O estudo não é o primeiro a apontar uma situação que também está longe de ser única em Portugal: os jovens passam cada vez mais tempo ligados à Internet, através de vários dispositivos e mostram sinais de grande dependência.

Os investigadores da Unidade de Intervenção em Psicologia do ISPA – Instituto Universitário acompanharam durante dois anos cerca de 900 jovens e adolescentes dos 14 aos 25 anos, num estudo que teve três fases de aplicação de questionários.

O retrato obtido revela que a dependência da Internet é generalizada, como adianta Ivone Patrão, coordenadora do estudo, ao Público.

Os investigadores do ISPA também apontaram componentes-chave para identificar os casos de dependência da Internet, traçando um retrato-tipo do jovem viciado no mundo online. O grau elevado de importância conferido ao computador ou aos dispositivos móveis, sintomas de tolerância face ao uso, sintomas de abstinência face ao não uso (como irritabilidade, dores cabeça, agitação e por vezes agressividade) e, em casos mais extremos, recaída face às tentativas sucessivas para parar.

Segundo o estudo há quase três quartos (73,3%) dos jovens que apresentam sintomas de vicio da Internet. Destes, 13% apresentam níveis severos de dependência, que se manifestam através dos comportamentos mais extremos descritos pelos pais.

Os próprios jovens parecem ter dos níveis de dependência, uma vez que mais de metade (52,1%) dos inquiridos se percepcionam como “dependentes da Internet”.

Em termos de perfil o estudo indica que os jovens dependentes são sobretudo do sexo masculino, não têm relacionamento amoroso e frequentam o ensino secundário.

O isolamento e a depressão são sintomas identificados pela equipa do ISPA no estudo, sendo que cerca de 22%dos inquiridos apresentam elevados níveis de isolamento social, que pode não ser associada ao isolamento emocional, como explica Ivone Patrão. Os jovens encontram nas conversas e nos encontros online um escape, satisfazendo necessidades de contacto com outros jovens na Internet.

Rosário Carmona, da Cadin, adianta ao jornal que esta dependência da Internet "não é causa, mas consequência”, diz. E refere que quando um adolescente fica deprimido, por força de algum episódio escolar ou familiar, por exemplo, está a conseguir encontrar nas novas tecnologias um refúgio.

Esta especialista não acredita que a solução possa passar por retirar o computador aos jovens ou limitar-lhes o acesso. “O uso excessivo da Internet está a suprir uma outra necessidade do jovem. Se lhe tiramos o computador, ele fica no vazio. É preciso fazê-lo ganhar o gosto por actividades alternativas, antes de diminuir o tempo online”, defende a psicóloga.

Em alguns países, como a Coreia do Sul, desenvolvem-se já programas de controle da dependência na Internet, mas em Portugal não há ainda iniciativas semelhantes.

Ivone Patrão defende que é importante intervir do ponto de vista preventivo. Cada vez mais os adolescentes estão entregues a si próprios no uso do computador e há necessidade de educar os jovens para a forma como podem fazer um uso saudável destes dispositivos, admite a investigadora.


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