Nem só de chocolate se fazem os ovos da Páscoa. No universo do software, os Easter eggs são feitos de bits, pixeis e criatividade. Sabia que se procurar por "Atari breakout" no Google Imagens, a janela do seu browser vai transformar-se numa sessão do popular jogo de 1976? É disto que falamos: pequenos tesouros secretos, inteligentemente escondidos em jogos, sites, programas e vídeos.
Em 1979, quando Warren Robinett assinou o seu nome num dos níveis de Adventure, o designer de gráficos interativos tinha apenas um objetivo: deixar uma marca visível num produto que sairia para as lojas apenas com "Atari" como nome de autor. Na altura, como o próprio já assumiu em entrevista, foi um ato de rebelião, "uma forma de passar a perna aos 'big guys' da corporação" e assinar uma obra, tal como todos os artistas têm a oportunidade de fazer com as suas criações.
Para o fazer, Robinett criou um quarto escondido, longe do trajeto comum da personagem, cujo acesso só é desbloqueado mediante a execução de uma série de passos muito específicos. Nas paredes, lia-se a mensagem "Criado por Warren Robinett". O designer não o revelou a ninguém e o Easter egg só foi descoberto mais tarde, por um jogador norte-americano de 15 anos.
Depois disto, a mensagem espalhou-se pelo meio, e quando o grande público ficou a saber que existia uma frase escondida num dos jogos que já tinham completado, voltaram atrás para caçar aquilo que se denominava por "segredo". O estúdio nipónico ficou agradado com as consequências comercias do ato e os restantes profissionais da indústria, atraídos pela hipótese de se eternizarem nos jogos que deixavam os louros para as grandes empresas do sector.
O truque popularizou-se e tornou-se num ato comum a quase todos os conteúdos interativos que aterram no universo digital. O propósito, contudo, alterou-se. Com a introdução dos créditos, das fichas técnicas e dos detalhes nas caixas que acomodam os videojogos, os criadores dos mesmos passaram a recorrer aos Easter eggs para deixar referências e esconder novas funcionalidades que dão à comunidade de jogadores uma nova razão para analisar todos os cantos mais recônditos destas aventuras interativas.
Com o tempo, a prática tornou-se transversal a vários sectores tecnológicos, e alguns dos exemplos vivem no seu bolso. Principalmente se tiver um smartphone Android. Cada uma das versões do sistema operativo móvel conta com um Easter egg muito particular a que pode aceder através das Definições do equipamento. Neste menu, deve seguir a opção "Acerca do dispositivo" e clicar, em seguida, várias vezes na "Versão Android". Se tiver a versão Lollipop, vai ser transportado para esta edição temática do jogo Flappy Bird, em que um pequeno Android toma o lugar do pássaro amarelo que dominou as lojas de aplicações no verão de 2013.
Mas as referências, nestes casos, não se cingem apenas a referências pop e auto-promoções. Em Cupertino, casa da Apple, desenhou-se um Easter egg que marca as raízes da empresa num ícone de aplicação. "Here's to the crazy ones" é o nome do discurso gravado na imagem do TextEdit. O texto foi narrado por Richard Dreyfus numa campanha publicitária dos anos 90 que nunca chegou a ser transmitida.
Apesar da diversidade de exemplos que existem nos segmentos alheios aos videojogos, é exatamente nesse sector que habitam a maior parte dos casos. Só em GTA V já foram encontrados mais de 30 Easter eggs, que vão desde referências subliminares a outros jogos até missões secretas que reproduzem enredos de filmes bem conhecidos e um caso bizarro que pode ser resolvido com a ajuda de pistas discretas deixadas em todo o mapa.
Exemplos mais bizarros incluem um caso que se revela num jogo de 2006, Hitman: Blood Money. Numa das missões, que tem lugar perto de uma mansão, se levar o personagem para um canto específico e disparar para o chão, é evocado um grupo de homens de toalha à cintura, que o rodeia para aplaudir.
É quase certo que haja um Easter egg para descobrir no jogo que está a jogar, no site que está a ler, ou até no seu próprio smartphone. Hoje é uma forma de aludir a um certo universo, cultura ou estória, ou, no caso dos jogos, uma forma de interagir com os jogadores e de criar uma outra dimensão na aventura. O resultado, regra geral, não é apenas comercial, mas também comunitário. Online criaram-se comunidades inteiras em torno do tema.
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