As dotcom estão a optar por modelos de negócio nos quais preferem ter um pequeno número de visitantes a pagar para aceder aos conteúdos em vez de priveligiarem uma audiência de massa que acabe por ser "rentabilizada" através da publicidade, uma consequência do fraco investimento actual do mercado de anunciantes.
Esta tendência está a contagiar a Europa, onde o The Times anunciou ontem esta decisão, depois de muitos portais tomarem esta opção nos Estados Unidos, e já se começou a sentir o seu efeito em Portugal.



Apesar disso, os analistas defendem que os conteúdos online gratuitos não desaparecerão, dado que a maior parte dos sites da Web com um modelo de negócio assente em subscrições continuam a garantir o acesso gratuito e livre a alguns dos seus conteúdos.



"Supôs-se sempre que se iria ter sempre acesso gratuito a quase tudo por apenas um preço básico de admissão. É provável que deixe de ser assim a partir de agora", afirmou à Associated Press Lee Rainie, director do Pew Internet & American Life Project, um projecto que dedica a estudar as tendências dos cibernautas norte-americanos.



Segundo Charlie Fink, presidente da AmericanGreetings.com - empresa que começou a disponibilizar serviços pagos no final do ano passado, citado pela mesma agência, "o material que tem realmente algum valor terá que começar a ser pago".



Esta mudança de atitude deve-se em grande parte à crise económica iniciada em 2000 que levou a que as vendas de publicidade online diminuíssem exponencialmente e a que os capitalistas de risco perdessem a vontade de investir em empresas relacionadas com a Internet.



Hoje em dia sites de todas as dimensões estão a pedir aos seus utilizadores que paguem uma determinada quantia para os "apoiar". Tanto grandes portais como o Yahoo! - que conta actualmente com 25 serviços de subscrição, como sites geridos por uma só pessoa, como o Thepaperboy.com, um portal australiano de notícias detido por Ian Duckworth e que introduziu uma assinatura de 2,95 dólares (3,34 euros) em Setembro, esperando atrair 50 subscritores por mês.



Exemplos de sucesso na área dos conteúdos pagos são o Wall Street Journal Online e a Playboy.com. O jornal financeiro conta com 625 mil subscritores que pagam uma anuidade entre 29 e 59 dólares (entre 32,8 euros e 66,8 euros) dependendo se têm ou não uma assinatura impressa do jornal, enquanto o site de conteúdos para adultos regista actualmente 114 mil assinantes que pagam entre 10 e 69 dólares (enter 11,3 e 78 euros).



Para a American Greetings, levou apenas três meses para criar o site da Web com a maior base de subscrições pagas. Desde Dezembro, altura em que começou a cobrar 11,95 dólares (13,53 euros) para poder visitar os seus sites de postais mais populares - o AmericanGreetings.com, BlueMountain.com and eGreetings.com - esta empresa registou quase um milhão de assinantes.

Em simultâneo, a American Greetings continua a oferecer postais gratuitos em dois sites controlados por si, o BeatGreets.com e o PassItAround.com, sendo que nenhum dos dois oferece a mesma qualidade.



Esta companhia é uma das seis redes online que contam pelo menos com 500 mil assinantes, um feito que apenas dois sites, a ConsumerReports.org e a edição online do Wall Street Journal proclamavam ter atingido há um ano atrás. Desde que anunciou as taxas, o tráfego nos sites da American Greetings diminuiu em cerca de 30 por cento, à medida que os cibernautas se voltam para os postais gratuitos oferecidos pelo Yahoo! e a Hallmark.com, indicou Fink. Até ao final do ano, esta companhia espera ter pelo menos 3 milhões de assinantes.



Depois de ter criado uma das maiores audiências da Web em grande parte à base de funcionalidades gratuitas, o Yahoo! está actualmente a apostar nos serviços pagos (veja Notícias Relacionadas). Em 2004, o portal espera que as subscrições representem metade da sua facturação. No ano passado, as receitas do Yahoo! foram de 717 milhões de dólares (812,37 milhões de euros).
Por seu lado, a ConsumerReports.org conta com mais de 800 mil subscritores, a maior parte dos quais pagam 24 dólares (27,19 euros) por ano para ter acesso à edição online da revista de defesa dos direitos de consumidor. A RealNetworks está também a vender assinaturas mensais de 9,95 dólares (11,27 euros) para o seu serviço de vídeo online. Fornecedores externos, como a CNN, estão a utilizar o software RealOne SuperPass para vender conteúdos.



Dois outros sites da Web, o MyFamily.com e o Netflix.com - também afirmam que possuem 500 mil assinantes. Quem também introduziu serviços pagos de conteúdos especiais foi a publicação online Salon, que estava à beira da falência. Durante o primeiro ano em que cobrou uma taxa, conseguiu obter 33 mil subscritores, tendo estes a hipótese de pagar 30 dólares por ano (34 euros) ou 6 dólares (6,79 euros) por mês. A empresa responsável pela Salon prevê que as assinaturas representem receitas no valor de um milhão de dólares (1,13 milhões de euros).



Mas esta tendência parece estar também a chegar em força à Europa. A demonstrá-lo está o facto de o jornal britânico Times ter anunciado ontem, segundo o concorrente Guardian, uma novo conjunto de serviços pagos para os conteúdos que disponibiliza via Web. O periódico pretende também começar a cobrar pelos visitantes estrangeiros que pretendam aceder ao site e afirma que possui tecnologia para detectar com 90 por cento de rigor o país onde o utilizador se encontra.



Esta decisão vem no seguimento do grupo Pearsons - proprietário do jornal - ter revelado no início deste mês que pretende começar a cobrar 100 libras (161,52 euros) para aceder a partes do site do diário financeiro Financial Times. O Times Online irá, contudo, introduzir taxas separadas para serviços online específicos.



O jornal já cobra actualmente assinaturas pela sua secção de palavras cruzadas e pelo acesso aos seus arquivos e dentro em breve irá começar a cobrar pelo acesso a relatórios legais e à secção especial do Campeonato do Mundo de Futebol. Prevê-se que outros sites de jornais, muitos dos quais já efectuaram experiências com conteúdos pagos, adoptem a mesma estratégia ainda durante este ano.



Em Portugal, os conteúdos pagos também começam a ganhar adeptos. O portal IOL tomou um passo intermédio no início de Março ao condicionar entre as 20 e as 8 horas o acesso a parte dos seus conteúdos a cibernautas que não se liguem à Internet através do ISP do grupo. As homepages dos vários sites associados ao portal, com os respectivos títulos, mantêm-se disponíveis, mas o acesso aos links está vedado. A entrada nos sites das publicações do grupo estará igualmente impedida - como é o caso do Diário Económico, da Rádio Comercial e de parte dos conteúdos da TVI.



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