniciativa de combate à info-exclusão. Uma questão muito debatida foi o papel que o cidadão digital deve adoptar. Segundo Ana Varela, "o cidadão dos serviços online da administração pública deve ser um parceiro activo e não apenas um mero consumidor de informação".



Os participantes alertaram também para o perigo da "retórica associada às novas tecnologias", uma vez que a Internet poderá ser muito útil na redução da exclusão social, mas não é uma "solução milagrosa para todos os problemas das populações desfavorecidas".


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