A indústria musical tem andado "a fazer disparates" relativamente aos direitos de autor, na opinião de David Ferreira, um dos principais rostos do sector discográfico nacional. A observação foi feita durante um debate recente sobre propriedade intelectual, no Porto, que reuniu vários especialistas em redor do tema.

David Ferreira, que trabalhou na EMI e na Valentim de Carvalho, defendeu ser necessária uma maior protecção do Estado relativamente aos direitos de autor e considera que é necessário responsabilizar os fornecedores de acesso à Internet, que têm lucrado com a possibilidade de fazer o download de conteúdos sem autorização dos autores.

Por outro lado aponta algumas lacunas às políticas que têm vindo a ser adoptadas. "O DRM foi um aborto", disse David Ferreira, citado pelo jornal Público, afirmando ainda que a indústria musical é como "a tribo de Astérix a quem o céu caiu em cima da cabeça".

Marcando igualmente presença no debate, Agnès Tricoire, especialista em direitos de autor, criticou aquilo que denomina como "a nova retórica do equilíbrio entre o autor e o cibernauta", que passa por "dizer que o cibernauta que encontra uma obra na Internet tem direito a descarregá-la e transformá-la na sua própria obra, sem que o autor original possa dizer nada", afirmou.

Tricoire é uma defensora dos direitos de autor, mas opôs-se activamente à polémica lei Hadopi. Para a advogada francesa, uma lei, ao privar as pessoas da liberdade de acederem à informação, está muito longe de ser a solução.

À margem do debate, Tricoire disse ao Público que acredita ser possível fazer com que as pessoas paguem para ouvir música ou para ver filmes em vez de os descarregarem gratuitamente. O necessário, defendeu, é "educar", colocar "o público e os autores em harmonia" e resolver um problema que "é político".

O debate trouxe ainda ao Porto o académico holandês Joost Smiers, um especialista que defende "um mundo sem copyright". Smiers argumenta que a existência de empresas de enorme dimensão no mundo cultural, como as grandes editoras, rouba espaço aos pequenos artistas e que o mercado funcionaria melhor sem copyright e com a possibilidade de integrar uma maior diversidade de produção cultural.